Ritmo de ajuste da Selic pode diminuir, diz Copom
Agência Brasil
Ritmo de ajuste da Selic pode diminuir, diz Copom

Como previsto pela maioria dos analistas de mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros, a Selic, de 11,75% para 12,75% ao ano na quarta-feira.

Foi a décima alta seguida desde março de 2021, quando o cenário era muito diferente: os juros estavam no patamar mais baixo da história, em 2%. Agora, os juros são os mais altos desde fevereiro de 2017.

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Pouco antes da decisão do BC, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, deu início a uma fase mais severa do seu processo de aperto monetário ao elevar em 0,50 ponto percentual as taxas de juros, para o intervalo entre 0,75% e 1%. É o maior aumento nas taxas de juros desde 2000 e a segunda alta consecutiva.

A decisão do banco central americano tem como objetivo combater a inflação nos EUA, mas tem repercussões no mundo inteiro, inclusive no Brasil. As consequências podem atrapalhar ainda mais o crescimento da economia brasileira, cujas projeções de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano estão abaixo de 1%.

Veja cinco efeitos da alta dos juros nos EUA e no Brasil que podem chegar ao seu bolso.

1 - Fuga de capitais atrapalha Bolsa e empresas

Com a economia global cercada por incertezas agravadas pela guerra na Ucrânia e os novos surtos de Covid na China, a alta dos juros nos Estados Unidos torna os títulos do Tesouro americano mais atraentes para investidores globais em busca de maior segurança.

A redução do apetite por investimentos de maior risco em economias emergentes e o Brasil deve ser um dos mais afetados. Os efeitos já são sentidos na fuga de capitais estrangeiros da Bolsa de São Paulo, a B3.

Após um primeiro trimestre de forte entrada, o fluxo de recursos estrangeiros na Bolsa inverteu a mão em abril. No segmento secundário, aquele com ações já listadas, o saldo líquido ficou negativo em R$ 7,677 bilhões, segundo dados divulgados pela B3.

Com menos investidores na Bolsa brasileira, fica mais dificil a valorização de ações no mercado brasileiro, bem como a oferta de novos papéis pelas empresas. Muitas estão adiando projetos que seriam financiados por recursos levantados em ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) de ações porque tiveram que adiar a estreia na Bolsa.

Analistas avaliam que este pode ser o primeiro ano em duas décadas sem nenhuma estreia na Bolsa. No ano passado, 44 companhias brasileiras abriram capital. Empresas de capital fechado também ficam com mais dificuldades de captar recursos no exterior.

2 - Juros altos dificultam geração de empregos

Com mais dificuldades para captar recursos estrangeiros, as empresas também veem outra alternativa de financiamento de novos projetos ficar mais difícil. Os juros mais altos no Brasil dificultam o crédito para empresas investirem em expansões ou novas fábricas e estabelecimentos.

Ao elevar a Selic, o objetivo do Banco Central é desestimular o consumo das pessoas e das empresas com o crédito mais caro. No entanto, isso acaba levando as companhias a adiar despesas com novos projetos e a contratação de mais funcionários.

Com a manutenção da alta taxa de desemprego, fica mais difícil para os que estão empregados conseguirem reajustes salariais mais altos para compensar as perdas com a inflação de dois dígitos.

3 - Selic mais alta dificulta o crédito e o consumo

Tomar dinheiro emprestado fica mais caro não só para as empresas, mas também para as pessoas físicas. Assim, fica mais difícil fazer compras parceladas de produtos nas lojas.

As taxas dos empréstimos pessoais de curto e de longo prazo nos bancos tendem a subir, acompanhando a Selic. Assim, pegar dinheiro emprestado no crédito consignado ou tomar um financiamento para comprar um carro ou imóvel vai ficar mais caro.

Para os brasileiros que já estão endividados, fica mais difícil rolar dívidas. Muita gente toma empréstimos pessoais para quitar dívidas mais caras, como as do rotativo do cartão de crédito. Essa estratégia vai ficar mais custosa agora.

Atualmente, quase 80% dos brasileiros têm alguma dívida. Em quase 30% das famílias há parcelas atrasadas, segundo a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência.

Com menos dinheiro em circulação por causa do crédito mais caro, a tendência é que as pessoas consumam menos. E o efeito disso nas vendas das empresas é outro fator desestimulante a novos investimentos e contratações.

4 - Dólar tende a subir e pressionar mais a inflação

O maior interesse de investidores internacionais pelos títulos do Tesouro americano levam ao maior fluxo de capitais para os Estados Unidos. Para entrar no mercado americano, esses investidores precisam de dólares.

Esse movimento tende a valorizar o dólar perante as outras moedas do planeta. As divisas de países em desenvolvimento, como o Brasil, tendem a serem mais penalizadas porque as perspectivas negativas de suas economias agravam a redução natural da entrada de dólares em seus mercados.

Com isso, é possível que o dólar volte a subir no Brasil até o fim deste ano, que tem um fator a mais de instabilidade no Brasil: as eleições.

Como vários preços de itens básicos são cotados em dólares no mercado internacional — principalmente combustíveis e alimentos —, a pressão no câmbio pode alimentar a inflação e dificultar ainda mais o combate dela pelo BC com a alta dos juros. Isso pode significar maior perda no poder de compra dos brasileiros.

Segundo boletim Focus, que reúne as projeções de mercado, as expectativas de inflação subiram de 6,86% neste ano, no relatório divulgado em 28 de março, para 7,65% na semana passada.

A expectativa, assim, é que a inflação encerre 2022 acima do dobro da meta oficial da inflação para o ano, de 3,5%.

Caso seja confirmado, 2022 será o segundo ano seguido em que o Banco Central não consegue cumprir a meta de inflação.

5 - Juro alto favorece aplicações em renda fixa

A alta da Selic para 12,75%, maior patamar em mais de cinco anos, reforça a tendência de valorização das aplicações em renda fixa. Se você tem dinheiro para investir, vai pensar duas vezes na hora de escolher entre ações e aplicações como títulos do Tesouro Nacional, por exemplo.

Enquanto a Bolsa sofre com a saída de investidores estrangeiros e o cenário instável, os títulos de renda fixa vão oferecer ganhos mais altos.

As opções na hora de investir são variadas, vão do Tesouro Selic aos fundos multimercados, que permitem que o gestor aplique em diferentes classes de ativos, como renda fixa e variável.A escolha de onde alocar seu dinheiro deve ser feita com base no seu perfil de risco e prazo para resgatar os recursos.

Quando se olha para os fundos de renda fixa DI, a estimativa é que a maior parte deles tenha rendimento superior ao da poupança, mesmo com taxas de administração acima dos 2,5%.

O estrategista de Investimentos do Santander, Arley Junior, destaca que os investimentos em renda fixa pós-fixados, que acompanham a taxa básica de juros, como o Tesouro Selic, tendem a se beneficiar do ponto de vista da rentabilidade.

A chefe de economia da Rico, Rachel de Sá, também ressalta que o Tesouro Selic e os fundos DI são boas opções para aqueles que querem fazer uma reserva de emergência.

Já para quem pensa em investimentos de médio prazo, os títulos atrelados à inflação, que pagam a inflação do período mais uma taxa de juros, como o Tesouro IPCA +, podem ser uma opção.

Com a elevação da Selic para 12,75%, os fundos de renda fixa DI continuam a se destacar ante a caderneta de poupança.

Segundo estimativas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), as aplicações nesses fundos, em alguns casos, chegam a ter desempenho melhor que a poupança até com taxa de 3% ao ano.

Vale lembrar que desde dezembro foi alterado o cálculo do rendimento da poupança. No atual cenário, o rendimento é de 0,5% ao mês mais a TR. Em 12 meses com a taxa nesse patamar, o rendimento gira em torno de 6,17% ao ano mais a TR.

O Ibovespa, principal índice da B3, até começou o ano com desempenho superior ao de pares internacionais, mas já está perto de zerar seus ganhos. No enanto, segundo os analistas, não é preciso fugir totalmente da Bolsa.

Para quem aceita correr mais riscos, há empresas com bom desempenho e que estão precificadas abaixo dos seus fundamentos devido à deterioração do cenário macroeconômico.

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