O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) instaurou na segunda-feira (11) um processo investigatório para averiguar as campanhas de redes sociais cuja contratação é atribuída ao iFood . O objetivo é identificar a autoria das campanhas e se elas violam o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária.
O aplicativo teria contratado duas agências para fazer peças que desmobilizassem, sem deixar claro que se tratava de uma campanha, movimentos de entregadores que reivindicavam aumento das taxas repassadas pelo app e melhorias nas condições de trabalho.
As empresas seriam a Benjamin Comunicação, que tem como sócio o marqueteiro Lula Guimarães, que atuou na campanha de Geraldo Alckmin à presidência em 2018 e de João Doria à prefeitura de São Paulo em 2016; e a Social Qi, de Roberto Marques, que já trabalhou para Doria e tem entre seus clientes o Corinthians. O caso foi revelado pela Agência Pública.
Entre no canal do Brasil Econômico no Telegram e fique por dentro de todas as notícias do dia
De acordo com o presidente do Conar, João Luiz Faria Netto, a Câmara de Ética do conselho é que fará a investigação e deve definir se as ações de comunicação podem ser enquadradas como propaganda e se houve irregularidade.
Em seguida, poderá haver um processo a ser julgado por uma das câmaras do Conar. As sanções possíveis são advertência, alteração da campanha ou suspensão do anúncio. Todo o processo costuma durar entre 30 e 60 dias, de acordo com Faria Netto.
A estratégia do aplicativo de delivery teria ainda, de acordo com a reportagem da Pública, infiltrado uma pessoa num protesto para desviar a atenção da pauta principal. A agência diz ter tido acesso a documentos, fotos e relatos que provariam que as duas agências de comunicação atuavam a serviço do iFood para monitorar movimentos grevistas de entregadores por meses.
Campanhas virtuais e mediação de críticas
As agências teriam produzido campanhas virtuais para circular conteúdos contrários a paralisações da categoria, além de mediar críticas feitas ao iFood numa ação que teria envolvido a criação dos perfis “Não Breca Meu Trampo” e “Garfo na Caveira” e mais oito perfis falsos nas redes sociais. As páginas postavam conteúdo com vícios de linguagem que buscavam imitar jargões dos entregadores de delivery.
Leia Também
Após a repercussão do caso, o iFood chegou a afirmar que encerrou o contrato com a Benjamin Comunicação e que nunca contratou a Social Qi. Em nota, disse que contratou consultoria especializada para investigar se houve violação do seu código de conduta e ética por funcionários e fornecedores.
A empresa afirmou ainda que “nunca atuou ou autorizou fornecedores ou funcionários a atuarem para desmobilizar manifestações de entregadores, e nunca bloqueou as contas de manifestantes”. Também negou ter criado perfis falsos ou distribuído notícias inverídicas nas redes sociais.
Diligências da CPI dos Aplicativos
Nesta terça-feira, vereadores de São Paulo que são membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Aplicativos instaurada pela Câmara Municipal fizeram diligências na sede do iFood em Osasco.
Ao GLOBO, o presidente da CPI, Adilson Amadeu (União Brasil) afirma que as duas agências que teriam sido contratadas pelo iFood serão convidadas na próxima semana a depor na comissão. - Se elas se recusarem, serão posteriormente convocadas para esclarecer os fatos.
O presidente do iFood diz que se coloca à disposição para prestar esclarecimentos e que a empresa não tem (mais) contrato com nenhuma das agências - diz Amadeu.
A CPI foi instaurada para apurar se há sonegação de ISS por parte das empresas e verificar a situação trabalhista de entregadores que trabalham para os aplicativos na capital paulista e investiga, além do iFood, empresas como Uber, 99, Indriver, Loggi e Rappi.
Sobre a questão do Conar, o IFood ainda não foi notificado e segue à disposição para prestar os devidos esclarecimentos ao órgão. Com relação à CPI, a empresa prestou os devidos esclarecimentos feitos pelos parlamentares e segue à disposição para colaborar com a comissão.