A greve dos servidores do Banco Central está afetando a divulgação de relatórios importantes, como de estatísticas fiscais e de crédito, além do boletim Focus, que compila as principais projeções de mercado. Para analistas, esse apagão de dados pode afetar a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), agendada para maio.
Em outra frente, a mobilização de servidores das carreiras de Orçamento e Planejamento pode afetar a execução orçamentária deste ano e a entrega do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para 2023, que precisa ser enviado ao Congresso até o dia 15 de abril. Procurado, o Ministério da Economia ainda não se posicionou a respeito dessa mobilização.
No Banco Central, a greve dos servidores tem atrasado a entrega de relatórios. Esta é a segunda semana sem o boletim Focus. Também pode ser afetada a divulgação do IBC-Br, considerado uma prévia do PIB, que estava prevista para esta quinta-feira. Não foram entregues os relatórios de estatísticas fiscais, de crédito e do setor externo.
"Temos algumas dificuldades localizadas, mas ainda não entendo que tenha um risco sistêmico para o mercado financeiro. O que preocupa é a realização da reunião do Copom, que pode ser afetada, e está marcada para 3 e 4 de maio", diz Simone Pasianotto, economista chefe da Reag Investimentos.
Para a economista-chefe para América Latina da Coface, Patrícia Krause, a falta de divulgação do boletim Focus é um ponto negativo, mas muitas empresas conseguem buscar outras fontes importantes que também compilam esses dados. A situação do Copom é mais preocupante:
"Um ponto de atenção é a próxima reunião do Copom. Ainda tem tempo, é em maio, mas na ata de cada decisão são consideradas as estimativas de evolução do boletim Focus".
Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos, alerta para o risco da falta de dados na próxima reunião do Copom:
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"Entendo que os servidores vão boicotar (os relatórios) para deixar a reunião do Copom a mais fraca possível. O trabalho do BC não é facil, subir os juros não está resolvendo. A inflação para esse ano deve ser maior de 8%, porque é do lado da oferta. Pouco adianta o BC aumentar juros, não vai fazer a gasolina ficar mais barata, por exemplo".
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O coordenador de economia da Genial Investimentos, Yihao Lin, diz que o maior prejudicado com a greve dos servidores é o próprio Banco Central, porque usa as expectativas do Focus para a trajetória da inflação para elevar ou não a taxa básica de juros. Para ele, o maior impacto será na a divulgação de outros dados, que afetam as expectativas de mercado.
"Para curto prazo, a ausência de boletim Focus não tem impacto de fazer o mercado ficar sem norte", explica.
"Dado os choques e as leituras mais fortes de inflação, a expectativa pode ter um salto significativo quando o Focus voltar a ser divulgado e isso pode impactar negativamente as projeções, uma vez que você vê expectativas de mais longo prazo da inflação mais elevadas e isso contamina as dinâmicas de ancoragem das expectativas e pode tornar o processo de convergência da inflação para o centro da meta uma tarefa mais difícil para o BC, e isso no fim tem que ser refletido em mais aumentos na taxa de juros".
Nesse caso, o papel do BC de foward guidance fica afetado, porque com os choques inflacionários, o mercado já está precificando uma taxa de juros mais elevada em 2022 e a inflação ainda mais acima da meta, o que vai complicar a ancoragem para 2023.