Diante do anúncio do ex-secretário de Petróleo do Ministério de Minas e Energia, José Mauro Ferreira Coelho, para a presidência da Petrobras, os papéis da estatal nos Estados Unidos apresentaram leve alta na negociação após o fechamento de mercado.
As ADRs da companhia — recibos de ações negociados nos EUA —, que haviam fechado o dia com queda de 0,87%, subiram depois 0,14%.
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Samuel Chagas, assessor da 3A Investimentos, diz que é cedo para calcular o impacto do anúncio no mercado financeiro. Apesar de considerar Adriano Pires como um candidato mais bem preparado, opina que Coelho tem o mínimo de sustentação técnica, diferentemente do General Silva e Luna.
"O que mais causa problema no mercado de negócios é a incerteza. Ter dado uma definição agora já é positivo", acrescenta.
No Brasil, o mercado fechou ainda na expectativa do anúncio de um novo nome para a principal cadeira da Petrobras. Diante também da queda de mais de 5% no preço do barril de petróleo Brent, as ações ordinárias da estatal (PETR3) subiram 0,32% e as preferenciais (PETR4) caíram 0,09% na Bolsa de São Paulo.
Dúvida sobre posicionamento
Pouco se sabe ainda sobre o mais novo indicado. Coelho é presidente do Conselho de Administração da PPSA, estatal que cuida da comercialização de óleo e gás que o governo tem direito em contratos do pré-sal, e já foi secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia.
Ainda não é claro o seu posicionamento sobre a política de preços adotada atualmente pela Petrobras, com base em paridade internacional.
Segundo a colunista do GLOBO Miriam Leitão, durante o período em que atuou na Empresa de Pesquisa Energética (EPE), durante o governo Lula, o José Mauro Coelho ajudou a concretizar a mudança do modelo de exploração de petróleo para o formato de partilha. A alteração foi fortemente criticada pelo setor por mudar regras já consolidadas.
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Para Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, a reação dos investidores não deve ser tão negativa como quando um militar foi indicado para ocupar o cargo. No entanto, pelo histórico de experiências no setor público, avalia que Coelho pode estar mais suscetível a influências de Bolsonaro para mudar a política dos combustíveis.
"Acho que Pires era alguém mais técnico, que agradaria mais ao mercado. Precisamos entender o que Coelho pensa da Política de Paridade Internacional", opina.
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, sugere que o novo indicado é um nome que não anima o mercado:
"É alguém que já participou do governo e, por divergências, acabou saindo. Talvez seja alguém que consiga dar um direcionamento para a empresa que não fuja do controle do Estado. Então, as ADRs não trazem grande reflexo. Se a gente pensar, temos eleição ali na frente. Até onde esse novo presidente vai ficar na Petrobras?"
Solução doméstica
O economista Álvaro Bandeira, por sua vez, acredita que o mercado vá receber bem o nome, por ser uma pessoa com experiência no ramo e sem conflito de interesses. Apesar disso, afirma que é negativo para a imagem da estatal ter tantas trocas de comando num período tão curto.
Sobre a indicação de Marcio Andrade Weber, que já é conselheiro da estatal, para a presidência do Conselho de Administração da empresa, avalia que "a mensagem é de continuidade".
Marco Saravalle, sócio do SaraInvest, tem posição semelhante:
"Acho que eles devem ser bem recebidos pelo mercado. São dois nomes bem ligados à parte estatal, mas o importante é ter uma leitura de que são pessoas técnicas, capazes e que vão respeitar a governança. O mais difícil era atender os pré-requisitos para ocupar essas posições."