Chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, em discurso
Reprodução/Twitter Olaf Scholz
Chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, em discurso

A Alemanha deu o primeiro passo para implementar um plano de emergência para gerenciar o fornecimento de gás na maior economia da Europa, medida sem precedentes que pode levar o governo a racionar energia caso haja um corte de gás russo.

O anúncio é o sinal mais claro até agora de que a União Europeia está se preparando para que Moscou corte o fornecimento para a região depois que o presidente Vladimir Putin exigiu que a Europa e os Estados Unidos pagassem as exportações de gás em rublos.

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Essa demanda, que foi rejeitada pelos países do G7, é uma retaliação ao Ocidente por impor sanções à Rússia por sua invasão da Ucrânia.

Moscou não disse quando a mudança de moeda entrará em vigor, mas espera-se que revele seus planos de pagamentos em rublos na quinta-feira. O principal legislador da Rússia alertou, nesta quarta-feira, que as exportações de petróleo, grãos, metais, fertilizantes, carvão e madeira também poderão em breve ter que ser pagas em rublos.

Os preços do gás na Europa subiram até 15% após o anúncio alemão, mas voltaram a cair, já que o Kremlin disse que levaria tempo até que as empresas precisassem pagar em rublos.

A Alemanha, que depende da Rússia para mais de 50% de seu gás natural, iniciou a primeira das três fases do plano, sinalizando que há sérios sinais de que a situação do fornecimento pode se deteriorar, disse o ministro da Economia, Robert Habeck.

Com uma crise potencial se aproximando, Habeck ativou a 'fase de alerta precoce' do plano de emergência, o que significa que uma força-tarefa formada por representantes do Ministério da Economia, do regulador e do setor privado monitorará diariamente, as importações, o consumo e os estoques de gás.

Em uma entrevista coletiva, Habeck disse que o fornecimento de gás da Alemanha está protegido por enquanto, mas pediu aos consumidores e empresas que reduzam o consumo, dizendo que "cada quilowatt-hora conta".

— Devemos aumentar as medidas de precaução para estarmos preparados para uma escalada por parte da Rússia. Com a declaração do nível de alerta precoce, uma equipe de crise foi convocada — informou o ministro alemão.

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Caso os suprimentos fiquem aquém, o regulador de rede da Alemanha pode racionar o fornecimento de gás, com a indústria sendo a primeira na fila a sofrer cortes.  O tratamento preferencial seria dado a residências particulares, hospitais e outras instituições críticas. As indústrias alemãs, de aço a produtos químicos, fechariam em questão de semanas se os suprimentos da Rússia fossem cortados.

Um grupo de energia que representa os principais fornecedores de gás e eletricidade da Alemanha já havia instado o governo a acionar o plano de emergência, dizendo que não poderia descartar interrupções devido ao pedido de pagamento em rublos.

— É o caso de monitorar a situação — acrescentou Habeck. — Há mais duas etapas, o alarme e a fase de emergência, mas ainda não chegamos lá. A situação teria que piorar dramaticamente antes de chegarmos a esses estágios. Praticamente precisaríamos de uma mudança nas linhas de fornecimento e teríamos que reagir de acordo.

Metade dos 41,5 milhões de residências da Alemanha faz uso do gás natural, enquanto a indústria respondeu por um terço dos 100 bilhões de metros cúbicos de demanda nacional em 2021. Por enquanto, as instalações de armazenamento estão 25% cheias e o governo não precisa intervir no mercado.

— Somente na terceira fase, o Estado vai intervir e regular o fluxo de gás — ressaltou Habeck, acrescentando que o regulador de energia Bundesnetzagentur “vai decidir naquele momento quais regiões e quais setores da indústria serão atendidos em caráter secundário”.

A União Europeia está tentando se livrar do gás russo em resposta à guerra na Ucrânia, com um plano para reduzir a dependência em dois terços este ano. Isso significaria comprar menos combustível do que atualmente acordado nos contratos de longo prazo com a Gazprom PJSC.

Putin ordenou que seu governo, o banco central e a Gazprom preparem todos os documentos necessários para a mudança para rublos até quinta-feira, com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, dizendo que a Rússia não forneceria gás de graça. Mais de 50% dos contratos de longo prazo da Rússia são liquidados em euros.

— Cada parte está tentando punir a outra — disse Anne-Sophie Corbeau, pesquisadora do Centro de Política Energética Global da Universidade de Columbia, que trabalhou anteriormente para a petrolífera britânica BP. — Esta foi a maneira da Rússia de contrariar o plano da Europa de reduzir a dependência em dois terços.

*Com agências internacionais

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