A decisão de trocar novamente o comando da Petrobras afetou o desempenho das ações da companhia. Os papéis da estatal começaram o dia operando em baixa em razão da queda do petróleo, mas intensificaram o movimento após a notícia de que o presidente Jair Bolsonaro demitiria Joaquim Silva e Luna diante da pressão por causa do reajuste dos combustíveis. As ações ordinárias (com voto) caíram 2,63%, negociadas a R$ 34,08, e as preferenciais (sem voto) recuaram 2,17%, a R$ 31,60.
A notícia também teve impacto na percepção dos investidores no exterior. Os recibos de ações da estatal (ADRs) em Nova York caíram 3,47% na negociação após o horário de fechamento do pregão.
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Segundo analistas, a queda dos papéis só não foi mais intensa porque a demissão de Silva e Luna já era esperada desde que ele anunciou reajuste de 18,77% na gasolina e de 24,9% no diesel após a alta do petróleo no mercado internacional com o conflito entre Rússia e Ucrânia.
O presidente Jair Bolsonaro chegou a comentar publicamente que pediu que o reajuste fosse segurado em um dia, mas não foi atendido. E vinha fazendo críticas públicas à política de preços, que repassa ao valor cobrado na refinaria a flutuação do dólar e do petróleo.
Sem ‘canetada’
Para o economista e consultor Álvaro Bandeira, a troca no comando não afeta as prioridades da Petrobras, mas passa uma imagem negativa de nova ingerência do governo na petroleira.
— Não muda nada em termos de preço de combustíveis, porque quem faz a política de preços não é o presidente. Muda a expectativa com relação à empresa. Em uma companhia do porte da Petrobras, é muito ruim você ter três administrações em pouco mais de três anos. Certamente não é uma boa prática de administração de grandes corporações.
Mais do que uma mudança efetiva de rumo, o que o mercado teme é a interferência do governo, especialmente em ano de eleição presidencial. Para João Frota, analista da Senso Investimentos, o propósito da mudança é ter um alinhamento maior com o pensamento do controlador:
— O novo comando da companhia vai tentar andar na corda bamba, entre dilatar prazos de paridade cambial de preços internacionais e atender o suprimento do mercado interno através de acordos com refinarias. É difícil, mas quem manda na empresa é o controlador. Conta a favor a queda do dólar, mas isso pode ser pontual, em razão da alta de juros nos EUA — afirmou Frota. — Agora o clima político é quem vai ditar as regras do jogo.
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Ao longo dos 11 meses de gestão de Silva e Luna à frente da Petrobras, gasolina e gás de botijão subiram, em média, 27%. O diesel teve alta de 47% no período e o GNV (gás veicular) aumentou 44%.
Para analistas, Silva e Luna na Petrobras cumpriu a política de preços, ainda que em alguns momentos o repasse não tenha sido imediato. A prática era esperar sinais de que havia ocorrido uma mudança de patamar e não só um repique pontual de preços.
Segundo fontes, Adriano Pires, indicado pelo governo para assumir o cargo, terá de administrar a pressão para não reajustar preços e terá de convencer o mercado. Embora seja considerado um nome técnico, atua há bastante tempo como consultor.
Bruce Barbosa, sócio da casa de análise Nord Research, ressalta que não faz sentido para o mercado a empresa subsidiar preço do petróleo no Brasil. E lembra que a Petrobras exporta petróleo e importa gasolina, as refinarias brasileiras não estão preparadas para o refino do petróleo brasileiro.
— A gente está vendo a segunda substituição de presidente da empresa porque basicamente ele não faz o que o governo quer, que é abaixar o preço da gasolina. Só que ele não consegue. A Petrobras tem hoje uma governança que é melhor do que a que tinha. O governo pode colocar o presidente que quiser lá, ele não vai poder baixar o preço da gasolina na canetada.
Na avaliação de Fernando Siqueira, head de research da Guide Investimentos, embora o nome de Pires não seja malvisto, a troca frequente de comando causa incerteza:
— Cria-se risco de uso político da Petrobras, o que geraria perdas aos acionistas. O desempenho na Bolsa da Petrobras deve continuar ruim apesar da alta recente do petróleo por causa das incertezas.