No Rio, quilo da carne vermelha consome 3,5% do salário mínimo
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No Rio, quilo da carne vermelha consome 3,5% do salário mínimo

Em 2020, o preço das carnes — excetuando pescados, aves e ovos, carnes e peixes industrializados — subiu 17,97% no Brasil. Em 2021, houve novamente elevação nos preços, de 8,45%. Os dados coletados pelo Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor (IPCA) do IBGE nos últimos dois anos contribuem para o resultado de um levantamento realizado, neste mês de março, pelo banco de dados global Numbeo e pela plataforma de descontos on-line Cuponation, que traz um ranking de preços médios do quilo da carne vermelha na América do Sul (veja abaixo). O Rio de Janeiro aparece no quarto lugar geral e no segundo no país, atrás apenas de São Paulo entre os municípios brasileiros pesquisados.

Um dos motivos para o alto preço da carne no Rio é que a cidade fica longe dos principais centros produtores, exigindo mais gastos com logística e transporte. Na semana do estudo, o quilo da carne vermelha custava, em média, 8,7 dólares na capital fluminense, o que, pelo câmbio da época, dava R$ 43,42, o equivalente a 3,58% do salário mínimo de R$ 1.212.

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— A gente pode ter momentos em que os preços crescem no Brasil, mas a renda também. O que acontece hoje, infelizmente, não é isso. O quadro, há anos, é de crescimento baixo da economia, diminuição muito lenta do desemprego, diminuição da renda disponível no bolso. E afundou ainda mais nos dois anos de pandemia — diz Fernando Padovani, professor de Administração e Finanças da Uerj.

Oferta x demanda

A alta dos preços por aqui tem contribuição externa. Uma doença que dizimou boa parte do rebanho suíno da China diminuiu a oferta de carne no país asiático e o fez importar mais. Com o real desvalorizado, os produtores brasileiros priorizaram a exportação. E sobrou pouco produto para ser vendido no mercado nacional, elevando os preços.

— É a velha história da oferta e da demanda. Além disso, acabou no ano passado um período histórico de três anos de seca no Brasil, que fez faltar pasto. E a pandemia reforçou essa ruptura das cadeias produtivas — explica o professor.

Entenda os preços dos dois extremos

José Alberto Machado, docente de Economia da Estácio, explica:

Carne mais cara: Santiago (Chile) - Um dos fatores que encarecem a carne no Chile é o seu território e sua localização. Por ser cumprido e estreito, com litoral longo, a capital Santiago fica em um vale cercado pelos Andes. Isso por si só prejudica a criação da carne bovina, que requer condições completamente diferentes para a criação e abate. Desta forma, a importação é inevitável e de elevado custo, fazendo com que o preço do produto final seja o mais caro da América do Sul.

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Carne mais barata: Caracas (Venezuela) - Um dos fatores da Venezuela ter o menor preço da carne praticado na América do Sul se dá em decorrência da crise econômica e política que teve início em 2013 e se estende até hoje. Da mesma forma, é possível constatar também a existência de uma crise humanitária, junte-se a isso a falta de emprego, renda, queda na produção de alimentos, insegurança alimentar e queda na produção pecuária. Tudo isso só faz reafirmar a chamada “Leia da oferta e Lei da procura”. O resultado é uma demanda muito abaixo da oferta, provocando preços do produto cada vez menores em comparação com da média dos preços praticados em outros países do continente.

Sem sinal de melhora

Segundo o economista André Braz, do Ibre/FGV, as previsões para o ano não são de melhoria nos preços. O jeito então é aprender a economizar na compra e na cozinha (veja dicas ao lado).

— Devido ao conflito entre Rússia e Ucrânia, os preços dos grãos, que são matéria-prima para ração do gado, devem ter novos aumentos. Talvez só haja melhora no cenário em 2023, quando a condição inflacionária estiver mais comprimida — prevê Braz, recomendando: — O consumidor deve se apoiar em carnes com maior teor de gordura ou que tenham cortes mais populares para não tirar totalmente a carne do cardápio.

O especialista lamenta ainda o cenário triste das famílias de baixa renda brasileiras:

— O Brasil é um amplo consumidor de carne vermelha, principalmente do Sudeste para baixo. Mas a carne ocupando um espaço tão grande na cesta familiar espanta o consumidor. Está tão difícil acessá-la que vemos reportagens de famílias de baixa renda recorrendo a osso para colocar proteína no prato.


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