Rússia x Ucrânia: rublo atinge menor valor desde 2015; vale comprar?

Moeda russa desvalorizou 25% frente ao real desde o início da invasão russa à Ucrânia

Rublo
Foto: Reprodução
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A Rússia vem sofrendo com sanções econômicas desde o início da invasão à Ucrânia e o reflexo na moeda nacional, o rublo, já pode ser sentido. Frente ao real, a moeda, que já vinha em queda, desvalorizou 25,6%, cotada a R$ 0,048, menor valor desde fevereiro de 2015. Afinal, vale a pena investir na moeda russa? 

Anderson Domingos, fundador da escola de investimentos Favos Invest, diz que "não faz o menor sentido" comprar a moeda russa agora, devido à exclusão de bancos russos do Swift , maior sistema de transações bancárias do mundo. 

"No sistema Swift, estão concentrados todos os bancos do mundo, inclusive onde estavam os russos, ou seja, a moeda russa está intransacionável, então, enquanto não houver rumores que o rublo entraria no Swift novamente, para o investidor médio, a recomendação de compra é zero".

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A Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais - que forma a palavra Swift em inglês, é o mais importante do mundo e conecta mais de 11 mil bancos em 200 países. Ele permite a troca de mensagens instantâneas e de ordens de pagamento (cerca de 40 milhões por dia) que padronizam e facilitam o pagamento nas compras internacionais.

As agências de classificação de risco Fitch e Moody´s rebaixaram a nota de crédito da Rússia para junk ou "lixo" , o que significa que as agências consideram que é grande a possibilidade de um calote do país. A nota de crédito da Rússia foi rebaixada em seis níveis de uma só vez - o que não ocorria com nenhum outro país há 25 anos.

Apoio da China

O professor acredita que, com um sistema bancário totalmente dependente do Swift, hoje o maior trunfo da Rússia seria se aliar aos chineses. A China vem mantendo neutralidade quanto ao conflito e já sinalizou que não deve participar das sanções aos russos.

O país asiático é o maior parceiro comercial da Ucrânia, ao mesmo tempo que nutre uma relação cada vez mais estreita com o governo de Vladimir Putin, principalmente no que diz respeito ao sentimento anti-Ocidente.

Nesta quarta, porém, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, afirmou que os chineses estão "prontos para buscar uma solução pacífica" para dar fim a guerra. Kuleba conversou pelo telefone com o colega chinês, Wang Yi.

"O que está acontecendo hoje com o rublo é um estrangulamento econômico ao ponto dele não ter valor monetário. Então, se não tiver o apoio da China para a entrada da Rússia no sistema financeiro chinês a fim de escoar esse dinheiro, realmente não faz o mínimo sentido pensar em investimento na Rússia nos próximos meses", declara Domingos.

Onde investir então?

Se tem uma coisa que investidores fogem é de instabilidade, e nada mais instável que um cenário de guerra. Pensando nisso, o capital tende a buscar opções de maior segurança, como títulos públicos, ouro e renda fixa. Essas fontes evitam perda do dinheiro, mas têm rentabilidade baixa

Já para quem busca aumentar o capital, o mercado de commodities é uma boa alternativa, avalia o professor Anderson Domingos. 

"É recomendável colocar o dinheiro na renda fixa até esperar alguma oportunidade", diz, e adiciona: "3% do patrimônio em Bitcoin (BTC) é saudável no momento também. O BTC está na casa dos 200 mil reais. Por conta desse bloqueio financeiro, russos e ucranianos estão movimentando bastante os ativos digitais, acredito que enquanto durar a guerra, haverá impulsionamento para as criptomoedas".  

Bolsa de Valores de Moscou fechada

Banco Central russo manteve a Bolsa de Valores de Moscou fechada nesta quinta-feira (3) pelo quarto dia consecutivo, após as sanções econômicas. 

"O fechamento da Bolsa de Moscou, na verdade, afeta o mercado russo como um todo, principalmente, no que se refere aos produtos de exportação deles: fertilizantes, petróleo, gás, carvão, entre outros. E obviamente, isso acaba afetando a moeda russa", diz Domingos. "Mas, o maior ponto não é a Bolsa russa estar fechada, é a ação dos outros países de retirarem os bancos russos do sistema Swift", completa.

Impactos no Brasil

O Brasil não possui grandes empresas na Ucrânia, mas o conflito com a Rússia pode trazer desdobramentos por aqui. Os dois países do leste europeu são grandes produtores de trigo e milho e, embora o Brasil importe maior parte dessas commodities da Argentina,  o preço tende a subir no mercado internacional como um todo.

Além disso, apesar de ser um grande produtor agrícola, o nosso país ainda importa cerca de 70% dos fertilizantes usados na agricultura, e a Rússia é a principal fornecedora. 

Ontem, o presidente Jair Bolsonaro (PL)  demonstrou preocupação com uma eventual falta de potássio. Por outro lado, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, descarta o pânico e  afirma que os insumos estão garantidos até outubro.

As sanções à Rússia também já surtiram outro efeito: o barril de petróleo tipo Brent ultrapassou a marca de US$ 111,94 nesta quinta, atingindo seu maior valor desde 2014. Os russos são o terceiro maior produtor do óleo do mundo.

Essa alta pode colocar  ainda mais pressão sobre os combustíveis no Brasil. Desde 2016, a Petrobras adota uma política de preços que se orienta pelas variações do petróleo no mercado internacional. Na semana passada, a estatal disse que  estava monitorando os impactos econômicos da guerra na Ucrânia antes de definir um novo reajuste. O último foi anunciado em 11 de janeiro.

** Gabrielle Gonçalves é jornalista em formação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Estagiária em Brasil Econômico. No iG desde agosto de 2021, tem experiência em redação e em radiojornalismo, com passagens pela Rádio Unesp FM e Rádio Metropolitana 98.5 FM.