Mário Draghi, primeiro-ministro da Itália
Foto: ANSA
Mário Draghi, primeiro-ministro da Itália

O primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, "apoia e apoiará completamente a linha da União Europeia sobre as sanções contra a Rússia, inclusive aquela no âmbito do Swift", principal rede de pagamentos internacionais do mundo, informou o governo italiano formalmente neste sábado (26).

A nota foi divulgada após um telefonema entre o chefe de governo italiano e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

O Swift (Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, em inglês) é um sistema que permite o pagamento e a transferência de recursos entre empresas de países diferentes, padronizando as informações financeiras.

Atualmente, estão no sistema mais de 11 mil empresas em mais de 200 países. Caso a Rússia seja excluída, isso afetaria diretamente duas das indústrias mais importantes do país: a petrolífera e a de gás natural.

Conforme o Palácio Chigi, a ligação ocorreu para que Draghi "exprimisse a ele e ao povo ucraniano a solidariedade e a proximidade da Itália perante o ataque da Federação Russa".

"O presidente Zelensky confirmou ainda o esclarecimento de um mal entendido de comunicação ocorrido ontem e agradeceu o presidente [do Conselho de Ministros] Draghi pelo seu apoio e pela forte proximidade e amizade entre os dois povos", diz o comunicado citando a falha de comunicação ocorrida na sexta-feira (25).

Draghi havia informado em uma sessão do Parlamento que tentou ligar para Zelensky, mas não tinha conseguido sucesso.

Questionado em Kiev, o presidente ironizou e disse que "da próxima vez" ele iria "parar a guerra para ter uma agenda com Draghi".

Durante a conversa, o chefe de governo italiano ainda garantiu que "fornecerá à Ucrânia assistência para se defender" e que ambos continuarão em "estreito contato no futuro".

A Alemanha também estaria aberta à possibilidade de excluir a Rússia do Swift , segundo o jornalista Ragıp Soylu, da agência de notícias britânica Middle East Eye. A invasão da Ucrânia pela Rússia intensificou a pressão por sanções econômicas mais duras contra Moscou, e a medida tornaria mais difícil para as empresas russas fazerem negócios.

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O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, chegou a pedir que a Rússia fosse excluída do Swift na última quinta-feira (24), mas as potências ocidentais ainda hesitam em atender seu pedido. Segundo um funcionário da União Europeia, a exclusão deve ser reservada para uma futura rodada de sanções, caso a o bloco precise reforçar sua punição aos russos.

Mas, afinal, o que é Swift, como ele funciona e por que as potências ocidentais hesitam em adotar essa medida?

O que é o Swift?

Fundada em 1973, a Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias (Swift) não lida com qualquer transferência ou fundos, mas seu sistema de mensagens, desenvolvido na década de 1970 para substituir a dependência das máquinas de Telex, fornece aos bancos uma forma de comunicação rápida, segura e barata.

A empresa, com sede na Bélgica, é uma cooperativa de bancos e pretende permanecer neutra no conflito.

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Como o Swift funciona?

Os bancos utilizam o sistema Swift para enviar mensagens padronizadas sobre transferências de valores entre si, transferências de valores para clientes e ordens de compra e venda de ativos.

Mais de 11 mil instituições financeiras, em mais de 200 países, usam o Swift, tornando o mecanismo a espinha dorsal do sistema internacional de transferências financeiras.

Em 2020, foram enviadas 38 milhões de mensagens por dia por meio da plataforma, viabilizando a transferência de trilhões de dólares.

Seu papel preeminente nas finanças também significou que a empresa teve que cooperar com autoridades para evitar o financiamento do terrorismo.

Quem representa o Swift na Rússia?

De acordo com a associação nacional RosSwift, a Rússia é o segundo maior país, atrás dos Estados Unidos, em número de usuários, com cerca de 300 instituições financeiras pertencentes ao sistema. Mais da metade das instituições financeiras da Rússia são membros do Swift.

O país também tem uma infraestrutura financeira doméstica, que inclui o sistema SPFS para transferências bancárias e o sistema Mir para pagamentos com cartão, semelhante aos sistemas Visa e Mastercard.

Há precedentes de exclusão de países do Swift?

Em novembro de 2019, o Swift suspendeu o acesso de alguns bancos iranianos à sua rede. A medida se seguiu à imposição de sanções ao Irã pelos Estados Unidos e a ameaças feitas pelo então secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, de que o Swift seria alvo de sanções dos EUA se não concordasse.

O Irã já havia sido desconectado da rede Swift, entre 2012 e 2016.

Como a exclusão da Rússia do Swift afetaria o comércio global?

Taticamente, "as vantagens e desvantagens são discutíveis", disse à AFP Guntram Wolff, diretor do think tank Bruegel, com sede em Bruxelas. Em termos práticos, ser removido do Swift significa que os bancos russos não podem usá-lo para realizar ou receber pagamentos junto a instituições financeiras estrangeiras para transações comerciais.

"Operacionalmente, seria uma dor de cabeça", apontou Wolff, especialmente para países europeus que têm um comércio considerável com a Rússia, que é seu maior fornecedor de gás natural.

Nações ocidentais ameaçaram excluir a Rússia do Swift em 2014, após a anexação da Crimeia. Mas descartar um país tão importante - a Rússia também é um grande exportador de petróleo - poderia estimular Moscou a acelerar o desenvolvimento de um sistema de transferências alternativo, com a China fez, por exemplo.

Por que os países ocidentais hesitam em excluir a Rússia do Swift?

Além dos efeitos práticos sobre o comércio global, países ocidentais estão reticentes quanto a adotar essa medida porque temem represálias do governo russo na questão energética. A Rússia fornece gás a muitas nações europeias e poderia cortar o fornecimento. 

A Rússia poderia ter um sistema alternativo ao Switf?

Os bancos russos poderiam buscar outros canais para realização dos pagamentos, como telefones, aplicativos de mensagem ou email. Isso poderia viabilizar as transações com os países que, em caso de exclusão da Rússia do Swit, não apoiaram a medida. Mas essas alternativas seriam menos eficientes e seguras que o sistema global, o que certaria reduziria o volume de transações e ampliaria os custos delas.

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