O investidor ativista e bilionário Carl Icahn iniciou uma nova batalha com seu tradicional método de ataque: comprou uma pequena fatia de ações numa empresa e, aos poucos, conseguiu emplacar dois nomes de sua confiança no Conselho de Administração. Mas, dessa vez, as novidades foram a motivação e o alvo de Icahn: saúde e bem-estar animal no McDonald’s.
No domingo, o McDonald’s confirmou que o investidor, que detém 200 ações da rede de restaurante, indicou dois conselheiros com este objetivo.
No radar de Icahn, está a maneira como os fornecedores da rede de fast-food tratam os animais usados em hambúrgueres de suíno e outros produtos à base de porco. O investidor argumenta que o McDonald’s não cumpriu sua promessa de eliminar o uso das chamadas gaiolas gestacionais, pequenas baias nas quais as porcas são alojadas durante a gestação e que, segundo defensores de direitos animais, representam uma crueldade desnecessária.
Em entrevista ao Wall Street Journal, Icahn disse que os fornecedores estavam retirando as porcas dessas pequenas baias apenas quando estavam com quatro a seis semanas de gestação - a duração total da gravidez do animal é de 16 semanas. Segundo o investidor, ele foi motivado a atuar nesta causa por sua filha, uma amante dos animais que também é vegetariana.
Ele destacou ainda que o McDonald’s prometeu, em 2012, que eliminaria gradualmente a compra de carne de porco de fornecedores que usassem a gaiola gestacional. A meta seria eliminar por completo essa prática em até dez anos – ou seja, agora em 2022.
“As nomeações (para o conselho) de Icahn estão relacionadas a uma questão muito específica relativa aos compromissos da empresa com a carne suína”, disse o McDonald’s em nota. “É um tema no qual o McDonald’s tem sido pioneiro (ao adotar compromissos)”, argumentou a empresa.
A rede de fast-food afirmou que, até o fim de 2022, a expectativa é que de 85% a 90% de sua carne suína venham de fornecedores que não usam a gaiola gestacional. E que essa prática será eliminada por completo em 2024.
O McDonald’s alega que as demandas de Icahn são irrealistas, diante da atual realidade da cadeia de fornecedores nos Estados Unidos. Segundo a empresa, uma mudança maior iria contra “a ciência veterinária” e afetaria “o compromisso do grupo de oferecer produtos de qualidade e com preços acessíveis a seus clientes”.
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Na nota, o McDonald’s também contra-atacou Icahn, argumentando que a postura do bilionário é inconsistente com outros investimentos. Segundo a rede de lanchonetes, o bilionário detém, por meio de sua holding Icahn Enterprises, uma parcela relevante de ações na Viskase, empresa que produz e embala carne suína e de aves.
“Não é de conhecimento público que Icahn tenha cobrado metas das Vikase”, disse o McDonald’s, em nota.
A entidade de defesa dos direitos animais Humane Society já tinha apresentado aos acionistas do McDonald’s, em novembro, uma demanda para que a empresa colocasse fim à prática da gaiola gestacional.
“A empresa promete eliminar a prática, mas ainda permite seis das 16 semanas de gestação no confinamento. Estamos falando de um mês e meio do ciclo gestacional durante o qual o animal não consegue sequer se virar dentro de uma baia”, afirmou, em entrevista ao Financial Times, Josh Balk, vice-presidente da Humane Society.
Balks, que afirma conhecer Icahn há mais de uma década, diz que ele é “sem sombra de dúvidas alguém que luta para evitar crueldade aos animais”.
O McDonald’s, que não pode ser considerado um alvo típico de investidores, viu suas ações subirem mais de 18% nos últimos 12 meses e tem hoje um valor de mercado de US$ 187 bilhões.
Os dois executivos indicados por Icahn para o conselho do McDonald’s são Leslie Samuelrich, presidente do Green Century Capital Management, um fundo de investimentos com propósito ambiental, e Maisie Ganzler, chefe de Estratégias no Bon Appétit Management Company, cadeia restaurante que oferece serviços de catering.