Acompanhando o movimento do mercado que vem rebaixando suas expectativas de crescimento para 2022, o Banco Central (BC) divulgou que sua nova projeção é de alta de 1% no PIB do próximo ano. A última estimativa era de 2,1%.
A informação consta no Relatório Trimestral de Inflação publicado nesta quinta-feira (16). Para 2021, o BC também revisou para baixo sua projeção de PIB de 4,7% para 4,4%.
As revisões do Banco Central acompanham projeções mais pessimistas do mercado nos últimos meses. No último relatório Focus , a expectativa de alta em 2022 era de 0,5% e muitos agentes já veem queda na atividade, como o Itaú.
Essa queda nas expectativa se deve a uma preocupação com a inflação, que ameaça fugir da meta em 2022, os juros mais altos, com a Selic superando os 10%, e as incertezas de um ano eleitoral. Além disso, o baixo crescimento registrado em alguns momentos deste ano também preocupa.
Juros mais altos
Na avaliação do Banco Central, o PIB do terceiro trimestre veio "ligeriamente abaixo" do esperado e os índices de setembro e outubro mostram recuo na atividade econômica.
O relatório também cita juros mais altos desestimulando a economia, mas ressalta que a agropecuária e o processo de normalização da economia, principalmente no setor de serviços, devem contribuir para a atividade.
"Surpresas negativas em dados recentemente divulgados, novas elevações da inflação, parcialmente associadas a choques de oferta, e aumento no risco fiscal pioram os prognósticos de crescimento para 2021 e, em especial, para 2022", aponta o relatório.
Na divisão por setores, a perspectiva mais pessimista é para a indústria. A projeção passou de alta de 1,2% para queda de 1,3% no próximo ano. No setor de serviços, a expectativa era de alta de 2,5% e passou para 1,3%. Quem balanceia um pouco é a agropecuária, que teve sua projeção elevada de 3% para 5%.
Depois de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrar recessão técnica , o Banco Central calculou queda de 0,4% na atividade em outubro , de acordo com número divulgado na última quarta-feira.
Em sua última previsão, o Ministério da Economia calculou um crescimento de 5,1% este ano e de 2,1% em 2022, bem acima das projeções de mercado.
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Inflação persistente
Como mostrou a ata do Copom, o BC também revisou suas projeções para a inflação nos próximos anos. As previsões atuais são de 10,2% este ano, 4,7% em 2022 e 3,2% em 2023. No último relatório de inflação, eram de 8,5%, 3,7% e 3,2%, respectivamente.
Em 4,7% no próximo ano, a inflação fica próxima do teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A meta é de 3,5% com piso de 2% e teto de 5%. Segundo o BC, a probabilidade da inflação superar o teto passou de 17% no relatório anterior para 41%.
A avaliação do BC é de que a inflação tem se mostrado mais persistente do que o antecipado e, ainda que os preços que mais sobem estejam concentrados em alimentação, combustíveis e energia, a pressão é disseminada.
Segundo o relatório, ela é derivada da maior demanda por bens e pelos gargalos de oferta que ainda existem. Ao mesmo tempo, com a recuperação da mobilidade, a inflação de serviços se mostra mais elevada.
"Há preocupação com a magnitude e a persistência dos choques, com seus possíveis efeitos secundários e com a elevação das expectativas de inflação, inclusive para além do ano calendário de 2022", aponta o relatório.
A inflação registrada em novembro chegou a 10,74% em 12 meses, mas o BC espera um arrefecimento já no início do próximo ano, chegando a 9,9% em fevereiro.
"O recuo projetado da inflação para o próximo trimestre se justifica pela queda substancial esperada nos preços de combustíveis, principalmente em janeiro. Nesse mês também se espera recuo acentuado dos preços de passagem aérea. Para os demais componentes a projeção é, em geral, de persistência das pressões inflacionárias", mostra o documento.
Essas pressões inflacionárias seguiriam nos bens industriais, nos serviços e um "forte reajuste" nas mensalidades escolares e no transporte público.
"Por fim, espera-se alta significativa nas tarifas de transporte público urbano, tendo em vista a alta dos preços dos combustíveis neste ano e a contenção das mesmas em 2020 e 2021, com impacto já nos meses iniciais de 2022", projetou o BC.