Ministro pede vista e TCU adia novamente debate sobre privatização da Eletrobras

Adiamento não prevê nova data para análise do caso, que deve ficar para 2022

Discussão sobre privatização da Eletrobras deve ficar para 2022
Foto: Reprodução: iG Minas Gerais
Discussão sobre privatização da Eletrobras deve ficar para 2022

Um pedido de vista adiou mais uma vez a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o processo de privatização da Eletrobras, em discussão nesta quarta-feira (15). Dessa vez, o adiamento foi causado pelo pedido do ministro Vital do Rêgo por mais tempo para estudar o caso.

A próxima sessão do TCU está marcada apenas para 19 de janeiro, mas ainda não está claro se o tema será levado à corte de contas nessa reunião. Esse novo adiamento é mais um revés nos planos do governo de privatizar a estatal de energia no próximo ano.

Trata-se do segundo adiamento da análise da privatização pelo TCU, que deveria ter ocorrido incialmente na semana passada.

O governo corre contra o tempo para ter o aval da corte e conseguir fazer a operação até maio de 2022, prazo definido pelo Executivo como limite para a desestatização. Depois disso, a avaliação é que não seria possível fazer a operação, por conta dos prazos legais e da proximidade com o período eleitoral.

Além desse julgamento, o TCU ainda precisará analisar outros detalhes do processo de privatização. Por isso, o adiamento agora pode até mesmo inviabilizar a desestatização no próximo ano.

Mesmo com o pedido de vista, o relator do processo, ministro Aroldo Cedraz, decidiu ler seu voto e colocá-lo em votação. Ele aponta uma série de problemas no processo e cobra correções do governo, o que também é uma dor de cabeça para os planos do Executivo.

"Não posso deixar de registrar a minha preocupação com o modo que está sendo levada a termo essa desestatização. E assim o faço, não por me opor a esse tipo de medida, ao contrário", disse Cedraz.

Dentro do governo, a visão é que Vital do Rego pediu vista atendendo a um pedido do senador Renan Calheiros (MDB-AL), de que é aliado.

No seu voto, Cedraz afirma que as informações apresentadas pelo Ministério de Minas e Energia estão incompletas e que são necessários novos estudos sobre o aproveitamento das usinas hidrelétricas da estatal e sobre os parâmetros dos cálculos dos contratos que serão assinados pela Eletrobras privada com o governo.

A privatização prevê o pagamento pela Eletrobras privada de R$ 23,2 bilhões para o Tesouro Nacional; R$ 8,7 bilhões em dez anos para a revitalização de bacias hidrográficas; e R$ 30 bilhões para um fundo do setor elétrico com o objetivo de amenizar as altas nas contas de luz.

Cedraz afirma que o pagamento para a revitalização das bacias hidrográficas pode ser inconstitucional. “Na prática, pelo modelo proposto, o governo desistiria de receber esses valores (sob a forma de bônus de outorga) e, em contrapartida, a nova Eletrobras assumiria o compromisso de arcar com as despesas, a serem pagas com o faturamento próprio da empresa”, afirma o voto.

Esse ponto, na verdade, tem sido defendido por outros ministros do TCU e por políticos do Congresso. A Eletrobras deverá aportar recursos para a revitalização da bacia do Rio São Francisco, dos rios localizados em Minas Gerais e para a energia na Amazônia. Essas são demandas antigas de políticos locais.

Outro ponto criticado por Cedraz é a possibilidade de impacto nas contas de luz para os grandes consumidores de energia, principalmente a indústria. O governo alega que as obrigações impostas à nova Eletrobras não trariam impacto nas tarifas cobradas dos consumidores finais porque a empresa teria que recolher parte dos valores para a conta da o fundo do setor elétrico.

Especialistas com conhecimento no assunto avaliam, em condição de anonimato, que se o TCU fizer muitas exigências que alterem os preços da operação, a privatização pode não sair.

Depois de analisar as outorgas, o TCU ainda precisará analisar a operação em si, que ocorrerá por meio de uma capitalização. Essa análise só seria feita no próximo ano, provavelmente em fevereiro.