Campos Neto e Paulo Guedes
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Campos Neto e Paulo Guedes

A incerteza fiscal dos últimos meses foi um fator relevante na decisão do Banco Central (BC) de elevar a taxa básica de juros, a Selic, para 9,25% na semana passada, mostra a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira.

O documento mostra que os diretores do Banco Central veem “questionamentos” em relação ao futuro do arcabouço fiscal como um fator que impacta negativamente na inflação, aumentando o risco de desancoragem das expectativas para os próximos anos.

“Questionamentos em relação ao futuro do arcabouço fiscal atual resultam em elevação dos prêmios de risco e elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação. Isso implica atribuir maior probabilidade para cenários alternativos que considerem taxas neutras de juros mais elevadas.", diz a ata.

A taxa neutra de juros é um conceito econômico que define um patamar dos juros que nem estimula nem contraciona a economia.

A questão fiscal se tornou tema central nas discussões dos últimos meses com as mudanças propostas pelo governo para aumentar o espaço fiscal para 2022, como a PEC dos Precatórios, com a intenção de pagar o Auxílio Brasil. Além disso, em anos eleitorais como 2022, a pressão para aumento de gastos públicos costuma ser maior.

Segundo o Copom, nem alguns indicadores positivos nas contas públicas nos últimos meses, como a queda na relação dívida/PIB e a alta na arrecadação são suficientes para arrefecer os questionamentos.

"Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevam o risco de desancoragem das expectativas de inflação, mantendo a assimetria altista no balanço de riscos", aponta o Copom.

O Focus, documento que reúne as projeções de mercado, vem mostrando continuamente nas últimas semanas uma alta nas expectativas de juros e inflação para 2021, 2022 e 2023. Na última semana, depois da decisão da alta nos juros, as elevações deram uma arrefecida.

Esse risco fiscal elevado levou o Copom a elevar suas projeções de inflação para acima da meta em 2022 e 2023, de 3,5% e 3,25%, respectivamente. Por isso, o Copom decidiu por um ciclo de aperto dos juros “mais contracionista” do que o cenário básico, que aponta a Selic em 11,25% ao ano no fim de 2022 e 8% ao ano em 2023.

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Na ata, a necessidade da continuidade da agenda de reformas estruturais é ressaltada mais uma vez, como já é costume nas comunicações do Banco Central.

“O Copom reitera que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para o crescimento sustentável da economia. Esmorecimento no esforço de reformas estruturais e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, aponta o documento.

Inflação e atividade

Na avaliação do Copom, os registros da inflação ao consumidor seguem elevados e disseminados entre vários componentes, como bens industriais e serviços. A ata também ressalta que a alta nos preços se revelou mais persistente do que o esperado.

“Prospectivamente, a queda significativa dos preços internacionais de commodities energéticas, que têm exibido volatilidade substancial, limitou a revisão para cima das projeções de curto prazo”, diz a ata.

Sobre crescimento, o BC ressaltou que o PIB do terceiro trimestre foi pior do que o esperado, a queda de 0,1% colocou o país em recessão técnica. No entanto, o documento aponta que as atividades mais atingidas pela pandemia continuam em “trajetória de recuperação robusta”.

No futuro próximo, a sinalização também é ruim, com índices de setembro e outubro indicando resultados ruins e os índices de confiança para o último trimestre do ano mostrando "deterioração". Esse cenário fez com que o Copom diminuísse suas expectativas de crescimento, como já foi sinalizado pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto.

Já no cenário externo, o ambiente está menos favorável do que na última reunião, que aconteceu no fim de outubro. A persistência de inflação nas principais economias do mundo trazem uma dificuldade para economias emergentes como a brasileira.

“A questão imobiliária na China, a possibilidade de nova onda da Covid-19 durante o inverno e o aparecimento da variante Ômicron adicionam incerteza quanto ao ritmo de recuperação nas economias centrais. Esses eventos geraram quedas nos preços de commodities importantes, mas ainda é cedo para prever a extensão deste movimento”, diz a ata.

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