O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), deve anunciar nesta quarta-feira um aumento de 1 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic.
Com isso, a taxa deve subir dos atuais 5,5% para 6,25% após ter iniciado o ano na mínima histórica de 2%.
Juros mais altos tendem a encarecer os empréstimos, mas seja qual for a decisão do Copom hoje, o seu crédito já ficou mais caro em algumas modalidades. E essa tendência só deve se reforçar até o fim do ano. Para complicar, o governo aumentou o IOF, imposto que incide sobre operações financeiras.
O motivo principal da alta dos juros é a obrigação do BC de combater a inflação alta, que está distante da meta. Mas, para a professora de economia do Inspe Juliana Inhasz, o aperto da política monetária deve dificultar ainda mais a já frágil retomada econômica.
O crédito mais caro tende a diminuir o consumo da população, o que ajuda na queda da inflação, mas também represa investimentos do setor produtivo, o que dificulta a geração de novos empregos.
— Quando a gente aumenta a taxa de juros, naturalmente, fica mais caro para as pessoas pegarem empréstimo e para as empresas investirem. O setor produtivo tende a apostar menos na economia. Ele fica mais reticente em investir e aumentar a produção.
Veja exemplos de como o crédito mais caro já afeta o seu bolso:
1- Financiamento da casa própria
Os empréstimos imobiliários costumam ser as linhas de crédito afetadas mais rapidamente pela alta da Selic. O setor de imóveis e construção civil teve forte crescimento no ano passado ajudado pelos juros baixos.
Recentemente, os bancos privados começaram a elevar suas taxas para financiar a casa própria em meio às mais recentes altas da Selic. Já a Caixa Econômica foi na contramão e anunciou uma redução de juros do crédito imobiliário.
"A construção civil geralmente é um setor que sofre bastante nessas situações por causa dos financiamentos, que ficam mais caros. Esses setores que a gente chama de economia real devem sofrer bastante", destaca a professora do Insper.
Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Acebip), a tendência para o setor ainda é positiva.
Vale destacar que apesar da alta, os juros continuam baixos em relação a patamares passados, que superavam os dois dígitos.
Os financiamentos imobiliários com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) atingiram R$ 18,79 bilhões em julho de 2021, de acordo com a Acebip.
O montante foi 4,4% inferior ao registrado em junho, mas, comparado a julho do ano passado (R$ 10,82 bilhões), cresceu 73,6%.
2 - Imposto sobre operações financeiras
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro editou um decreto que aumenta a alíquota do IOF. A decisão já vale desde a segunda-feira.
O objetivo do governo é elevar a arrecadação em R$ 2,14 bilhões para custear o Auxílio Brasil, nome dado para a reformulação do Bolsa Família com um valor maior do benefício.
A alteração será temporária, mas o governo não informou qual será o aumento da alíquota.
A alíquota diária para as pessoas jurídicas passa de 0,0041% (referente à alíquota anual de 1,50%) para 0,00559% (referente à alíquota anual de 2,04%).
Já para as pessoas físicas, a alíquota diária de 0,0082% (referente à alíquota anual de 3,0%) foi elevada para 0,01118% (referente à alíquota anual de 4,08%).
O IOF é um imposto cobrado pelo governo em alguns tipos de transações financeiras, como financiamentos bancários, compras feitas por brasileiros com o cartão de crédito internacional no exterior, presencialmente ou on-line.
Outras situações onde a cobrança é feita incluem o cheque especial, compra e venda de moeda estrangeira e em resgate de algumas operações financeiras, bem como na contratação de seguros.
O imposto chegou a ter sua alíquota zerada para facilitar o acesso ao crédito em meio à crise econômica gerada pela pandemia. Mas no final do ano, o valor foi restabelecido.
3 – Juros futuros
O aumento dos custos de financiamento dificulta a tomada de crédito pelas empresas. Isso em um contexto no qual as companhias ainda tentam se recuperar dos efeitos da pandemia.
A alta da Selic e a perspectiva de novas elevações também influenciam no mercado de juros futuros, levando a um aumento dessas taxas e prejudicando os papéis das empresas listadas em Bolsa.
Nesta terça, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para 2025 fechou em 9,90% e a do DI para janeiro de 2027 terminou na casa dos 10,30%.
"Juro maior nunca é bom para bolsa. O custo de capital das empresas se eleva e isso afeta o valuation (avaliação) para pior, jogando para baixo as cotações", destaca o economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo.
O aumento das taxas longas afeta as empresas, pois eleva o custo de capital futuro e o endividamento das companhias. E, portanto, diminui os lucros.
Essas taxas também servem como um termômetro do humor dos investidores. Quando estão mais altas, isso significa que os agentes estão cobrando um preço maior para permanecerem com os ativos.
E isso ocorre em um ambiente de renda fixa mais atrativa justamente pela elevação das taxas básicas, ainda que a inflação continue alta e reduza o ganho real que o investidor possa ter.