A Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado, prevê que o país não deve crescer no segundo semestre deste ano. A informação consta no Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF) divulgado nesta quarta-feira (15).
O órgão considera que há uma "deterioração das condições de crescimento econômico”, o que afeta a perspectiva de atividade da segunda metade do ano. Entre os fatores, a alta nos juros, o risco fiscal crescente, a crise hídrica e energética, além do risco político institucional. A avaliação é que há um cenário de recuperação comprometido.
“O agravamento da crise hídrica, que pode resultar em racionamento nos próximos meses, e as dúvidas quanto à evolução da pandemia, uma vez que a variante delta do coronavírus está levando alguns países a rever suas estratégias de reabertura, impactam negativamente as decisões de investimento e de consumo dos agentes econômicos”, aponta a IFI.
No entanto, 2021 deve ter um crescimento do PIB de 4,9% devido ao carregamento estatístico do primeiro semestre, uma espécie de impulso deixado pelo resultado do período anterior.
“A probabilidade de estagnação é alta nesta segunda metade do ano. A IFI mantinha uma projeção de 4,2% para o PIB de 2021, já com viés de alta desde o RAF de agosto, e passou a 4,9% agora, mas em um contexto de piora evidente do quadro prospectivo. Isto é, a revisão seria maior, não fosse o novo futuro que se desenha”, diz o relatório.
Para o próximo ano, as perspectivas também não são boas. Considerando uma estagnação no restante deste ano, há um viés negativo para o PIB em 2022. A IFI reduziu sua projeção de crescimento de 2,3% para 1,7%, acompanhando revisões do mercado.
Fiscal
A IFI alerta que o risco fiscal não é abstrato e as propostas de reforma do Imposto de Renda e de parcelamento do pagamento dos precatórios enviadas pelo governo ao Congresso trazem um perigo adicional para as contas públicas.
A expectativa mostrada no relatório é de uma volta do aumento da dívida pública e uma apreensão dos agentes econômicos com as mudanças propostas pelo governo.
“O quadro econômico é desafiador. O risco fiscal, particularmente, materializa-se nas tentativas de mudar a Constituição para ampliar espaço orçamentário em ano de eleições gerais e no avanço da reforma do Imposto de Renda, cujo efeito seria negativo ao erário. Justifica-se, ainda, pela apreensão quanto à contratação de gastos permanentes com base em aumentos cíclicos de receita”, aponta o relatório.
Inflação
A IFI avalia que há uma persistência dos choques inflacionários mais disseminados na economia, afetando diretamente as expectativas de preços para 2021 e 2022.
Ao citar a criação da bandeira “escassez hídrica” e o consequente aumento de preços de energia, a instituição justifica um aumento nas projeções de inflação, em 8% para 2021 e 3,9% para 2022. São praticamente as mesmas expectativas do mercado mostradas pelo relatório Focus no início da semana.
Com isso, a IFI também abre a possibilidade de um aumento mais célere dos juros pelo Banco Central.
“O dado do IPCA de agosto ruim, além das incertezas do quadro doméstico, eleva a chance de que o Copom acelere o passo na alta de juros, acelerando o ritmo de ajuste da taxa Selic. Nesse sentido, entendemos, preliminarmente, que a Selic poderá encerrar 2021 em 8%”, pontuou o documento.