A notícia de que o Uruguai já começa a conversar com a China sobre um acordo de livre comércio em separado dos demais sócios do Mercosul não preocupa o governo do presidente Jair Bolsonaro, que até recentemente defendia esse tipo de flexibilização nas negociações com terceiros mercados. Já o setor industrial brasileiro reagiu com uma nota pedindo a união dos quatro países para melhorar as economias do bloco.
Na área econômica do governo, a avaliação é que a posição uruguaia é a mesma do Ministério da Economia. A flexibilização sempre foi considerada um instrumento para modernizar o Mercosul, juntamente com a redução das tarifas de importação.
"Entendo que a iniciativa do Uruguai vai ao encontro do que vem defendendo o Ministério da Economia, qual seja a modernização do Mercosul, com maior flexibilidade negociadora para os países membros. Trata-se de mais um exemplo de uma realidade que se impõe, diante da perda de dinamismo do bloco, observada ao longo das últimas décadas", afirmou o secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz.
Já o Itamaraty preferiu não se manifestar a respeito, pelo menos por enquanto: "Trata-se de anúncio preliminar do governo do Uruguai. Ainda não se vislumbram elementos concretos", destacou o órgão.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou uma nota, nesta quarta-feira, em que pede aos governos que aumentem o diálogo, com a participação dos segmentos produtivos. A entidade defende avanços no Mercosul, como a adoção de medidas concretas para garantir o livre comércio no Mercosul.
Você viu?
"Quanto aos acordos comerciais, a CNI defende que eles devem estar no centro da estratégia do Mercosul, priorizando países que seguem as regras internacionais de comércio e trazendo impactos positivos para a produção brasileira", diz um trecho da nota.
Na última reunião de presidentes do Mercosul, há cerca de dois meses, o Uruguai comunicou aos demais membros que iniciaria conversas com países de fora do bloco para negociar acordos comerciais. Na visão do governo da Argentina, esse caminho só pode ser tomado se houver consenso entre os sócios. Caso contrário, todos devem negociar acordos juntos.
O assunto voltou à tona nesta semana. Segundo o jornal argentino "La Nación", o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, foi informado sobre os avanços nas negociações com chineses e outros parceiros comerciais por seu chanceler, Francisco Bustillo, na noite de segunda-feira passada.