Papai Noel pede emprego no Leblon
Luiza Moraes Agência O GLOBO
Papai Noel pede emprego no Leblon

Ainda faltam quatro meses para o Natal, mas o Papai Noel se adiantou e já circula pela Zona Sul do Rio. Em vez do Polo Norte, ele sai diariamente do Santo Cristo, Zona Central, onde mora com a sobrinha e a mãe, de 83 anos. São cerca de 12 horas percorrendo as ruas de Copacabana, Leblon e Ipanema, caracterizado como Bom Velhinho.

O técnico em contabilidade Luís Claudio Vasconcellos, de 50 anos, conhecido como Papai Noel do Leblon, atende dezenas de pedidos de fotos e vídeos com pedestres pelas ruas, em bares e restaurantes. Mas sua caracterização também é um pedido. Há mais de um ano, ele está em busca de um emprego formal, assim como outros 1,6 milhão de desempregados no estado.

No início da pandemia, Luís perdeu o emprego que tinha há dois anos como vendedor numa loja da Cadeg. Desde então, estava tentando se manter com bicos:

"A firma quebrou na pandemia e eu fiquei desempregado. Saí distribuindo currículo, mas ninguém me chamava. Fiz alguns bicos até que comecei a trabalhar como camelô no Leblon."

Mas o feriadão adotado no estado, entre 26 de março e 4 de abril, para conter o avanço da pandemia, mudou novamente os planos de Luís. Sem poder sair às ruas para vender e com a situação financeira cada vez mais difícil, decidiu antecipar o Natal em alguns meses.

"Veio um desespero na cabeça. Vejo meu filho de 7 anos toda semana, mas não tinha nem o dinheiro da passagem para visitá-lo. Fiquei dois meses sem conseguir ir lá. Como antes da pandemia, no mês de dezembro, eu conciliava o emprego com um bico de Papai Noel num supermercado, decidi vestir a roupa que ainda guardava comigo e sair às ruas", conta Luís, que ouviu muitas críticas no início.

Caracterizado como Noel e com um placa que dizia “Tire uma foto e me ajude”, sua primeira parada foi na Rocinha, mas não foi bem-sucedido. No dia seguinte, decidiu ir para Ipanema e começou a conquistar seu público, que se estendeu para Copacabana e Leblon. Aos finais de semana, vai andando da Glória até o Leblon. Por dia, consegue entre R$150 e R$ 250.

Hoje, na placa de apresentação, Luís informa o tempo que está desempregado, fala que tem um filho e pede ajuda. Desde que começou, em março, tem recebido dezenas de promessas de trabalho, mas ele diz que são só promessas:

"Sou conhecido, mas não consigo emprego. Fiz até inscrição para o Big Brother. Tem gente que diz que vai ajudar, pede meu currículo, entrego cheio de esperança, mas não dá em nada. Uma vez, me ofereceram um emprego num endereço no Recreio. Cheguei lá e era um terreno baldio."

Dia das Crianças em orfanatos

O maior sucesso do Papai Noel é entre os jovens, principalmente à noite, quando passa em frente a bares e restaurantes. Mas outro público que tem aprovado a caracterização do técnico em contabilidade é o feminino. Isso já rendeu convites inusitados, diz Luís:

"Já recebi cantada. Teve uma que me chamou para morar com ela em Copacabana, mas só penso no meu filho, que faz 8 anos em setembro e quer uma bicicleta."

Enquanto não conquista o sonhado emprego, Luís, a dois meses do Dia das Crianças, faz planos para levar seu Papai Noel a orfanatos do Rio. Para isso, pede no Instagram doação de brinquedos:

"Vou a três orfanatos em São Cristóvão e na Mangueira conversar com a administração para combinar de levar presentes para crianças."

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