Depois de elevar os juros básicos da economia em 1 ponto percentual na semana passada
, o Banco Central (BC) poderá apertar ainda mais o cinto da política monetária caso a inflação resista a cair, disse nesta terça-feira (10) o diretor de Política Monetária da instituição, Bruno Serra.
Em videoconferência com investidores, ele disse que o órgão fará o necessário para trazer a inflação de volta para a meta em 2022 e 2023. "Quando se está disposto a fazer o que for necessário, não existe restrição. O Banco Central sempre pode ajustar os seus passos se o cenário mudar, mas parece que esse nível de ajuste tempestivo é bastante adequado no momento", declarou.
Diretor da área do Banco Central que monitora a inflação e define a política de juros, Serra indicou que pode fazer elevações superiores a 1 ponto dependendo do comportamento dos preços.
Segundo o último boletim Focus , pesquisa semanal com analistas de mercado divulgada pelo BC, as instituições financeiras preveem que a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrará 2021 em 6,88%, acima do teto da meta para este ano.
O Conselho Monetário Nacional (CMN) estipulou meta de 3,75% para o IPCA em 2021, com 1,5 ponto percentual de tolerância, o que faz a inflação ficar numa faixa entre 2,25% e 5,25%. Para 2022 e 2023, a meta está em 3,25% e 3%, respectivamente, também com 1,5 ponto de tolerância.
A ata da última reunião do Copom , divulgada nesta terça-feira, informou que o BC elevará os juros em 1 ponto percentual no próximo encontro, no fim de setembro, e continuará a subir a taxa básica até que a Selic fique acima do nível considerado neutro. Desde 2018, a taxa está abaixo do nível neutro, para estimular a economia.
Pressões internas
Ausente na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada por estar com Covid-19, Serra declarou que, em relação aos juros, o BC atualmente está mais preocupado com o cenário interno do que com a economia internacional. Apesar de reconhecer as preocupações com a evolução dos casos de Covid-19 ligados à variante Delta, o diretor disse que considera atualmente mais importante fatores ligados à economia brasileira.
O primeiro fator consiste no fechamento do hiato (redução da capacidade ociosa da economia) mais rápido que o esperado, decorrente do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas), que deve ultrapassar 5% neste ano. O segundo fator são as pressões sobre a inflação ligadas à retomada do setor de serviços. O terceiro são os choques de preços nos alimentos, nos combustíveis e na energia elétrica.
Em relação ao setor elétrico, o diretor de Política Monetária disse que o BC tem apresentado, em seus cenários de inflação, as projeções da bandeira tarifária em 2021 e 2022. No entanto, Serra admitiu que o órgão pode rever as estimativas, caso o cenário energético mude.
Sobre o impacto da proposta de emenda à Constituição (PEC) que parcela os precatórios e propõe despesas novas fora do teto de gastos, o diretor do BC disse que o assunto entrou no cenário de risco para as contas públicas traçadas pela instituição financeira, mas que ainda não há uma avaliação específica. A ata desta terça-feira do Copom destacou que o risco fiscal foi "fator preponderante" para o BC acelerar a alta da Selic para 1 ponto percentual.