Pequenas empresas
Agência Brasil/Rovena Rosa
Pequenas empresas

Em menos de duas semanas, o novo Pronampe  emprestou R$ 10 bilhões de um total de R$ 25 bilhões para cerca de 130 mil pequenas empresas , mas o próprio governo admite que o tamanho atual do programa não será suficiente para a demanda.

 Muitos ainda se queixam de dificuldades para acessar os recursos, mas quem conseguiu, reestrutura dívidas e até investe, à espera da retomada da economia com o avanço na vacinação .

O Sebrae, no entanto, estima serem necessários entre R$ 160 bilhões e R$ 200 bilhões para ajudar as pequenas empresas, segmento que mais emprega, a saírem da crise e voltarem a crescer. Ou seja, muitas ficarão desassistidas.

O presidente do Sebrae, Carlos Melles, acredita que o crédito vem sendo absorvido rapidamente porque o programa tem um ótimo modelo, pois a garantia do Tesouro facilita a concessão de crédito aos pequenos pelos bancos.

Ele relata que chegou a pedir um aporte entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões para o segmento. O governo fez um aporte inicial de R$ 5 bilhões, que, alavancados pelos bancos, transformaram-se em R$ 25 bilhões.

"Quando nós falamos de R$ 40 bilhões, R$ 50 bilhões de aporte, prevíamos que esse valor poderia alavancar de R$ 160 bilhões a R$ 200 bilhões de crédito, que talvez seja a necessidade mais adequada da micro e pequena empresa hoje", explica Melles.

O empresário Rafael Nunes Plantz, dono da Tag Eventos, tentou empréstimo pelo Pronampe várias vezes e só conseguiu agora. Sua empresa aluga palcos, grades e estrutura para eventos no Estado do Rio, um setor que parou totalmente por vários meses e ainda não se recuperou.

"Tínhamos consciência de que seríamos os primeiros a parar e últimos a ser beneficiados", diz Plantz.

O dinheiro já caiu na sua conta e tem destino certo: o pagamento de contas.

"Nosso setor ainda não voltou. A vacina está caminhando, mas ainda demora. Esse dinheiro vai cobrir o capital de giro de janeiro a abril e será usado na folha de pagamento", diz o empresário.

Recursos ajudam a reestruturar dívidas

Pagar dívidas, funcionários e fornecedores é a prioridade de quem consegue recursos, contam empresários e representantes dos setores de comércio e serviços, os mais prejudicados pela pandemia, pois dependem da circulação de pessoas.

Dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostram que, no primeiro quadrimestre de 2021, 437.787 empresas fecharam — alta de 22,9% em relação aos quatro meses imediatamente anteriores. Frente ao mesmo período de 2020, o aumento é de 23,1%.

No setor de bares e restaurantes, desde o início da pandemia mais de 300 mil estabelecimentos fecharam. Segundo Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, associação que representa o setor, 57% dos donos de bares e restaurantes estão operando com prejuízo, e 71% têm dívidas atrasadas.

Os principais débitos são relativos a impostos (federais, municipais e estaduais), água e luz, aluguel, FGTS e fornecedores, nessa ordem.

"Na primeira leva do Pronampe, muitos pegaram o empréstimo por precaução. Agora, quem conseguir, vai usar para reestruturar dívidas", afirma Solmucci, que considera que a ajuda demorou muito.

O subsecretário de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas do Ministério da Economia, Michael Dantas, reconhece que havia uma demanda reprimida por crédito no segmento e diz que a pasta trabalha em medidas de curto, médio e longo prazo para atendê-la:

"É um fato dado (que o Pronampe não chegará a todos). A demanda por crédito é muito, muito maior, em especial em um momento de recuperação. Mas o Pronampe ajuda, é um respiro, em especial para pequenas empresas que estão lutando pela manutenção do emprego."

Nas cooperativas, os recursos também estão saindo rápido. Do R$ 1,2 bilhão captado pelo Sistema de Cooperativas Financeiras do Brasil (Sicoob), R$ 300 milhões já foram emprestados, e a expectativa é que o limite seja atingido nesta semana. Francisco Reposse Júnior, diretor comercial e de canais do Sicoob, espera poder solicitar mais recursos, pois o R$ 1,2 bilhão não será suficiente.

Sergio Gusmão Suchodolski, presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), que reúne bancos de desenvolvimento e públicos, relata que as concessões estão saindo rápido e provavelmente será necessário pedir novas liberações do Fundo Garantidor de Operações (FGO):

"Há empresas que ainda buscam socorro pelas dificuldades que enfrentam e há até algumas, em segmentos mais aquecidos, que já estão usando os recursos para investir, porque estão com demanda elevada."

O investimento, muitas vezes, visa garantir a sobrevivência do negócio, como restaurantes que querem aprimorar o delivery ou que precisam fazer obras na área externa por causa do distanciamento social.

A empresária Aline Gonçalves, de 43 anos, dona de uma clínica de estética e atendimento de fisioterapia e nutrição em Bangu, na Zona Norte do Rio, aguarda a resposta do banco sobre seu pedido. Ela está com impostos atrasados, e seu caixa foi à míngua nos meses em que a clínica ficou fechada.

"Usei o dinheiro que tinha guardado, mas agora acabou. Além do giro de caixa, preciso, por exemplo, adaptar as salas com divisórias e várias outras exigências da vigilância sanitária, ainda mais agora que está tendo uma demanda alta", conta a esteticista.

Já a empresária May Amorim precisa de um e-commerce mais robusto. Ela estava no meio da expansão da sua loja em Cruz da Almas, no Recôncavo Baiano, quando veio a pandemia. Teve de adiar os planos. Buscou o Pronampe e não conseguiu.

Agora, em mais uma tentativa, aguarda resposta. Assim como muitos lojistas, ela conseguiu sucesso nas vendas on-line, mas estas ainda são feitas por WhatsApp e Instagram, de forma mais casual.

Tenho muitos clientes em Salvador e na região, mas fico limitada com a entrega. Preciso investir em um site e no e-commerce para continuar. O dinheiro do Pronampe é para dar fôlego, investir e compensar a perda que tive em 2020 e neste ano — diz May.

‘Pouco, mas necessário’

Para José César da Costa, presidente da CNDL, os lojistas estão hoje em três situações. Há aqueles que, como May, precisam comprar estoque ou se reestruturar; aqueles para quem o dinheiro chegou tarde; e aqueles que vão pagar dívidas.

"O Pronampe é bom e importante, mas insuficiente por causa da crise. É pouco, mas é necessário", diz Costa.

Um novo aporte no Pronampe pelo governo ainda é incerto porque depende da situação orçamentária e do ritmo da recuperação econômica. Mas o Ministério da Economia está desenhando programas que facilitam o acesso ao crédito e o oferecimento de garantias para os bancos.

O primeiro deve ser implementado nos próximos 20 dias. O Sistema Nacional de Garantias vai possibilitar a criação de sociedades de garantias, instituições com administração privada que poderiam fornecer cartas de garantia aos pequenos empresários. Com elas em mãos, seria mais fácil obter um empréstimo no banco.

Dantas, do Ministério da Economia, explica que essas sociedades teriam um caráter mutualístico e poderiam ser financiadas por governos, mas, principalmente, pelos próprios empresários.

Outra medida, ainda sem data para sair, é a atualização do portal CredMei, voltado para pequenas empresas. Ele permitirá comparar os preços de maquininhas e até fazer vários pedidos de avaliação de empréstimo de uma só vez.

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