Mesmo com as expectativas de inflação do mercado subindo semana após semana, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, reafirmou nesta terça-feira (08) que a pressão na inflação é temporária .
"Tivemos muitos choques, o mais recente foi na energia, por conta das bandeiras de preço mais alto. Muitos agentes estão olhando para os níveis de reserva de água e fazendo contas do custo de manter as termelétricas por um período mais longo. Nós ainda acreditamos que muito disso ainda é um choque temporário", disse.
Campos Neto ressaltou que a inflação sofreu muitos choques de origens diferentes neste ano. O presidente do BC citou a alta nos preços de commodities, embora ele acredite que parte já tenha sido absorvida, e a subida nos preços de energia.
"Há uma mudança na dinâmica de inflação e muitas dessas alterações são de fatores vindos de choques temporários, mas que estão interagindo e contribuindo para uma disseminação maior do que esperávamos", explicou.
O relatório Focus, que reúne as expectativas do mercado para os principais índices econômicos, mostra que a inflação esperada para este ano é de 5,44%, acima do teto da meta para este ano, de 3,75%.
O BC utiliza essas expectativas em conjunto com outros índices para determinar a taxa básica de juros da economia, a Selic . O principal mandato da autoridade monetária é manter a inflação dentro da meta, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo.
Caso a meta não seja atingida, o presidente do Banco Central precisa mandar uma carta para o ministro da Economia, Paulo Guedes, explicando as razões da falha.
Copom
Os diretores do Banco Central se reúnem na próxima semana no Comitê de Política Monetária (Copom) para decidir o novo patamar da Selic. Na última reunião, a sinalização foi de um novo aumento de 0,75 pontos percentuais, o que levaria a taxa para 4,25% ao ano.
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Essa alta nos juros só terá efeito para o ano que vem porque as decisões de política monetária costumam demorar de seis a nove meses para impactar a economia real. Para 2022, as expectativas do Focus estão em 3,7%, acima da meta de 3,5%.
Campos Neto foi questionado sobre a normalização parcial dos juros sinalizada pelo Copom nas últimas reuniões. Para alguns agentes de mercado, significa que o BC não está disposto a subir os juros até a taxa neutra , em torno de 6,5% ao ano, para controlar a inflação .
Na comunicação oficial, o Copom mostrou preocupação com a manutenção de juros abaixo do patamar neutro para manter um estímulo no processo de recuperação econômica.
No evento de desta terça-feira (08), Campos Neto disse que se os juros forem elevados para a taxa neutra muito rapidamente, a inflação ficará abaixo da meta em 2022. Além disso, reafirmou que o BC está comprometido com a meta.
"Nós estamos completamente comprometidos com a meta e atingi-la é nosso trabalho. Quando nós dizemos que estamos fazendo uma normalização parcial é porque queremos dar ferramentas para que as pessoas entendam o que estamos fazendo", disse.
Para a próxima reunião, Campos Neto disse que os diretores vão analisar todas essas questões relacionadas à inflação, inclusive uma possível alta no setor de serviços, para tomar a decisão.
"Estamos tentando ver quais são as revisões para 2022, o que é uma contaminação de 2021. O que são choques permanentes, o que são choques temporários e como a inflação de serviços vai se comportar no processo de reabertura da economia", afirmou.