A parceria firmada entre Azul e Latam em junho do ano passado para racionalizar a malha durante a crise chegou ao fim. As duas empresas anunciaram, na segunda-feira (24), o fim do acordo de compartilhamento de voos , conhecido no mercado com o jargão de codeshare. O acordo será efetivamente encerrado em 90 dias, a partir de 22 de agosto.
O presidente da Latam, Jerome Cadier, aposta em uma retomada do setor, planeja retirar 7 aviões do chão e contratar 750 profissionais até o fim do ano. E a Azul, que assumiu a liderança do mercado durante a pandemia, com fatia de 45,1% em abril, afirma que a consolidação é uma tendência no segmento pós-crise, uma indicação de que está disposta a comprar uma empresa rival.
A companhia aérea que nasceu usando aviões da Embraer afirma estar em posição forte para iniciar um movimento de consolidação e que já contratou consultores para avaliar o mercado.
“O codeshare com a Latam foi uma solução única em nossa resposta à pandemia. Também percebemos que a consolidação da indústria seria importante para a recuperação pós-pandemia, e a Azul é parte fundamental em iniciativas desse tipo. No primeiro trimestre desse ano, contratamos consultores financeiros e estamos estudando ativamente oportunidades de consolidação. Acreditamos que o encerramento do codeshare pela Latam seja uma reação ao processo de consolidação”, afirmou em nota John Rodgerson, CEO da Azul.
O texto afirma ainda que a empresa está saindo da crise em posição de liderança em termos de liquidez, recuperação de malha e vantagens competitivas.
A iniciativa de encerrar o acordo partiu da Latam, que está em recuperação judicial nos Estados Unidos. Cadier, CEO da Latam Brasil, refuta a hipótese de união entre as duas empresas, que foi aventada desde que elas anunciaram o acordo de compartilhamento de voos.
"[A especulação] não tinha fundamento na época. E agora fica claro que era uma solução para a pandemia. Na medida em que a gente vê uma perspectiva de que a pandemia vai terminar, vale voltar ao que era antes", disse Cadier, em entrevista à coluna Capital.
Segundo o executivo, a justificativa para encerrar a parceria é que ela não se faz mais necessária por representar apenas 2% das vendas totais.
"Na medida em que a gente aumenta a oferta, essa participação tende a ficar ainda menor. Não fazia mais sentido", afirmou ele.
O plano da Latam prevê a recontratação de pelo menos 750 tripulantes até o fim do ano, sendo que a maior parte já deve acontecer nas próximas semanas. A empresa também deve colocar para voar mais sete aviões Airbus A320, que estão hoje parados e que se somarão aos cem aviões em operação.
Com uma operação mais dependente do mercado internacional, a Latam foi a mais afetada na pandemia. Em razão disso, foi a mais radical em termos de corte de oferta e até aqui vinha sendo mais conservadora na retomada de voos.
A empresa foi a única a demitir tripulantes — 2,7 mil pessoas no total — e saiu de uma posição de liderança no mercado para a lanterna. Mas já em abril, que foi o pior mês de 2021, conseguiu voltar ao segundo lugar, com 28,5% do mercado, contra 26% da Gol e 45,1% da Azul.
Cadier diz que no momento observa mais a retomada de voos do que a participação de mercado. A Latam operou 190 voos em abril. Em maio, já houve alguma recuperação, para 250. E a perspectiva é chegar em julho com 400 voos e ampliar gradualmente até atingir, em dezembro, 90% do nível pré-pandemia, que era em torno de 750 voos.
Voo para Cancún
Seja qual for a configuração do mercado no pós-pandemia, alguns aspectos são dados como certos por Cadier. Ele afirma que a Latam no futuro será menos dependente do viajante de negócios, com mais ênfase em destinos turísticos e preço mais direcionado ao viajante de lazer.
Congonhas, tradicional cenário dos executivos da ponte aérea, deve ver mais mochilas e menos passageiros engravatados.
"Vai ser mais turismo e menos corporativo. Estamos planejando mais voos para o Nordeste a partir de Congonhas, com bases novas e aumento de frequência para destinos que já operamos. A demanda da ponte aérea Rio-São Paulo deve reduzir, mas parte será compensada pelo turismo. Brasília não volta ao que era antes", disse Cadier.
No mercado internacional, os poucos voos retomados estão bem vazios na cabine de passageiros, mas sendo custeados pelo porão, com a demanda de carga, conta Cardier, que enxerga sinais de retomada no internacional. A partir de junho, a empresa estreia o primeiro voo desde o início da pandemia com foco no passageiro: para Cancún (México).
Segundo ele, o cenário deve ser de recuperação, a menos que ocorra uma terceira onda.
"A gente acredita que a chance de uma terceira onda é muito pequena", diz Cadier.