O presidente Jair Bolsonaro se reuniu ontem à noite com um grupo de pelo menos 20 empresários na casa de Washington Cinel, dono da empresa Gocil, do setor de segurança, no bairro dos Jardins, em São Paulo . Segundo alguns dos participantes, os empresários demonstraram preocupação com a vacinação da população e a crise econômica atravessada pelo país, e voltaram a cobrar por reformas .
De acordo com presentes à reunião, o presidente disse acreditar que o Congresso vai aprovar as reformas enviadas pelo governo. E repetiu algumas vezes que a pandemia não pode levar o Brasil à miséria total. Boa parte dos empresários declarou ser contra o lockdown, quando autoridades proíbem a circulação de pessoas, embora defendam medidas de distanciamento.
Ao GLOBO, um dos empresários disse que "quase 90%" das pessoas, segundo seus cálculos, estava de máscara durante o jantar.
Na saída do encontro, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, salientou que tem dúvidas sobre a duração das medidas de isolamento propostas por governadores e prefeitos em todo o país. Embora a restrição de circulação seja indicada por cientistas para frear a disseminação do vírus, ela vem sendo criticada diariamente por Bolsonaro.
— Os empresários demonstraram preocupação muito grande com o desemprego. Essas medidas de restrição temos que tomar cuidado — disse Faria.
Além de Bolsonaro e Faria, também estiveram no jantar os ministros da Economia, Paulo Guedes, da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, e da Saúde, Marcelo Queiroga.
Empresários ouvidos pelo GLOBO disseram que os integrantes do governo deixaram claro que estão fazendo o possível para dar agilidade à campanha de vacinação. Queiroga falou, durante o jantar, sobre o imunizante feito pelo Instituto Butantan, mas também garantiu que espera entrega de vacinas da Fiocruz, da Covax Facility, a coalizão da OMS, e da Sputnik V.
O discurso adotado pelo governo é diferente do que vinha sendo propagado por Bolsonaro até o início do ano, quando chegou a chamar a CoronaVac de “vacina chinesa do (João) Doria” e a ironizar os possíveis efeitos colaterais dos imunizantes já em uso no mundo.
— O empresariado está trabalhando junto conosco para modernizarmos o sistema de saúde — afirmou Queiroga ao deixar a casa de Cinel.
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Assim como os outros ministros que falaram ao final do encontro, Queiroga usava máscara.
Um dos participantes do jantar contou que a vacinação contra a Covid-19 e como o setor privado poderia ajudar foi o principal assunto. Foi dito ao presidente que a principal preocupação dos empresários é acelerar a vacinação para que a economia reaja, mas que ficou uma impressão ruim para a opinião pública de que o setor privado queria comprar vacinas, imunizar seus funcionários e furar a fila dos grupos prioritários no país.
— Não se trata de furar a fila. As empresas querem adicionar novas doses de vacinas, com a contrapartida de doar uma parte delas ao SUS e vacinar quem esta na linha de frente da economia. A questão é que nesse momento a oferta de vacinas é escassa — disse o participante durante o jantar.
O presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, disse durante o jantar que os bancos ajudaram como puderam nos piores momentos da crise com a liberação de crédito tanto para pequenas empresas como para pessoas físicas.
Entre outros empresários que pediram a palavra durante o encontro, estavam Claudio Lottenberg, do Hospital Albert Einstein; André Esteves, do BTG; e Alberto Saraiva, do Habib’s.
A organização do jantar planejou uma forma de acomodar os mais de 20 convidados e a comitiva do presidente em duas grandes mesas. Celulares não foram permitidos durante todo o encontro, que durou cerca de 2h30m. O cerimonial pediu que os aparelhos fossem deixados na entrada da casa, como antecipou o colunista do GLOBO Lauro Jardim.
No último dia 23, Cinel já havia organizado um jantar em sua casa entre empresários e os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Na ocasião, os políticos foram cobrados da reedição da MP 936, que autoriza a redução de jornada e salário e a suspensão de contratos. Na ocasião, Flávio Rocha, dono da Riachuelo, disse que, sem o programa governamental, poderia haver uma “onda de demissões devastadora”.