Na sexta-feira (19), a Volkswagen foi a primeira a anunciar que suspenderia a fabricação de veículos no Brasil, em decorrência do alto índice de contágio da pandemia do novo coronavírus . Já na terça-feira (23) foi a vez da Volvo, da Scania e da Mercedes-Benz tomarem a mesma medida, acompanhadas da Nissan , na quarta (24) e da Toyota e da Renault , na quinta (25). A previsão é que as atividades sejam retomadas entre os dias 4 e 5 de abril.
Juntas, elas somam mais de 43 mil empregos , sendo 14 mil da Volkswagen, 3,7 da Volvo, 2,5 mil da Scania, 10 mil da Mercedes, 2,4 mil da Nissan, 5,6 mil da Toyota e 5 mil da Renault. Desses, alguns terão férias coletivas, para diminuir o fluxo de funcionários na fábrica, garantindo assim o distanciamento social, outros seguirão em regime de home office.
A alemã Mercedes, por exemplo, informou que "a partir de 5 de abril, continuaremos com as medidas restritivas para proteção de nossos profissionais, também concederemos férias coletivas para grupos alternados de funcionários de acordo com o planejamento de nossas fábricas. Assim, teremos um grupo de produção menor mantendo os protocolos de distanciamento, mas continuaremos a atender os nossos clientes com nossos produtos e serviços".
Além do risco à saúde dos funcionários, a pandemia também está causando atraso no recebimento de peças, produtos e serviços, retardando a cadeia produtiva.
Segundo a Volkswagen, "os efeitos da pandemia puderam ser sentidos principalmente no ano de 2020, no início da pandemia, quando as fábricas também paralisaram as suas atividades por cerca de 2 meses, provocando queda na produção e consequentemente na venda de veículos".
As decisões foram tomadas em conjunto com os respectivos sindicatos locais, e visam a preservação da saúde e o bem-estar de seus colaboradores e de seus familiares. Além de atender a antecipação de feriado em algumas regiões.
Ficam suspensas as produções nas seguintes cidades:
- Toyota : São Bernardo do Campo (SP), Indaiatuba (SP), Sorocaba (SP) e Porto Feliz (SP);
- Scania : São Bernardo do Campo (SP);
- Volkswagen : São Bernardo do Campo (SP), Taubaté (SP), São Carlos (SP) e São José dos Pinhais (PR);
- Nissan : Resende (RJ);
-
Mercedes-Benz
: São Bernardo do Campo (SP) e Juiz de Fora (MG);
- Volvo : Curitiba (PR);
- Renault: São José dos Pinhais (PR).
Em São Caetano do Sul, onde a General Motors (GM) tem uma fábrica, o sindicato local reivindica licença remunerada, de 12 dias, aos funcionários.
Desempenho do setor automotivo
Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) indicaram queda de 31,6% no setor automotivo em 2020, recuando ao patamar de 2005. A associação projeta recuperação de 25% em 2021.
Luiz Carlos Moraes, diretor de Comunicação Corporativa e Relações Institucionais da Mercedes-Benz do Brasil e presidente da ANFAVEA disse em coletiva que "as montadoras estão enfrentando problemas de falta de insumos e atraso na entrega". Ele complementa dizendo "na primeira fase da Covid-19 no Brasil nós tivemos o fechamento, várias fábricas decidiram de forma espontânea parar sua produção por semanas, algumas por até dois meses".
Segundo ele, a paralisação tem impacto na cadeia de fornecedores nacionais e internacionais, em concesisonárias e DETRANs. "Nós temos uma cadeia muito longa. Como cada setor voltou numa velocidade diferente, isso gerou um descompasso na oferta de insumos, desbalanceando a cadeia produtiva global", concluiu.
A ANFAVEA marcou outra coletiva para o dia 7 de abril e promete detalhar o desempenho de março e o impacto das paralisações.
Mês de fevereiro
No mês de fevereiro, algumas montadoras trabalharam até mesmo durante o carnaval, ainda assim a produção caiu 3,5%, registrando 197 mil unidades produzidas. Pior resultado para o mês desde a crise de 2016.
“Muitas das nossas montadoras trabalharam até durante o Carnaval para tentar
recompor os baixos estoques e compensar alguns atrasos e paradas por falta de insumos, mas ainda há muita dificuldade de retomar o ritmo normal de funcionamento das fábricas”, explicou o Presidente Luiz Carlos Moraes.
Os estoques das fábricas e das concessionárias vo início de março era de 97,8 mil veículos, que no ritmo atual de vendas duraria 18 dias, um número ainda muito baixo comparado aos níveis pré-pandemia, de 30 a 40 dias de estoque.
Retomada
A segunda onda da Covid-19 diminuiu o otimismo de empresários do setor. 86% deles conta com a vacina como garantia para a retomada econômica, Segundo a última edição da pesquisa Cenários para a Indústria Automobilística Brasileira, realizada no Brasil há oitos anos pela consultoria alemã Roland Berger em parceria com o portal Automotive Business.
A pesquisa aponta também que 66% dos executivos projetam recuperação ainda em 2021, e 20% acreditam que vai demandar de dois a cinco anos para a retomada. A pesquisa mostra ainda que 7 em cada 10 entrevistados consideram que a vacinação é essencial para a recuperação do setor automotivo.
Além disso, 59% apontam que a retomada das operações vai ter de lidar com a dificuldades no fornecimento de insumos.
A pesquisa é feita com 532 representantes do setor.