Seis meses depois de ser criticado por declarações racistas de sua cofundadora, Cristina Junqueira, o banco digital Nubank lançou um fundo de investimento voltado para startups brasileiras criadas por empreendedores negros e negras. Chamado de Semente Preta, o fundo vai destinar um total de R$ 1 milhão para pequenas empresas, e os empreendedores têm até setembro para se inscrever.
Em outubro, Cristina Junqueira afirmou no programa Roda Viva, da TV Cultura, que tinha dificuldade de contratar executivos negros para posições de liderança por falta dos requisitos técnicos que julga necessários, como habilidade para análise de dados e inglês fluente.
Indagada na ocasião se as exigências não seriam uma barreira, respondeu que o banco digital "não pode nivelar por baixo". A declaração provocou uma onda de críticas nas redes sociais, levando Cristina a fazer um pedido de desculpas público poucos dias depois.
Desde então, o banco vem anunciando medidas de promoção da diversidade , entre elas a contratação de uma consultora para diversidade e inclusão.
O novo fundo tem como foco empresas que já tenham validado seu produto mínimo viável, o chamado MVP, e que impactem o mercado em que estão inseridas por meio do uso da tecnologia.
"Queremos contribuir para acelerar a consolidação de um ambiente de tecnologia mais diverso e que reflita a pluralidade que existe hoje no Brasil. Isso é peça fundamental para inovação e, consequentemente, para o desenvolvimento de soluções que resolvam, de fato, as principais dores dos brasileiros", disse David Vélez , presidente e fundador do Nubank, em nota.
"Sabemos que empreendedores negros e negras enfrentam muito mais barreiras para captar investimentos e recebem menos apoio para construir seu negócio. Nós queremos ser parte da mudança dessa realidade", completou.
Histórico do empreendedor conta
Além do aporte financeiro, o Semente Preta irá promover encontros periódicos entre as startups selecionadas e convidados externos para trocar experiências e facilitar networking.
Os empreendedores também poderão participar de sessões de mentoria pontuais com os times do Nubank nas áreas de pessoas, engenharia e finanças de acordo com as necessidades de cada empresa.
Serão consideradas aptas a participar as startups dos seguintes setores: serviços financeiros, dados, pessoas, marketing digital, jogos, softwares, aplicativos e programação, e outros.
As empresas inscritas serão avaliadas de acordo com o nível de aplicação de tecnologia e inovação em seu produto, criatividade, estratégia e performance financeira, além de inteligência de dados e negócios.
O histórico do empreendedor e o posicionamento da empresa no ecossistema brasileiro de startups serão igualmente considerados. Também serão julgados aspectos como pluralidade geográfica e diversidade dos times das startups selecionadas.
Os empreendedores terão até setembro para se inscrever para a iniciativa pelo site do Nubank .
Segundo estudo da gestora BlackRocks, apenas 30% das startups fundadas por pessoas negras receberam algum tipo de aporte durante a jornada para fundar e consolidar o negócio. Nas empresas de tecnologia fundadas por pessoas não negras, o percentual é de 41%.
"Para ter um ambiente de tecnologia mais diverso, precisamos questionar os padrões de distribuição de aportes. Ao criar um fundo focado em startups fundadas por pessoas negras, estamos dando um importante passo nessa direção. Mais do que oferecer um investimento semente, vamos ajudar a criar condições para potencializar esses negócios e transformar as estatísticas", afirmou Monique Evelle, consultora de inovação do Nubank, em comunicado.
A iniciativa é parte do compromisso do banco com ações concretas para promover a diversidade étnico-racial. Firmado em novembro do ano passado, esse compromisso prevê R$ 20 milhões para uma série de ações.
Meta de 2 mil negros até 2025
Entre elas está a criança de um centro de engenharia de software, design e experiência do cliente, o "NuLab", em Salvador, voltado para atender a demanda do Nordeste.
Segundo o Nubank, também há estratégias para a inclusão e desenvolvimento de talentos negros no banco digital. A meta do banco é contratar duas mil pessoas negras até 2025 para garantir um ambiente de trabalho com ao menos 30% de funcionários negros e 22% em cargos de gestão.
A empresa afirma que também está incluindo critérios de diversidade na avaliação e seleção de fornecedores durante o processo de compras; cursos de formação educacional voltado para negros e negras socialmente excluídos; além de aumentar seu time interno dedicado à Diversidade e Inclusão; entre outras ações.