Planejar as finanças, cortando excessos e elencando prioridades são pontos essenciais para começar 2021 com contas em dia
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Planejar as finanças, cortando excessos e elencando prioridades são pontos essenciais para começar 2021 com contas em dia

O ano de 2021 será desafiador em vários sentidos e deve impor dificuldades a mais para aqueles que desejam equilibrar o orçamento e colocar as contas em dia. Organizar os gastos familiar e pessoal e assumir o controle do próprio dinheiro são passos fundamentais para quem deseja estabilidade financeira. Para isso, é necessário gerenciar melhor as despesas, economizar, conter os gastos não essenciais e evitar as dívidas.

Para Reginaldo Gonçalves, coordenador do curso de graduação em Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina, realizar um planejamento financeiro familiar é uma forma de se conscientizar sobre os recursos, a fim de evitar gastos supérfluos e, consequentemente, obter mais qualidade de vida.

"O principal motivo pelo endividamento das famílias no Brasil é o cartão de crédito, pois seu mau uso é o maior vilão dos gastos. Além disso, o parcelamento é nocivo a qualquer orçamento", destaca Reginaldo.

Para sair dessa "bola de neve", o professor diz que uma alternativa pode ser minimizar o uso ou mesmo eliminá-lo. "Atualmente, é possível encontrar alternativas mais vantajosas do que os juros cobrados dos cartões de crédito . A inadimplência é alta em virtude das taxas impagáveis, que giram de 15% a 18% ao mês, enquanto a inflação do país está na faixa de 4,5% ao ano".

Para muitos consumidores, as dívidas repercutem negativamente na qualidade de vida, causam crises de ansiedade e prejudicam a concentração no trabalho. Em muitos casos, a organização do aspecto financeiro exige uma reestruturação mais ampla de comportamento. Foi o que aconteceu com o jornalista Raphael Bandeira, de 31 anos. Há pouco mais de um ano, ele decidiu que era hora de colocar as contas em dia e mudar de vida.

Segundo ele, o processo de endividamento afetou sua saúde mental, o deixou ansioso e desanimado, e mais dependente de pessoas. Seu nome estava em listas de proteção ao crédito, e ele acumulava dívidas com cartão de crédito, cartão de loja, cheque especial e empréstimos.

O primeiro passo para sair deste ciclo do endividamento, segundo o jornalista, foi mapear todos os débitos em atraso e renegociá-los. Ao longo de um ano, ele chegou a pagar R$ 2 mil de parcelamento:

"Vasculhei meu nome na Serasa, no atendimento de lojas de varejo, e anotei todas as minhas dívidas. Muitas pessoas não sabem o que devem. Outro problema é pegar crédito elevado, muito acima de seus ganhos. Fui pagando as (dívidas) menores e pedi o parcelamento das maiores. Decidi que não adiantava dividir em poucas parcelas, porque isso reduz a capacidade de pagamento. Então, algumas quitei em 12 vezes. Limpei meu nome e saí do ciclo de viver no automático".

Durante o período de reorganização financeira, ele conseguiu mudar seu comportamento de consumo.

"Passei a comer mais em casa, a cozinhar mais. Além disso, passei a ter um consumo consciente de vestuário. Comecei a pensar sobre o que é o consumo vazio e o que é consumo necessário. Em vez de ter sete pares de sapatos, ter dois. Às vezes, dá muita vontade de pedir delivery, mas tem que planejar. E passei a me alimentar melhor, consumir menos carne vermelha, que aliás é muito cara, e substituí-la por alimentos mais saudáveis. Agora, tenho planos de juntar dinheiro e pensar no futuro forma mais estratégica".

Parcelamento a perder de vista

Os economistas alertam que, no fim do ano, as oportunidades de compra aumentam. Consequentemente, crescem o desejo e o risco de gastar por impulso. Em muitos casos, as pessoas passam o ano seguinte pagando as compras parceladas. Mas, com um pouco de educação financeira, esse ciclo vicioso pode chegar ao fim.

"Antes de qualquer coisa, é preciso verificar quais são as despesas fixas que a pessoa tem, como aluguel, mensalidade escolar. Separar gastos fixos dos variáveis é o primeiro passo. Antes de comprar, faça algumas perguntas: estou comprando por necessidade real ou movido por outro sentimento, como carência ou baixa autoestima? Se não comprar isso hoje, o que acontecerá? Tenho dinheiro para comprar à vista? Se comprar a prazo, terei o valor das parcelas? O acúmulo de parcelas colocará em risco as prioridades da família?", aponta o economista e professor do Ibmec-RJ Ricardo Macedo.

Outro erro apontado é que muitos consumidores preferem tomar as decisões a partir de suas "contabilidades mentais’". Ao aprender como fazer um planejamento financeiro, você se aproxima das metas de zerar o endividamento e acumular poupança. O primeiro passo deve ser reunir o maior número de informações possíveis sobre a sua realidade financeira.

Para Sílvio Azevedo, diretor da AZV Investimentos, é preciso separar extratos de conta e comprovantes de compras, entre outros documentos que podem ajudar na primeira análise da situação financeira. O autoconhecimento é fundamental. Muitos não analisam as contas por se sentirem incomodados, sem motivação e disposição para mudanças.

"O objetivo é elaborar esse planejamento de forma adequada e realista. Muitos não querem ver a verdade que está na frente, endividam-se e acabam quebrando", afirma.

Para isso, anote todos os gastos que você e sua família têm no mês. Isso inclui compra de alimentos, consumo de luz, água, telefone, internet, TV paga, juros bancários, remédios, roupas, material escolar etc. Traçar um comparativo de dois a três meses é importante para identificar os motivos do aumento e redução de gastos. No primeiro momento, haverá dificuldades, mas esse comportamento deve persistir para se tornar uma rotina.

Cuidado com as armadilhas

Uma das dívidas que o jornalista Raphael Bandeira mais se arrepende de ter feito foi aceitar uma oferta de crédito de um banco que insistia que havia um limite disponível em sua conta. Ele recebia uma bolsa mensal de estágio, no valor de R$ 300, e a instituição financeira liberou R$ 2 mil em sua conta. Ele levou anos para quitar o empréstimo.

"Não tenho noção do que eu fiz com esse dinheiro. Vi a proposta do banco e peguei. O dinheiro estava lá, disponível. Demorei anos para pagar a dívida. Me arrependo", diz.

Entidades de defesa do consumidor afirmam que o limite oferecido pelos bancos é uma armadilha e significa um alto risco de endividamento.

"Aconteceu muito no caso do consignado, quando houve o aumento da margem de comprometimento de renda mensal. Muitos bancos simplesmente depositavam o dinheiro na conta do consumidor e, no mês seguinte, já começavam a descontar direto na folha. As taxas de juros cobradas, mesmo em créditos tão garantidos, são altas, e as pessoas levam anos para pagar", lembra Ione Amorim, economista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Mauro Rochlin, professor dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que muitas famílias ficarão sem fonte de renda neste início de ano por causa do fim do auxílio emergencial , o que deve impor restrições ainda mais severas aos orçamentos das pessoas:

"A recomendação é consumir o que é realmente necessário. Muitas pessoas não vão ter emprego, sem renda de fato. O que vemos no mercado, especialmente nos bancos, é a seguinte postura: primeiramente, rigor total na cobrança. Colocam o nome no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Depois de 90 dias, quando não há pagamento e o nome do consumidor é inserido no cadastro de devedores duvidosos, passam a tentar uma negociação".

Veja algumas dicas

1 – O primeiro passo é convocar toda a família para que todos possam auxiliar no planejamento, incluindo situações consideradas irrelevantes, como apagar as luzes, quando ninguém estiver no cômodo da casa, e evitar desperdícios de alimentos;

2 - Estabeleça prioridades, corte gastos, pague algumas dívidas e evite tomar novos empréstimos;

3 - Planeje uma reserva de emergência para não se endividar;

4 - Coloque em prática pequenos hábitos de economia, como reduzir o tempo no banho e desligar a TV e o computador, quando não estiver utilizando-os;

5 - Compre somente o que vai consumir;

6 - No momento da compra, pesquise. As diferenças de preço entre um estabelecimento e outro são significativas;

7 - Nas compras, evite levar as crianças, principalmente quando se tratar de material escolar;

8 - Jamais vá ao supermercado com fome, pois isso faz com que o consumo de itens supérfluos acabe se tornando um estímulo ao consumo;

9 - Se os gastos estão no limite, busque outras fontes de renda. Existem muitas oportunidades de atividades complementares, como ser motorista de aplicativo, fazer artesanato e cuidar de animais de estimação, entre outros; e

10 - Use aplicativos para o controle financeiro e anote seus gastos.

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