A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, liderada pelo Partido Democrata, aprovou nesta segunda-feira (28), por 275 a 134 votos, a proposta do presidente Donald Trump para o pagamento de US$ 2 mil de auxílio para pessoas afetadas pela pandemia de Covid-19, enviando a medida para um futuro incerto no Senado controlado pelos republicanos.
"Este pacote de socorro americano garante uma transição suave em um momento importante, o do início da vacinação em massa. Ele pode ser uma base estratégica para uma recuperação sustentada da economia americana , com impactos em todo o mundo", afirmou Adriano Laureno, economista sênior da Prospectiva Consultoria.
Mauro Rochlin, professor dos MBAs da FGV, acredita que o pacote beneficia o Brasil também de forma indireta, ampliando a liquidez no mundo em um momento em que o país precisa de um grande esforço para refinanciar a sua dívida.
"Como o estímulo americano se trata de cheque no bolso, tem impacto direto na demanda agregada, ajudando a economia americana. Como ela ainda representa 25% da economia global, espera-se um transbordamento positivo em comércio e investimentos", diz Rochlin.
Durante a votação desta segunda, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi , deu um recado ao Partido Republicano: "os republicanos têm uma escolha, votar a favor dessa legislação, ou votar para negar aos americanos os recursos maiores de que necessitam".
Sobre o apoio de Trump — um raro ponto de acordo entre ele e os democratas —, o deputado Dan Kildee disse que eles teriam incluído um valor maior na legislação se o presidente tivesse se pronunciado mais cedo: "nunca é tarde para fazer a coisa certa".
A defesa de Trump de um cheque de US$ 2 mil surpreendeu os democratas. Eles já queriam um valor maior, mas esbarravam na resistência dos republicanos.
Já o deputado Kevin Brady, do Partido Republicano, argumentou que os US$ 2 mil não vão ajudar as pessoas a retomarem seus empregos. Segundo ele, os EUA correm o risco de “gastar apressadamente” sem ajudar os americanos que realmente precisam.
O Departamento do Tesouro prevê começar a enviar os cheques de US$ 600 ainda esta semana, como originalmente planejado, afirmou um funcionário do órgão.
"Se as vacinas funcionarem, como eu acredito, este pacote americano será parte substancial da retomada. A sociedade vai sair de quase depressão para euforia muito rapidamente", afirmou José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos. "Este pacote americano se soma a um melhor cenário na Ásia e a um momento de vacinação na Europa".
Semana passada, Trump ameaçou bloquear a ajuda se o Congresso não aumentasse os pagamentos de estímulo de US $ 600 para US $ 2.000 e cortasse outros gastos. Ele desistiu de suas exigências no domingo, quando uma possível paralisação do governo causada pela luta com os legisladores se aproximava.
Mas os legisladores democratas há muito queriam cheques de US $ 2.000 e usaram um raro ponto em comum com Trump para fazer a proposta. Cento e trinta republicanos, dois independentes e dois democratas se opuseram ao aumento nesta segunda-feira.
Trump sancionou o pacote de R$ 2,3 trilhões no fim de semana, mas manteve a exigência pelos cheques de US$ 2.000. O pacote inclui US$ 1,4 trilhão em gastos para financiar agências governamentais e US$ 892 bilhões em pagamentos de alívio para pessoas e empresas afetadas pela Covid .
Maior pressão para o Brasil
Laureno, da Prospectiva, avalia que o pacote americano amplia a pressão para que o governo brasileiro crie algum tipo de amparo neste momento de recrudescimento da pandemia no Brasil. Ele lembra que o ministro da Economia, Paulo Guedes , só aceitou a ideia do pagamento de auxílio emergencial depois que EUA e Europa passaram a dar dinheiro à população vulnerável.
"O governo claramente abriu mão de pensar em uma solução estratégica, de longo prazo. Se a situação piorar, pode ser obrigado a adotar uma solução emergencial, sem planejamento e com menor efetividade", disse ele, que critica propostas como a antecipação do pagamento do décimo terceiro e do abono a aposentados e pensionistas, e novos saques do FGTS , que só beneficiam quem tem emprego formal.
Segundo Laureno, o Planalto sinaliza que só tratará de uma questão mais estrutural após as eleições da presidência da Câmara dos Deputados e do Senado, por acreditar que poderá sair vitorioso e com maior margem de manobra.
Camargo, contudo, afirma que o governo acerta ao mostrar que está buscando um equilíbrio fiscal, após um ano de elevação dos gastos públicos. Para ele, sem essa sinalização, o país não atrai investimentos, perde credibilidade e pode ter que elevar juros, gerando risco inflacionário: "neste momento é muito importante que o Brasil mostre que é capaz de pagar sua dívida. O objetivo é respeitar o teto do gasto".