O presidente Jair Bolsonaro disse no sábado (19) que o ministro da Economia, Paulo Guedes , fica chateado com o andamento de medidas que dependem do Congresso , mas assegurou que só sairá do governo quando acabar o mandato presidencial .
A declaração foi dada em uma conversa gravada com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), seu filho, publicada neste sábado na internet. O parlamentar questionou ao pai se em algum momento Guedes já indicou que deixaria cargo.
"Não demonstrou para mim (que sairia do governo). Lógico que a gente vê que de vez em quando ele fica irritado, porque certas medidas dependem de votações. Eu sei como funciona o parlamento, ele está aprendendo ainda. Ele quer resolver e fica chateado. Agora, no tocante a sair, falou que vai sair comigo quando acabar meu mandato", disse Bolsonaro.
Nos últimos meses, o ministro tem se queixado do que afirma ser uma aliança de centro-esquerda no Legislativo para travar o andamento de pautas como a agenda de privatizações. Até hoje, no entanto, o Executivo só enviou ao Congresso uma proposta para privatizar a Eletrobras .
Bolsa Família
A pressão por gastos públicos também é motivo de desconforto por parte do ministro, que cancelou as férias de fim de ano, previstas para começar neste fim de semana. A mais recente polêmica é a respeito da concessão de 13º salário a beneficiários do Bolsa Família.
Na quinta-feira, Bolsonaro afirmou que o benefício não seria pago neste ano porque o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) , não havia pautado uma medida provisória (MP) para autorizar o repasse.
Maia, por sua vez, negou a informação e disse que a orientação para não tratar do benefício havia sido do próprio governo, por falta de recursos. O parlamentar ameaçou pautar na sexta-feira uma MP para liberar o pagamento, em uma forma de desafiar Bolsonaro.
No mesmo dia, Guedes disse que a concessão do abono configuraria um crime de responsabilidade fiscal, porque o benefício já havia sido pago no ano passado. Um segundo ano de repasses configuraria uma despesa permanente, não prevista no Orçamento .
Reajustes para servidores
Uma disputa sobre reajustes para servidores públicos também foi motivo de crise envolvendo o ministro. No início da pandemia, a equipe econômica articulou para incluir no projeto de auxílio a estados e municípios um artigo para proibir os aumentos até o fim de 2021.
A medida acabou sendo retirada na última hora durante a votação da medida, e o ministro teve que pedir que Bolsonaro vetasse o dispositivo que permitia aumentos salariais. Depois de 20 dias, o presidente atendeu ao pedido do auxiliar.
O episódio ainda teve um último desdobramento, quando o Senado derrubou o veto presidencial e abriu espaço para conceder aumentos. Na ocasião, o ministro disse que a decisão foi 'um crime contra o país'. A declaração causou mal-estar entre senadores e o ministro acabou pedindo desculpas. A derrubada do veto foi revertida pela Câmara, que manteve o bloqueio às altas salariais no funcionalismo até o fim do ano que vem.
Outro momento de atrito ocorreu em agosto, quando Guedes travou uma batalha nos bastidores contra o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho , a quem acusava de tentar flexibilizar o teto de gastos , regra que limita o crescimento de despesas federais à inflação.
Em um dos momentos mais tensos dessa crise, no mesmo dia em que afirmou haver uma debandada em sua equipe, o chefe da Economia afirmou que furar o teto poderia aproximar o presidente do impeachment.
No dia seguinte, Bolsonaro reuniu no Palácio da Alvorada os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e ministros para se comprometerem ao cumprimento do teto de gastos, válido até 2026.