Carrefour
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Coalização afirma que seguirá lutando pela cassação do alvará de funcionamento do mercado de Porto Alegre

A Coalizão Negra por Direitos , que reúne mais de 150 entidades de movimentos negros e de combate ao racismo no país, divulgou nesta quarta-feira (2) um comunicado em que rejeita a iniciativa do Carrefour de criar um comitê externo independente para orientar a adoção de uma política interna de “tolerância zero” em relação à discriminação racial .

O grupo acusa a empresa de tentar tirar o foco da série da série de denúncias de violência e discriminação em seus supermercados e principalmente do bárbaro assassinato de João Alberto Silveira de Freitas , na loja de Porto Alegre há duas semanas.

Rejeita interlocução com a empresa nos moldes propostos e reafirma que continuará lutando pela cassação do alvará de funcionamento do Carrefour na capital gaúcha.

A criação do comitê , formado por especialistas em questões sociais, líderes de movimentos negros e personalidades ligadas ao combate ao racismo foi divulgada pelo Carrefour há uma semana, no dia 25, em mais uma tentativa da empresa de conter a crise de imagem provocada pelo assassinato de João Alberto, um cidadão negro espancado por seguranças brancos, no interior da loja de Porto Alegre no último dia 19, véspera do Dia da Consciência Negra .

No comunicado, a Coalizão expressa “seu mais profundo repúdio à postura adotada pela Rede Carrefour na tentativa de tentar invisibilizar a violência racista ” que levou à morte de João Alberto.

O texto lembra que a rede já foi alvo de muitas denúncias de violência e de discriminação racial sem ter adotado as medidas necessárias para evitar a repetição desses episódios ou o crime registrado por câmeras de celulares em Porto Alegre.

E diz que os movimentos negros integrantes da Coalizão rejeitam interlocução com a empresa no modelo proposto pela, com a criação do comitê: “ Não há mediação com quem nos mata ”, estampa o documento logo no título.

“São diversos casos que não deixam dúvidas quanto ao conhecimento da direção da rede no Brasil sobre o papel ativo do Carrefour em práticas violentas fundadas no racismo”, diz o comunicado.

Participam do comitê Rachel Maia e Adriana Barbosa, Celso Athayde, Silvio Almeida, Ana Karla da Silva Pereira, Maurício Pestana, Renato Meirelles, Ricardo Sales e Mariana Ferreira dos Santos. Segundo o Carrefour, o grupo elaborou algumas prioridades para ações da rede de supermercados, que deverá divulgar um plano mais detalhado na próxima semana.

Para a Coalizão, a reação do Carrefour é equivocada. Defende que qualquer solução deveria passar pelos movimentos de combate ao racismo que protestaram contra a empresa nas ruas:

“Não acreditamos que qualquer atuação individualizada de sujeitos seja capaz de resolver um problema que estrutura absolutamente todas as relações sociais do país.”

A entidade cobra transparência em relação a soluções para o racismo persistente que identifica na empresa:

“O retorno do Carrefour não poderia ser mais negativo: inicialmente negou responsabilidade sobre o ocorrido, depois resolveu monetizar a vida interrompida tragicamente de João Alberto com a criação de um fundo de igualdade racial de valor irrisório ao lucro da empresa, e, por fim, buscará escamotear sua responsabilidade via comitê. Nesse sentido, nos cabe reafirmar que não há saídas que não sejam construídas juntos com as organizações do movimento social negro e o irrestrito respeito à família da vítima e sua comunidade, bem como de outras famílias atingidas pelas práticas reiteradas de racismo na empresa. O enfrentamento ao racismo estrutural e as medidas de reparação cabíveis precisam ser feitos na arena pública com amplo debate social.”

No texto, a Coalizão reitera apoio às reivindicações do movimento negro de Porto Alegre que foram levantadas por vereadores negros recém-eleitos na capital gaúcha.

Entre elas está a cassação do alvará de funcionamento da rede de supermercados em Porto Alegre com base no artigo 150 da Lei Orgânica Municipal , que prevê esse tipo de penalidade para estabelecimentos que “pratiquem ato de discriminação racial; de gênero; por orientação sexual, étnica ou religiosa”.

O comunicado também foi divulgado numa versão em francês, já que o Carrefour é uma multinacional com sede na França .

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