Em Cuiabá, capital do Mato Grosso, uma funcionária está processando a empresa de limpeza em que trabalhava. Ela foi demitida, e no processo judicial alega que foi vítima de intolerância religiosa e racismo na empresa, e por isso houve a demissão.
Regina Santana da Silva, 41, deu entrevista ao jornal Folha de S.Paulo e contou que foi demitida após aparecer no trabalho de cabeça raspada, fato que faz parte de um ritual religioso de sua fé. O ritual é de iniciação no candomblé, e que, pela tradição da religião de matriz africana, a raspagem do cabelo simboliza a consagração da pessoa aos orixás.
A advogada Crea Márcia Ferreira de Souza, que faz a defesa da vítima, entrou com representação no Tribunal Regional do Trabalho. Ela pede indenização de R$ 41 mil por danos morais.
Após raspar a cabeça no evento religioso, Regina afirma que cobriu a cabeça com várias toucas no ambiente profissional, para que não notassem a diferença, temendo ataques preconceituosos. Na empresa, as funcionárias geralmente usam apenas uma touca. Mas, quando Regina estava no banheiro, sem as toucas, a supervisora a viu e pediu para conversarem.
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A responsável do setor perguntou se Regina estava com câncer. Ela disse que não estava doente, e ouviu da supervisora: "Entendi". Dez dias após o episódio, Regina foi chamada ao escritório, onde estavam a gerente e a supervisora dela. Ela conta que a gerente a obrigou a tirar a touca da cabeça e, com um olhar de reprovação, disse que esse tipo de religião não cabia na empresa, que "além de ser negra, era macumbeira".
E seguida, a gerente teria afirmado que Regina tinha que "procurar Deus para se salvar" e que pessoa da cor dela "e macumbeira não pode participar do quadro de funcionários da empresa".
A demissão afetou Regina, que desenvolveu depressão. Ela está fazendo tratamento com calmantes e tem insônia e crises de ansiedade, que geram tremor nas mãos.
Além da demissão, o preconceito religioso e o racismo também mexeram com seu estado emocional. "O que machuca bastante, enquanto eu, Regina, é sobre você não conhecer uma religião. Digo, a pessoa não conhecer a religião e indagar assim, com as palavras: 'nego macumbeiro'", disse Regina ao jornal.
A reportagem da Folha de S.Paulo procurou a empresa,
que afirmou que só se pronunciará nos autos do processo. A gerente não quis se manifestar e a supervisora citada não atendeu as ligações do jornal.