A Coca-Cola se tornou mais uma gigante do marketing mundial a suspender anúncios em redes sociais. A multinacional de refrigerantes sediada nos Estados Unidos anunciou, na sexta-feira (26), que interromperá globalmente, por pelo menos 30 dias, toda a sua publicidade paga em mídias sociais, aumentando a pressão de grandes marcas sobre plataformas como o Facebook para forçá-las a suprimir conteúdos que incitem o ódio.
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Antes da decisão da Coca-Cola, a Unilever já havia anunciado, também na sexta, a suspensões de anúncios de sua operação nos EUA em Facebook e Twitter até o fim do ano. Paralelamente, grandes anunciantes como Verizon e The North Face aderiram a uma campanha de suspensão de anúncios no Facebook na esteira dos protestos antirracistas nos EUA.
Mais transparência
“Não há espaço para o racismo no mundo e não há espaço para o racismo nas redes sociais”, disse, em comunicado, James Quincey, diretor-executivo da Coca-Cola. “Usaremos esse tempo para reavaliar nossas políticas de publicidade e determinar se mudanças são necessárias. Também esperamos maior transparência e responsabilidade de nossos parceiros de mídias sociais.”
A Coca-Cola disse que sua decisão não faz parte de qualquer campanha coletiva, mas seu anúncio se segue ao de diversas marcas contra a inação das redes sociais em relação ao discurso de ódio em suas plataformas. Segundo analistas, a interrupção dos anúncios atinge o faturamento dessas plataformas, o que reforça a cobrança por uma postura mais assertiva e responsável delas com relação ao conteúdo compartilhado pelos usuários.
A pressão cresce com a proximidade das eleições norte-americanas, em novembro, período que já se mostrou especialmente sensível para disseminação de discursos de ódio e notícias falsas nas redes. O Facebook, especificamente, é o alvo da campanha “Stop Hate for Profit” (“Parem com o ódio em nome dos lucros”), liderada pela Liga Antidifamação (ADL). Mais de cem empresas já anunciaram suspensão de publicidade no Facebook .
Após o anúncio da Coca-Cola, as marcas de vestuário Levi’s e Dockers, que pertencem ao mesmo grupo, comunicaram que interromperiam sua publicidade no Facebook e no Instagram (que integra o conglomerado de Mark Zuckerberg) pelo menos até o fim de julho.
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“O Facebook precisa tomar ações para barrar a desinformação e o discurso de ódio em suas plataformas. Isso é uma afronta inaceitável a nossos valores”, diz nota das marcas.
"Esse movimento é a confirmação de que o fator econômico parece ser um dos mais decisivos no processo de aperfeiçoamento dos mecanismos da moderação de conteúdo pelas plataformas. Já vimos sua eficiência com o movimento “Sleeping Giants”. O “Stop Hate for Profit” é uma segunda onda", analisa Carlos Affonso Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS-Rio).
Só a Unilever pagou US$ 42 milhões por propagandas no Facebook em 2019, segundo a consultoria Pathmatics.
A decisão da Unilever de suspender anúncios provocou queda de 8,32% nas ações do Facebook e de 7,4% nas do Twitter na sexta-feira. Ainda na sexta, o Facebook disse que mudaria suas práticas. Zuckerberg prometeu mudar as regras para evitar a disseminação de discursos de ódio, de racismo ou que incitem violência.
Fortuna de Zuckerberg encolhe
A ofensiva das empresas contra as redes sociais afetou principalmente o Facebook, cujas ações despencaram. Mark Zuckerberg, fundador da rede social, perdeu cerca de US$ 7,2 bilhões de sua fortuna pessoal depois que uma série de empresas aderiram ao boicote.
A queda no preço das ações do Facebook reduziu em US$ 56 bilhões o valor de mercado do Facebook, e diminuiu o patrimônio líquido de Zuckerberg para US$ 82,3 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaires Index.
O boicote também moveu Zuckerberg para o quarto lugar entre as maiores fortunas. Ele foi ultrapassado pelo chefe da Louis Vuitton, Bernard Arnault, que foi elevado a uma das três pessoas mais ricas do mundo, juntamente com Jeff Bezos (Amazon) e Bill Gates (Microsoft).