Os preços
do feijão, do arroz e do leite — três itens básicos na alimentação nacional — subiram neste período de pandemia de Covid-19, pesando no bolso do brasileiro.
É o que aponta um levantamento exclusivo solicitado pelo Globo à InfoPrice, empresa de tecnologia e inteligência de negócios focada em acompanhamento de preços no varejo físico. Cerca de 20 produtos foram monitorados no período de 10 de fevereiro a 21 de junho.
A alta no preço do feijão foi de 50,46%.
O arroz ficou 11,24% mais caro. Segundo Rodrigo Diana, cientista de dados da InfoPrice, a logística de distribuição na pandemia, mudanças climáticas, e até a formação de estoques pelas famílias durante o período de isolamento explicam a disparada nos preços.
— É sobretudo um repasse de custos da indústria. Mas segundo o Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses, também foi um aumento previsto em função da diminuição da área plantada, que se deve a problemas climáticos, como estiagem no Paraná, geada em Santa Catarina e excesso de chuvas em Mato Grosso. Na mesma medida, observamos uma diminuição da produção de arroz enquanto houve um aumento na procura dado o comportamento de estocagem do consumidor em meio à pandemia. Isso porque o brasileiro está comendo em casa nesse período e tentando evitar as idas aos mercados, o que aumenta o estoque em todos os lares — afirma Rodrigo.
O preço do leite também aumentou: em 18,61%. Mas, de acordo com o cientista de dado, começa a entrar em uma tendência de queda.
— O aumento do preço ao consumidor foi um repasse da indústria de laticínios, que pede maiores garantias para enfrentar a pandemia, sobretudo devido aos problemas logísticos, dado que é um produto altamente perecível. No entanto, a tendência a partir de agora é observamos uma queda no preço do leite, reflexo da crise econômica e da consequente redução do poder aquisitivo das famílias brasileiras — adianta Rodrigo.
Os preços do feijão e do arroz subiram em quase todas as regiões do país, com variação negativa apenas no Norte. O preço do feijão saltou 18,61% no Sudeste, com variação similar no Nordeste (18,42%). Sul e Centro-Oeste também anotaram avanço, de 9,90% e 8,90%, respectivamente.
A região Norte exibiu retração, de 11,79%. Já o preço do arroz, na região Sul, teve aumento de 8,52%. Na região Nordeste, de 7,04%. No Sudeste, a variação foi de 4,55%; e no Centro-Oeste, de 0,56%. Na região Norte, o recuo foi de 3,07%.
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O leite ficou 15,50% mais caro no Sul do país e 12,01% mais caro no Norte. No Sudeste, a oscilação positiva no valor do leite foi de 9,26%. No Centro Oeste, 6,77%. No Nordeste, ficou em 2,31%.
Produtos de limpeza e carnes
Também tiveram aumentos de preço no estado do Rio, mas mais tímidos, os artigos de limpeza (3,14%) e as carnes (1,26%). Preços de produtos de limpeza também variaram positivamente, mas abaixo de 5%, no Norte (4,24%), Nordeste (4,15%), Sul (1,98%), Sudeste (1,88%) e Centro-Oeste (1,47%).
Já a carne bovina apresentou recuo em todas as praças pesquisadas: no Sul e no Norte, de 10,66% e 20,03%, regiões com maiores variações, seguidas do Nordeste (-3,03%), Centro-Oeste (-2,66%) e Sudeste (-1,95%).
— Os produtos de limpeza são não perecíveis. Assim, os problemas relacionados à logística e estocagem pela indústria não foram repassados ao consumidor. Mesmo assim, houve de fato um aumento, ao qual justifico pela maior demanda de higiene da população — avalia Rodrigo Diana, continuando sobre a carne:
— Tem grande mercado internacional, que foi impactado pela pandemia. Além disso, a queda do poder aquisitivo do brasileiro, em função da crise econômica gerada pela pandemia, tem feito o consumo de carne sofrer também. Isso fica claro pois as carnes nobres sofreram maior queda. O fechamento dos restaurantes também prejudicou o mercado.
Metodologia de pesquisa
Apesar da pandemia ter sido decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março, o período da pesquisa foi ampliado para evitar a interferência de altas sazonais motivadas pelo Carnaval, comemorado no fim de fevereiro este ano.
Para cada categoria, foram pesquisados uma média de 20 exemplos de produtos. Os preços foram monitorados em 469 lojas físicas e 171.218 datapoints, que são um conjunto único de informações para cada produto em cada loja: seu nome, seu preço, a loja em que ele se encontra, se ele está em promoção.
— Nós não pegamos, simplesmente, o valor do produto em 10 de fevereiro, comparamos com o preço deste em 04 de maio, e tiramos a média. Não! Nós analisamos a variação dos preços, produto a produto em cada ponto de venda que pesquisamos, o que permite ter a certeza sobre o seu aumento ou diminuição (de preço) naquela localidade — diz o CEO Paulo Garcia.