Os efeitos da pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2) na economia brasileira devem chegar de modo mais rápido no emprego e na renda dos brasileiros, segundo dados divulgados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) nesta segunda-feira (11). O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp), que monitora os rumos do mercado de trabalho no Brasil, despencou de 82,6 pontos, em março, para 39,7 pontos, em abril. É o menor nível desde 2008, quando iniciou a série histórica da pesquisa.
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O levantamento é feito com base em sondagens feitas com setores da indústria, comércio, serviço e consumidor, e busca antecipar os rumos do mercado de trabalho no país. Todos os setores avaliados tiveram queda expressiva em abril, segundo a FGV.
De acordo com Rodolpho Tobler, economista da FGV/Ibre, os impactos da pandemia do novo coronavírus se mostram cada vez mais fortes na economia brasileira. Isso pode significar duas coisas: que o nível de contratação está baixo ou que o número de dispensas está aumentando, ampliando o desemprego no país.
"É uma questão antecedente, de expectativa, mostra o aumento da incerteza de consumidores e empresários diante dos efeitos da pandemia no mercado de trabalho", explica Tobler. "Os dados sugerem uma piora mais concentrada a partir de abril, já que em março começamos a ver uma piora das ocupações", conclui.
Há uma relação positiva entre os movimentos do IAEmp e dados do mercado formal brasileiro, registrados em pesquisas como o Caged, do Ministério da Economia, e Pnad Contínua, do IBGE. Por isso, é esperada uma piora relacionada ao emprego nas próximas divulgações da Pnad, prevista para ser publicada no próximo dia 29.
Em março, os efeitos da pandemia já começaram a aparecer no mercado de trabalho, mesmo com um pequeno pedaço da amostra referente aos dias já sob políticas de isolamento social . A população ocupada terminou o trimestre encerrado em março com a maior retração desde 2012, início da série da pesquisa.
Para os próximos meses, a tendência é de uma estabilização do indicador de mercado de trabalho em patamares baixos, uma vez que, segundo Tobler, inexistem sinais de recuperação e a possibilidade de retomada não será na mesma velocidade da queda. As mudanças no perfil de consumo também devem prejudicar a melhora do indicador.
"O consumo não vai voltar tão rápido, haverá cautela das pessoas. Elas vão deixar de viajar, deixar de ir em locais aglomerados e não vão compensar esse gasto em outro momento. Esses setores terão impacto negativos na retomada", ressalta.
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'Apagão estatístico'
Os dados do IAEmp, da FGV , servem para mapear uma tendência do que está acontecendo no mercado de trabalho. Economistas e entidades representativas do setor produtivo vem enfrentando dificuldades para prever o impacto da crise no mercado de trabalho e no consumo das famílias e planejar ações contra a crise. Para alguns especialistas, o país vive um "apagão estatístico."
Desde janeiro, o Ministério da Economia não divulga os dados do Caged , que monitora os vínculos formais do mercado de trabalho em todos os municípios do país. A Pnad Contínua, nos moldes antigos, tem divulgação incerta para abril, diante do baixo nível de resposta obtido pelos entrevistadores do IBGE.
Já os dados de seguro-desemprego , divulgados no fim de abril pela equipe econômica, estão subestimados, como o próprio governo admitiu ao apresentá-los.
Na tentativa de evitar um “apagão estatístico” e dar respostas mais rápidas durante a pandemia, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) precisou recorrer a empresas privadas para levantar os efeitos da pandemia no setor.
Outras possibilidades, como a elaboração de um indicador mensal de emprego a partir dos microdados da Pnad, também estão em estudo por economistas e institutos de pesquisa.
Na última semana, o IBGE lançou a Pnad Covid , versão telefônica da Pnad Contínua, pesquisa que analisa as condições do mercado de trabalho. Cerca de 193 mil domicílios irão responder questões de saúde e sobre prática de home office, os motivos que impediram a busca por emprego e os rendimentos obtidos pelas famílias.
A ideia é que dados semanais sejam divulgados nos próximos dias, a fim de retratar de modo mais ágil a realidade da economia brasileira.
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"Essa pesquisa nasce da necessidade de obter informações mais rápidas sobre o impacto da pandemia no mercado de trabalho e na saúde", explica Maria Lúcia Vieira, coordenadora da Pnad Covid.