Para tentar escapar da crise econômica, um hotel startup realizou adaptações para receber os hóspedes durante a pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2) .
Empresas poderão emprestar funcionários a outros setores
No hotel, localizado na Savassi, região Centro-Sul de Belo Horizonte, check-in e check-out são feitos virtualmente . O hóspede acessa apenas o apartamento. Desta forma, os demais ambientes estão lacrados (tapumes bloqueiam o acesso ao restaurante, lobby e academia).
Antes de subir para o quarto, o capitão porteiro, que fica na calçada, instrui o hóspede a desinfectar a sola do sapato em um tapete com produto hospitalar. Na recepção, ele encontra um kit com luvas e máscara descartáveis para colocar até se dirigir ao quarto. No quarto ele também encontra mais um kit com os materiais de higiene própria.
Para poder se adequar à situação, a startup investiu R$ 150 mil nas adaptações. De acordo com o fundador e CEO da Macna Digital Hotels, rede da qual o Vivenzo Hotel faz parte, Frederico Amaral, ele tem um "certo retorno" do investimento.
Amaral informa que o Vivenzo Hotel está com 35% de ocupação no momento. Em BH, apenas 8% da capacidade da hotelaria local está ocupada, de acordo com dados da Associação Brasileira Indústria Hotéis de Minas Gerais (Abih-MG). A diária do hotel está entre R$ 230 (single) e R$ 260 (duplo).
Supremo derruba liminar e mantém redução de jornada e salário
"Estamos muito satisfeitos, apesar da ocupação da hotelaria em geral estar muito baixa, já que em Belo Horizonte o turismo é de negócios. Aqui no Vivenzo estamos tendo uma boa ocupação, algumas grandes companhias realizaram grandes bloqueios, o que deu um bom faturamento. Estamos faturando normalmente? De jeito nenhum, temos metade da ocupação do que seria se não houvesse a pandemia", disse Amaral.
Setor hoteleiro
O setor de hotelaria em Belo Horizonte tem sofrido com a chegada da epidemia, e dos 121 hotéis da capital mineira, 52 estão fechados, 43% do total, segundo a Abih-MG.
"A situação é péssima, estou com 52 (de 121) hotéis fechados e mais de 3.000 demissões que ocorreram desde março até o momento.", afirmou o presidente da Abih-MG, Guilherme Sanson.
Você viu?
"Desses 52 hotéis que fecharam, eu creio que teremos de 25 a 30 que não irão abrir mais, faliram . Não tem fôlego financeiro, nós viemos de uma crise após a Copa do Mundo, com um retorno muito pequeno e agora bateram a tampa do caixão mesmo", completou.
Inovação
Para Frederico Amaral, o diferencial de seu negócio está na inovação. "Quando desenvolvemos a startup do Hotel Vivenzo, idealizamos um hotel disruptivo, como se fosse um ' uber da hotelaria '. Então, todos os principais processos nós queriamos consertar", explica.
Segundo o executivo, a questão da higiene já era uma preocupação antes da chegada da pandemia à cidade. "Queríamos consertar por termos uma visão crítica. A higiene já era um problema comum, as pessoas sentiam alergia ao viajar, reclamavam de que as coisas não estavam tão limpas, então entendíamos que deveria ter uma limpeza melhor", conta Amaral.
China: PIB tem queda anual de 6,8% em primeiro trimestre
Ações de segurança
Para garantir algum isolamento social, os colaboradores ficam confinados no hotel por, no máximo, 45 dias. "Compensamos o desconforto
com um ambiente de trabalho bem legal, com uma galera muito jovem de 20 e poucos anos, confinados, em um hotel super bacana, tendo tudo do bom e do melhor além de receber um salário com prêmios", explica Amaral.
O CEO, porém, não nega que ocorreram casos da Covid-19 no estabelecimento. "Todo mundo melhorou muito e foi embora, todos os casos. Teve um caso recente, de um rapaz aqui da cidade mesmo, que ele estava voltando do interior de São Paulo e no pessoal que estava na casa que ele ficava tinha gente confirmada com a doença. Ficou no hotel, teve dificuldades para conseguir o exame e ver o resultado, que deu positivo. Teve os sintomas leves, de uma gripe normal, melhorou e foi embora".
Novo coronavírus: Cloroquina e xaropes passam a ter tarifa de importação zero
Amaral alerta, entretanto, que o hotel não mantém hóspedes que estejam em estado crítico e salienta que lá não é uma estrutura hospitalar e não possui ambulância
:
"Não, a gente não tem (ambulância). Estamos em um lugar bem localizado e o perfil não é esse. Não podemos ficar com uma pessoa que estiver com a situação muito crítica, ela tem que procurar um hospital
, o hotel não é lugar pra ela ficar. Hotel é lugar para ficar uma pessoa que está apenas na manutenção da saúde dela, esperando melhorar. Não pode ser em um estado crítico", reitera.
"Se percebemos que alguém está em estado crítico, com febres altas, o hotel não é lugar. Não temos essa estrutura hospitalar. Iremos 'encher o saco' desse cara para que ele vá ao hospital para ver o que está acontecendo", completa.
Há no local a presença de três enfermeiras intensivistas e dois psicólogos para darem suporte aos colaboradores e hóspedes. Caso algum hóspede seja infectado pelo vírus fora do hotel, ele será alocado em um andar exclusivo.
No mundo pós-pandemia, economia dos EUA pode mudar completamente
"O papel das enfermeiras é para cuidar dos colaboradores e, de quebra, dão um apoio para algum hóspede que queira tirar dúvidas. São enfermeiras consultoras do hotel para atender aos colaboradores. A responsabilidade delas no contrato é com a vida dos colaboradores e com a parte da segurança biológica
", comentou Frederico.
Ponto de vista
Para o presidente da Abih-MG, Guilherme Sanson, no entanto, as mudanças realizadas pelo Vivenzo Hotel não garantem que funcionários e hóspedes estão livres do contágio pelo novo coronavírus. "É muito difícil, mesmo seguindo todas as orientações da OMS , você ter toda essa certeza de segurança. Ele está colocando em risco não só os colaboradores, mas os próprios clientes", opina o dirigente.