Consumo de arroz e feijão caiu mais de 40% em 15 anos no Brasil com a alta dos industrializados
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Consumo de arroz e feijão caiu mais de 40% em 15 anos no Brasil com a alta dos industrializados

A combinação típica do prato dos brasileiros, arroz e feijão, está ficando menos frequente no prato das famílias brasileiras. Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), divulgada nesta sexta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que o consumo domiciliar desses cereais caiu 41% entre 2003 para 2018. Os itens básicos da cesta do consumidor perderam espaço nesses 15 anos para os alimentos ultraprocessados, que avançaram 56% no período.

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Em 2003, os brasileiros compraram 44 kg de arroz e feijão . Em 2018, esses itens representavam 25,6 kg. No último recorte da pesquisa divulgada pelo IBGE, o gasto menor com esses produtos já havia sido identificado.

Os números indicam que a população está comendo menos cereais e passaram a se alimentar a partir de outros produtos. Segundo o IBGE , itens como arroz e feijão perdem espaço com o aumento na compra de produtos prontos, como biscoitos, doces, sorvetes, e de bebidas como cerveja e refrigerante.

O consumo de alimentos preparados e misturas industriais cresceu 56% em 15 anos, enquanto bebidas alcoólicas e não alcoólicas avançou 19% e 17%, respectivamente. Além desses produtos, o brasileiro dobrou o consumo de ovos no período. São mais de 3,3 kg desse produto adquiridos por cada brasileiro a cada ano.

A pesquisa não leva em consideração o consumo dos brasileiros fora de casa. Dados da POF já indicavam que o comprometimento da renda com alimentação na rua nesse período entre 2003 e 2018 passou de 24,1% para 32,8% do orçamento. No entanto, o IBGE estima estima que o consumo de alimentos no domicílio corresponda a, pelo menos, 70% do total de calorias consumidas pela população.

O crescimento na participação dessas despesas com processados e industrializados deve acender um alerta na qualidade da dieta dos brasileiros. Segundo dados do Ministério da Saúde, a cada ano, o país ganha 1 milhão de novos casos de obesidade no país. Entre 2006 e 2018, o país dobrou o número de pessoas nessa situação, atingindo cerca de 20% da população.

A pesquisa feita pelo IBGE também que a queda no consumo de cereais ocorreu em todos as faixas de renda da população. Entre os mais pobres, com rendimento médio mensal domiciliar de até dois salários mínimos, a queda foi de 41% no período. Entre os mais ricos, com rendimento acima de 25 salários, a redução foi de 31%.

Em entrevista ao GLOBO em 2019, Carlos Augusto Monteiro, médico e professor titular da Faculdade de Saúde Pública da USP, afirmou que o crescimento na participação das alimentos preparados e bebidas ou infusões deve acender um alerta na qualidade da dieta dos brasileiros.

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"A tendência de troca dos alimentos de arroz e feijão por alimentos processados continua. Os dados iniciais do IBGE mostram a causa desse aumento da obesidade: as pessoas trocaram a alimentação tradicional por alimentos ultraprocessados. É muito ruim. O arroz e feijão são marcadores da qualidade dos alimentos brasileiros, é o que dá saciedade na dieta", disse.

Quanto maior a renda, mais ultraprocessados

A pesquisa mostra, também, que as famílias mais ricas adquiriam o dobro de alimentos ultraprocessados que as famílias mais pobres. Enquanto a disponibilidade desse tipo de alimento, que deveria ser evitado, era de 12,5% do total de calorias nos lares com rendimento mais baixo, nas casas com maior faixa de renda era o dobro, chegava a 24,7%.

Além da maior aquisição de ultraprocessados, as famílias com maior rendimento adquiriam mais alimentos processados que as com menor faixa de renda (11,1%, contra 8,4% das calorias totais).

As famílias com menor poder aquisitivo adquiriam mais alimentos naturais ou minimamente processados que as com maior renda (55,6% contra 44,2%). A aquisição de ingredientes culinários processados também era maior nas casas com os menores rendimentos.

A POF é o levantamento mais detalhado sobre os padrões de consumo dos brasileiros. Ela é realizada desde os anos 1970. Nesta edição, técnicos do IBGE visitaram cerca de 58 mil dos 70 milhões de lares brasileiros, em 1,9 mil cidades. A coleta de dados durou um ano.

As famílias que participaram da pesquisa tiveram de preencher cadernetas e questionários com todos seus hábitos de consumo. Em média, elas eram compostas por três pessoas.

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Com o levantamento, também será possível identificar quantas famílias brasileiras vivem em insegurança alimentar. Ou seja, têm acesso escasso a alimentos e podem estar em situação de fome.

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