Unidade da livraria Leitura no shopping Ibirapuera foi inaugurada em janeiro deste ano
Ludmila Pizarro
Unidade da livraria Leitura no shopping Ibirapuera foi inaugurada em janeiro deste ano

Uma empresa que cresceu em média 10% nos últimos cinco anos e não é ligada a tecnologia, pelo contrário, está atrelada a um mercado totalmente analógico: o livro impresso.

Essa é a realidade da Livraria Leitura, que em 2020 deve se tornar a maior rede de livrarias físicas do Brasil com 79 unidades.

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A última loja inaugurada, a 73ª, foi a do shopping Ibirapuera , zona Sul da capital paulista, no dia 30 de janeiro. Com isso, a Leitura igualou a quantidade de lojas da Saraiva, que antes tinha o maior número de livrarias físicas no território nacional.

No primeiro semestre de 2020, a Leitura ainda vai abrir unidades em Juiz de Fora (MG), Serra (ES), no Shopping  Santana Parque, zona Norte da cidade de São Paulo e uma mega store no Parkshopping em Brasília.   

“São cinco lojas no primeiro semestre e pelo menos mais duas no segundo, totalizando sete novas lojas. O investimento, não é possível dizer com exatidão porque estamos avaliando o tamanho das lojas do segundo semestre, mas está próximo de R$ 10 milhões . Só na mega store de Brasília, que terá cerca de mil metros quadrados, são R$ 3,5 milhões”, explica o presidente da Leitura, Marcus Teles.

Alguém falou em crise?

Para Marcus Teles, o setor livreiro não enfrenta um problema estrutural e sim os efeitos de uma crise econômica vivida pelo País.

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“Houve uma queda de faturamento nos anos de crise, entre 2015 e 2017, junto com o restante da economia, mas no fim de 2019 já percebemos uma retomada . Ela só não conseguiu superar a retração do início do ano, por isso (o setor livreiro) fechou em queda. Acredito, porém, que as pessoas estão lendo mais”, avalia Teles.

Segundo pesquisa da Associação Nacional das Livrarias (ANL) e da GfK, o setor fechou 2019 com uma queda de faturamento de 7% frente o ano anterior.

Porém, a pesquisa salienta que no início do ano passado o faturamento amargou um recuo de cerca de 20% nas vendas, que foi diminuindo ao longo do ano. O auge da retomada, de acordo com a análise da GfK, se deu em dezembro de 2019, quando houve crescimento de 11,4% em unidades vendidas e 7,7% em faturamento na comparação com o mesmo período de 2018.

A situação de algumas redes de livrarias, como a Saraiva e a Cultura, que estão em recuperação judicial , não reflete um problema comum a todo o setor livreiro na avaliação de Teles. Mas ele pondera que a guerra de preços  com as lojas virtuais pode ter sido um dos fatores que gerou a situação.

“Tem um problema. Na internet se vende, muitas vezes, como margem negativa , no prejuízo, para ganhar mercado. As vezes, um frete grátis já leva a margem toda de um livro. O que aconteceu com essas empresas é que elas entraram nessa guerra de preço, se endividaram e veio a crise. Com dívida e crise econômica, fica difícil mesmo”, aponta.

Estratégia

Empresário Marcus Teles preside a livraria Leitura que tem mais de 70 lojas próprias
Ludmila Pizarro
Empresário Marcus Teles preside a livraria Leitura que tem mais de 70 lojas próprias

“A Leitura não entrou nessa guerra. Tanto que a nossa loja virtual ficou fechada cerca de quatro anos. Focamos nas lojas físicas, e voltamos a vender na internet em agosto do ano passado. E nosso objetivo é oferecer mais serviços, curadoria, o cliente pode comprar pelo site, buscar na loja e não pagar frete”, explica Teles.

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Segundo Marcus Teles, a Leitura “se preparou para a crise”. Entre as ações tomadas pela empresa principalmente entre 2015 e 2019, Teles cita não ter se endividado, fechar lojas deficitárias , pelo menos uma por ano, e regionalizar, buscando cidades com poucas livrarias principalmente nas regiões Norte e Nordeste do País.

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“Mas não fomos os únicos , outras livrarias como a Curitiba, a Martins Fontes, e a Livraria da Villa também cresceram no período mais crítico. Dependeu muito do caminho que a empresa tomou”, avalia.

Ainda sobre a internet, Teles afirma que se trata de um importante canal de vendas , mas pondera. “O que ninguém quer é uma forma de vender com prejuízo, abaixo do custo, para ganhar mercado, e depois abrir um shopping virtual para ganhar comissão em cima das vendas. Isso atrapalha o mercado como um todo”, critica.

Segundo a pesquisa da ANL e GfK, em 2019, os outros canais que não livrarias, que incluem os canais digitais cresceram 20,7% em faturamento. Mesmo assim, representam apenas 10,5% do total. Isso significa que as livrarias físicas foram responsáveis por 89,5% de todos os livros vendidos no Brasil ano passado.    

Sua excelência, a loja

Outra estratégia defendida por Teles, foi o investimento na loja como um espaço de lazer. Um levantamento interno apontou que 70% dos clientes da Leitura entram nas lojas sem saber o que vai levar.

O tempo médio de permanência também foi calculado. Em uma mega store é de cerca de uma hora e de uma loja convencional de pelo menos 30 minutos.

“Há 30 anos atrás, o cliente entrava na loja já sabendo qual livro iria comprar. Isso mudou completamente, ele quer ver as novidades, os lançamentos, passear. Livraria virou local de descanso e ponto de encontro ”, analisa o empresário.

A realização de  cursos e lançamentos também é considerada por Teles um fator importante para atrair o consumidor.   

E o livro digital?

“Se você me perguntar se o livro digital vai acabar com o impresso , eu te respondo: não, não vai”. Com essa afirmação Teles é taxativo ao afirmar que o temor vivido pelos donos de livraria há cerca de 10 anos é, hoje, águas passadas.

Segundo Teles, no segmento de literatura, o livro digital no Brasil representa cerca de 7% das vendas e no geral, esse índice está em torno de 3%.

“Mesmo em mercados mais consolidados como os Estados Unidos e o Reino Unido , o livro digital chegou a 20% das vendas e já desceu para um patamar de 18% nos dias atuais”, afirma.

“O livro digital é um complemento , para quando o leitor vai viajar, mas uma pesquisa feita nos Estados Unidos revelou que mesmo entre os usuários de livros digitais, mais de 80% ainda prefere ler o livro físico”, diz Teles.

“É diferente de uma notícia, que você lê rapidamente e não precisa guardar. Um livro de 500 páginas não é confortável de ler no celular. Por isso, acredito que o livro físico e as livrarias ainda vão viver por mais 30, 40 anos. Muito além disso é difícil fazer previsões”, conclui.

Raio X

  • A Livraria Leitura foi fundada em Belo Horizonte e completa 53 anos em junho de 2020.
  • São 73 lojas em 20 estados brasileiros; 64 estão em shoppings e seis em rodoviárias ou aeroportos.
  • Conta com cerca de 1.900 funcionários
  • Além das lojas físicas e da loja virtual, a Leitura tem outros negócios. Entre eles, duas distribuidoras, uma de livros e outra de papelaria e material de escritório e um clube do livro. No fim de 2018, a Leitura adquiriu a Editora Itatiaia que já mantinha a marca da centenária Editora Garnier.

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