A desigualdade de gênero no trabalho doméstico só deve acabar daqui a 209 anos, de acordo com o relatório "Um passo decisivo para a igualdade de gênero: Em pró de um futuro melhor de trabalho para todos", divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) nesta quinta-feira (7), em decorrência do Dia Internacional da Mulher.
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Segundo o estudo, um dos maiores fatores que impedem a equivalência de oportunidades entre homens e mulheres nas empresas é a desigualdade de gênero que ainda existe no trabalho doméstico. Enquanto as mulheres gastam, em média, 4 horas e 25 minutos em atividades da casa, os homens passam apenas 1 hora e 23 minutos realizando esse tipo de tarefa. Nesse ritmo, de acordo com a OIT, a igualdade entre homens e mulheres só será atingida no ano de 2228.
"Uma série de fatores está bloqueando a igualdade no emprego, e o que desempenha um papel maior é o trabalho de cuidar", aponta a diretora do Departamento de Condições de Trabalho e Igualdade da entidade, Manuela Tomei. Entre as pessoas que cuidam da casa em tempo integral, 21,7% são mulheres enquanto apenas 1,5% são homens.
Tomei ressalta que, em 20 anos os homens passaram a realizar apenas mais oito minutos de tarefas domésticas
. “Nos últimos 20 anos, a quantidade de tempo que as mulheres gastaram com cuidados não remunerados e trabalho doméstico quase não diminuiu, e a de homens
aumentou apenas oito minutos por dia. Nesse ritmo, serão necessários mais de 200 anos para alcançar a igualdade no tempo gasto em trabalho de assistência não remunerado", explicou.
Dentro desse cenário de trabalho doméstico
, as mães são ainda mais prejudicadas, sofrendo com o que a OIT chama de ""penalização profissional da maternidade". O relatório da aponta que apenas 45,8% das mulheres com filhos pequenos então empregadas, enquanto a taxa de ocupação entre as mulheres que não tem crianças é de 53,2%.
A organização mostra, ainda, que nem a dificuldade de encontrar um emprego não é o único problema para as mães de filhos pequenos: elas também tem mais dificuldade durante a trajetória profissional como um todo, conseguindo menos cargos de liderança.
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Apenas 25,1% dos cargos de diretoria são ocupados por mulheres com crianças de menos de seis anos. Caso elas não tenham filhos nesta idade, o número aumenta para 31,4%, Já com os homens, 74,9% dos que tem filhos pequenos tem ocupação, frente a 68,6% dos que não possuem crianças nesta idade.
Mulheres são maioria, mas estão mais desempregadas
Segundo os dados da OIT , no ano passado, a probabilidade de uma mulher conseguir um emprego era 26% menor que a de um homem, uma queda de apenas 1,9% na diferença desde 1991. Ou seja: dentro dos últimos 27 anos, a desigualdade de gênero no trabalho quase não mudou.
A entidade aponta que, atualmente, existem 647 milhões de mulheres em idade de trabalhar (21,7% do total da população feminina) e 41 milhões de homens (ou 1,5% de sua população total). Desses, apenas 45,3% das mulheres estão empregadas, enquanto 71,4% da ala masculina tem um trabalho.
Mesmo em maior número, 20% das mulheres ainda recebem menos que os homens para exercer um mesmo cargo. Entre os postos de trabalho mais altos, como cargos executivos e de diretoria, por exemplo, apenas 27,1% são ocupados por mulheres.
Apesar de estarem menos presentes nestes cargos, as mulheres estudam mais: enquanto 44,3% das mulheres em cargo de direção cursaram ensino superior, apenas 38,3% dos homens nessa mesma situação tem diploma. Memso assim, 41,5% das mulheres que têm cursos universitários estão desempregadas, enquanto que só 17,2% dos homens que fizeram faculdade ficam de fora do mercado de trabalho .
A Organização Internacional do Trabalho ressalta que, para alcançar a igualdade de gênero , são precisas mudanças políticas. Segundo Manuela Tomei, não basta estabeler regras dentro das empresas em que o cumprimento ou não seja voluntário: é preciso que os países adotem leis específicas para garantir a igualdade de tratamento, oportunidades e resultados.
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As mesmas medidas para acabar com a desigualdade de gênero foram pontuadas por Guy Ryder, diretor-geral da organização: "Precisamos implementar uma agenda transformadora que inclua a imposição de leis e regulamentações – talvez possamos até mesmo revisitar essas leis e regulamentos – apoiada pelo investimento em serviços que nivelem o campo de atuação para as mulheres, como cuidados e proteção social, e uma abordagem mais flexível para as horas de trabalho e para as carreiras profissionais", disse.