A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal aprovou, por unanimidade, a indicação do economista Roberto Campos Neto como presidente do Banco Central (BC). Nesta terça-feira (26), ele passou por sabatina, em que defendeu a autonomia da instituição, a redução do Estado brasileiro e a adoção de políticas econômicas liberais no País.
Neto do economista Roberto Campos, o indicado pelo governo para chefiar o Banco Central ainda precisa ter seu nome aprovado pelo plenário do Senado, após a aprovação da CAE. Além da indicação dele, também foram aprovadas as de Bruno Serra e João Manoel do Pinho Mello para a diretoria da instituição, e de Flávia Martins Sant’anna Perlingeiro ao cargo de diretora da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Todas as confirmações, no entanto, requerem aprovação do plenário da Casa.
O avô do possível futuro presidente do BC é um dos grandes expoentes do pensamento liberal no Brasil e ocupou, entre outros cargos, o Ministério do Planejamento e Coordenação Econômica no governo de Castelo Branco, durante a ditadura militar. Roberto Campos Neto, alinhado à linha de pensamento do avô, afirmou, em seu discurso inicial, que o Estado brasileiro se tornou "grande demais, ineficiente, excessivamente custoso e não atende a muitas das necessidades básicas de nossa população".
"A nação já percebe a necessidade de reformas e precisamos empregar essa oportunidade na criação de uma cultura em que haja mais empreendedores e menos atravessadores", disse, citando a busca pela adoção de uma agenda "liberalizante".
"É hora de fazer mais com menos recursos. É necessário eficiência, transparência, prestação de contas e mensuração de impacto quanto ao uso de recursos públicos. E, talvez mais importante que isso, é necessário que o Estado abra espaço para a atividade privada, saindo de cena, ou reduzindo drasticamente sua atuação, em diversas áreas", declarou.
A autonomia do BC, citada por Roberto Campos Neto , agrada ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que viu no economista a capacidade de gerir com eficiência a instituição. O indicado afirma que o objetivo é "aprimorar o arranjo institucional de política monetária [definição dos juros para atingir as metas de inflação], para que ela dependa menos de pessoas e mais de regras, e para que estejamos alinhados à moderna literatura sobre o tema e aos melhores pares internacionais".
O atual presidente do BC, Ilan Goldfajn, é citado por senadores em seus questionamentos a Campos Neto, que vão desde a concentração bancária até explicações para a crise previdenciária brasileira e os rumos com a nova Previdência. De acordo com o tom das respostas, a tendência é de continuidade do trabalho que estava sendo feito durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB).
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Reforma da Previdência e Sistema Financeiro
Campos Neto defendeu a necessidade de se aprovar a reforma da Previdência e "agregar a sociedade" em torno dessa e de outras questões que envolvem o ajuste de contas, entendido por ele como necessário.
"Quanto à questão fiscal [relativa às contas públicas], o País precisa avançar na estratégia dos ajustes e reformas, em particular, mas não apenas, na reforma da previdência, para que possa colocar o balanço do setor público em trajetória sustentável", afirmou. "A estabilidade fiscal é fundamental para a redução das incertezas, o aumento da confiança e do investimento, e o consequente crescimento da economia no longo prazo", acrescentou.
Caso assuma a presidência do BC, o economista afirmou pretender trabalhar pela modernização do sistema financeiro, para que ele possa ser "líquido, capitalizado e bem provisionado". Segundo ele, novas tecnologias, como o uso de inteligência artificial, identidade digital, pagamentos instantâneos, "open banking" e muitas outras inovações estão alterando os modelos de negócios e os serviços financeiros e precisam de conhecimento para que o processo seja bem compreendido nacionalmente.
“Vários estudos mostram que a competição no Brasil não é muito diferente do mundo emergente. O Brasil, apesar de ser concentrado [o sistema financeiro], dá pra dizer que existe competição. No entanto, essa competição não gerou um spread [juros bancários] adequado”, declarou. No Brasil, [a concentração do mercado] é muito proporcional à registrada em outros países, como Alemanha, Itália e Inglaterra. É equivalente”, afirmou.
"O mundo passa atualmente por uma onda de inovação e mudanças. É crucial pensar hoje em como será o sistema financeiro no futuro e preparar o Banco Central do Brasil para desempenhar apropriadamente suas funções nesse novo ambiente, que será certamente baseado em tecnologia e no fluxo rápido de informação", declarou.
Questionado sobre o lucro crescente dos quatro bancos brasileiros em 2019, ele afirmou que avaliar isoladamente esses indicadores "não é uma boa métrica" para avaliar a concentração bancária no País.
“Tem que ver qual é o lucro sobre o capital empregado. Retorno dos bancos já foi bem maior, 19%, 20%, já caiu para 12%. Bancos rendiam mesma coisa que títulos do governo. Agora voltou para alguma coisa como 15%. Apesar de o lucro ser crescente, rentabilidade baixou muito, voltou a crescer, mas está abaixo do máximo”, justificou Campos Neto.
Carreira de Roberto Campos Neto
Formado em Economia pela Universidade da Califórnia, com especialização em Economia com ênfase em Finanças, também pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles, Campos Neto tem 49 anos e trabalhou no Banco Bozano Simonsen de 1996 a 1999, onde ocupou os cargos de Operador de Derivativos de Juros e Câmbio (1996), Operador de Dívida Externa (1997), Operador da área de Bolsa de Valores (1998) e Executivo da Área de Renda Fixa Internacional (1999).
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Campos Neto, 49, construiu sua carreira como operador financeiro e estava no Santander Brasil antes de aceitar o convite de assumir a presidência do Banco Central . Sua posse depende ainda da aprovação dos senadores.