No Brasil, desigualdade para de cair após 15 anos e número de pobres cresce 11%
Brasil passou de 10º para 9º colocado entre os 189 países mais desiguais do mundo; em 2017, 15 milhões de brasileiros viviam com até R$7,3 por dia
Por Brasil Econômico |
O índice de desigualdade social no Brasil ficou estagnado em 2017. É a primeira vez que isso acontece nos últimos 15 anos, apontou a Organização Não Governamental (ONG) Oxfam Brasil no relatório "País estagnado: um retrato das desigualdades brasileiras", divulgado nesta segunda-feira (26).
De acordo com as informações da entidade, o nível de desigualdade social no Brasil apresetava queda desde 2002, mas parou de cair entre os anos de 2016 e 2017.
Para fazer essa medição, o levantamento utiliza os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), feita pelo Insituto Brasileiro de Georgrafia e Estatísica (IBGE), e o índice de Gini de renda per capita, que mede a concentração de renda de um país. Quanto maior for o índice, mais concentrada é a renda e, portanto, mais desigual é o local. No Brasil, o índice ficou estagnado, em 2017, em 0,549.
Com isso, o Brasil subiu uma posição no ranking que mede os países mais desiguais do mundo, passando da 9ª para a 10ª posição. A lista, divulgada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), conta com 189 países diferentes.
Em nota, a diretora-executiva da ONG, Katia Maia, afirmou que "o país estagnou em relação à redução das desigualdades, e quem está pagando essa conta são os mesmos de sempre: as pessoas em situação de pobreza, a população negra e as mulheres."
População mais pobre apresentou queda na renda em 2017, enquanto mais ricos registraram aumento em seus rendimentos
Segundo a Oxfam Brasil , o número de pobres aumentou pela terceira vez consecutiva. Houve crescimento de 11% em 2017, atingindo 7,2% da população brasileira, o que é equivalente a 15 milhões de pessoas. Esse grupo sobrevive com uma renda de até US$ 1,90 por dia, ou seja, cerca de R$ 7,3 diários, de acordo com critérios estabelecidos pelo Banco Mundial (BM). O levantamento divulgou, ainda, que três em cada dez brasileiros viviam com renda mensal menor do que um salário mínimo no ano passado, que era de R$ 937.
Os 10% mais pobres do País viram suas rendas caírem 9% de 2016 para 2017. Os ganhos dessa população eram, em média, de R$ 217,63 mensais em 2016, que passaram para R$ 198,03 no ano passado. Enquanto isso, os ganhos das pessoas 10% mais ricas cresceram, atingido R$ 9.519,10 ao mês, em média.
A ONG também informou que o rendimento médio do 1% mais rico é 36,3 maior do que o rendimento dos 50% mais pobres.
Nível de desigualdade social no Brasil ficou maior para mulheres e negros
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De acordo com o levantamento, pela primeira vez em 23 anos a renda das mulheres caiu em relação à dos homens. Os dados mostram que, em 2016, as mulheres ganhavam o equivalente a 72% do salário dos homens, número que recuou para 70% em 2017.
No ano passado, a renda média de mulheres era de R$ 1.798,72, enquanto a de homens era de R$ 2.578,15.
No grupo dos 10% mais ricos, os homens tiveram aumento de quase 19% em suas rendas, enquanto o aumento feminino foi de 3,4%. Já na população 50% mais pobre, os homens tiveram seus salários reduzidos em 2%, e as mulheres, em 3,7%.
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A diferença salarial entre negros e brancos também aumentou. Enquanto os negros ganhavam, em média, 57% da renda dos brancos em 2016, o número caiu para 53% em 2017. Na prática, enquanto o salário dos brancos alcançou, em média, R$ 2.924,31, o dos negros registrou quase a metade do valor: R$ 1.545,30.
Entre os 50% mais pobres do País a desigualdade por cor da pele continua: em 2017, os negros pobres tiveram redução de 2,5% em suas rendas, registrando salários de cerca de R$ 658,14. Enquanto isso, os brancos pobres receberam R$ 965,19 em média de pagamentos mensais, um crescimento de 3%.
Relatório apontou problemas que levaram à piora nos índices
A Oxfam Brasil discutiu os principais aspectos que levaram à piora dos números da desigualdade social no Brasil. A ONG apontou que a redução dos gastos sociais, provocada pelo teto de gastos , medida aprovada pelo presidente Michel Temer, que congelou a quantidade de dinheiro destinada às despesas públicas por 20 anos, é um dos fatores responsáveis pelos resultados.
De acordo com o relatório, o volume de gastos sociais no Brasil voltou ao patamar registrado em 2001. O levantamento aponta a importância desses gastos para a melhora do País. "os gastos sociais têm sido fundamentais no combate à pobreza e às desigualdades no país. O efeito geral das políticas sociais no Brasil tem sido progressivo, ou seja, tem chegado mais a quem mais precisa", diz.
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Para a diminuição da desigualdade social no Brasil
, a entidade afirma que são necessárias mudanças nas arrecadações e nos gastos do País. Além de criticar a PEC do teto de gastos, a Oxfam ressalta que o sistema tributário do Brasil é contrário ao modelo empregado por países desenvolvidos, uma vez que o Brasil privilegia impostos indiretos (de produção e consumo) em vez dos que incidem diretamente sobre a renda, fazendo com que a população pobre acabe pagando, proporcionalmente, mais impostos.