Jovens e mulheres negras são os mais afetados pelo desemprego no Brasil
Segundo pesquisa feita pelo Ipea, quando a taxa de desocupação geral sobe, o acréscimo para essas parcelas da sociedade é pelo menos 50% maior
Por Brasil Econômico |
Jovens de 18 a 29 anos e mulheres negras estão muito mais vulneráveis ao desemprego do que os outros extratos sociais do Brasil. É o que mostra o estudo publicado nesta quarta-feira (31) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), baseado em dados de 2012 a 2018 presentes na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua.
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De acordo com a pesquisa, para cada ponto percentual adicional na taxa de desemprego geral, a desocupação entre jovens de 18 a 29 anos sofre, em média, um aumento de 1,6 ponto percentual. Entre as mulheres negras, o acréscimo é de 1,5 ponto percentual. Para os trabalhadores entre 30 e 64 anos e para as mulheres brancas, a variação é de 0,7 e 1,3 ponto, respectivamente.
Para que os resultados do estudo do Ipea fiquem mais claros, imagine a seguinte situação hipotética: em outubro, o desemprego geral chega a 10% e o desemprego entre jovens e mulheres negras está em 15% e 18%, nesta ordem. Se em novembro o desemprego geral passar para 11%, por exemplo, a nova taxa entre jovens e mulheres negras será de 16,6% e 19,5%, respectivamente.
Para chegar a estas conclusões, os pesquisadores primeiro compararam a taxa de desemprego de cada estado com a proporção de pessoas sem trabalho há pelo menos 12 meses. Depois, relacionaram a desocupação geral com a taxa de desemprego do grupo analisado em cada unidade da federação, apresentando também dados por faixa etária e escolaridade .
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Os resultados também mostraram uma diferença menor na vulnerabilidade ao desemprego segundo o grau de instrução, com uma diferença de 0,3 ponto percentual entre trabalhadores com ensino médio incompleto e completo. “A falta de experiência e a necessidade de conciliar trabalho com formação educacional são alguns dos fatores que dificultam a entrada dos jovens no mercado de trabalho”, destacou Maíra Franca, uma das autoras do trabalho.
Desemprego por período
Em números absolutos, as maiores taxas de desemprego foram registradas entre o terceiro trimestre de 2014 e o primeiro trimestre de 2017, quando a desocupação aumentou em mais de 6 pontos percentuais e a parcela de pessoas em busca de trabalho por um ano ou mais cresceu 5 pontos. Neste mesmo período, o desemprego entre as mulheres negras cresceu 8 pontos, contra 4,6 para os homens brancos.
Entre 2014 e 2017, na análise por escolaridade, os trabalhadores menos escolarizados foram os mais impactados: alta de 7 pontos percentuais entre aqueles com ensino médio incompleto, contra 5,9 pontos entre trabalhadores com ensino médio completo. Em relação à faixa etária, o desemprego entre os jovens, que já era elevado, subiu 10,6 pontos, enquanto os adultos experimentaram um aumento de 4,8 na taxa.
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“Os efeitos das oscilações da economia podem ser bastante heterogêneos. Conhecer em que medida essas oscilações afetam o desemprego dos diferentes grupos socioeconômicos permite que se desenhe políticas públicas de forma mais adequada para cada público”, explica Miguel Foguel, pesquisador do Ipea e coautor do trabalho.