Bastou a crise econômica dar uma amenizada para que os brasileiros voltassem a gastar mais do que podiam. Essa é a principal conclusão de uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito ( SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) nas 27 capitais brasileiras. Com uma oferta de crédito mais fácil impulsionada pela queda nas taxas de juros, seis em cada dez brasileiros admitiram ter feito compras por impulso ao longo do mês de fevereiro.
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Segundo a pesquisa, as aquisições mais feitas nessa modalidade impulsiva de maneira geral foram roupas, calçados e acessórios (19%), compras em supermercado (17%), perfumes e cosméticos (14%), seguido por idas a bares e restaurantes (13%). Porém, na segmentação por gênero, 23% das mulheres apontaram peças de vestuários e acessórios como os itens mais comprados por impulso, enquanto os produtos eletrônicos foram os que mais atraíram os homens (13%).
A retomada dos gastos excessivos num momento em que o índice de desemprego continua alto e a economia ainda não demonstra sinais claros de que está definitivamente consolidada preocupa. Muitos brasileiros estão antecipando ou comprometendo rendas futuras com ao realizar os desejos de consumos represados durante a crise econômica. Mas a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawuati, relembra que "a regra do bolso diz que o consumidor não deve comprometer mais do que 30% da própria renda com prestações. Dependendo da realida financeira, essa porcentagem pode ser ainda menor em certos casos".
Além disso, fevereiro é um mês em que tradicionalmente boa parte da renda das famílias está comprometida com gastos extras como matrícula e material escolar, IPVA, IPTU etc. Por isso a democratização do crédito no Brasil, principalmente entre as classes menos favorecidas, tem que ser usada com cautela já que muitos consumidores ainda não aprenderam a lidar com as consequência de um evental mau uso do crédito.
"Consumidores menos atentos podem ser iludidos pelos valores baixos das parcelas e pelos prazos a perder de vista. A falsa sensação de comprar sem pagar nada que o crédito proporciona tende a levar consumidores desinformados ao superendividamento e à inadimplência", alerta Marcela Kawauti.
Perigo na internet
Porém, fora os estímulos e os riscos tradicionais associados ao uso descomedido do crédito, 33% dos entrevistados indicaram que a internet é o meio que mais estimula compras ao facilitar o pagamento e por isso se torna o ambiente mais perigoso para aqueles que não conseguem se controlar antes de comprar.
Lojas de departamento (23%), supermercados (13%) e os shoppings centers (12%) vieram na sequência dos indicados pelos entrevistados como os tipos de estabelecimento que proporcionam aos consumidores uma facilidade maior para dividir em várias vezes e, assim, cair na tentação da compra por impulso. 15% deles admitiram que parcelam as compras no maior número possível de prestações.
Nesse caso, porém, 31% se descreveram mais prudentes e afirmaram levar em consideração a alternativa com um número de parcelas que mais se encaixa na sua realidade financeira. Já outros 18% optam pela menor quantidade de prestações disponíveis e pagam, de preferência, à vista.
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Segundo a economista Marcela Kawuati, os brasileiros deveriam fazer uso mais frequente dessa modalidade de pagamento. "Mesmo que o lojista não ofereça descontos, é sempre preferível evitar parcelamentos, principalmente em momentos de incertezas econômicas e de desemprego como o atual. Quanto menos o consumidor comprometer a renda futura com dívidas e juros, mais próximo ele estará de uma vida financeira equilibrada", afirma Marcela.
No próprio levantamento, 36% admitiram que receberam algum tipo de desconto caso pagassem por determinada compra em dinheiro ao invés do débito ou de alguma modalidade a prazo. Isso porque o pagamento à vista é vantajoso tanto para consumidores quanto para lojistas.
"Mesmo que a loja não ofereça desconto (o que é o caso de 52% dos entrevistados), é recomendado que o consumidor faça uma proposta, explicando que é um bom negócio para ambos os lados. O consumidor ganha uma desconto no produto e o lojista recebe o dinheiro no ato, o que o isenta do risco de inadimplência e de taxas por antecipação de recebíveis", explica Kawauti.
Cartão de crédito: herói ou vilão?
A maioria dos 910 consumidores entrevistados também afirmou que o cartão de crédito é a f orma de pagamento favorita na hora de parcela. 66% dos entrevistados citaram essa como a primeira modalidade que recorreram quando resolveram comprar à prazo. Numa distante segunda colocação, 13% citaram o crediário e 4% mencionaram o financiamento com opção de preferência. Antes mais cobiçado, o cheque pré-datado foi citado por apenas 1% dos entrevistados.
O educador financeiro do portal "Meu Bolso Feliz", José Vignolli, porém, ressalta que o cartão de crédito nem sempre é um vilão. Ele é um recurso de pagamento que se bem utilizado pode ajudar na aquisição de um bem de consumo necessário ou muito desejado e pode até mesmo socorrer as pessoas em momentos de dificuldade. Além disso, o cartão pode servir como recurso até para controlar os gastos e economizar.
“Se utilizado com consciência, o cartão de crédito pode ser um aliado na hora da organização das finanças, já que é uma ferramenta prática e que permite concentrar todos os pagamentos em um único dia, deixando o consumidor livre para aplicar o dinheiro como bem entender durante o restante do mês", explica Vignolli. Dessa forma, o comprador até pode aplicar o dinheiro e fazê-lo render um pouquinho antes de debitar de sua conta. Tudo isso, porém, exige organização e planejamento.
Quer pagar como?
A pesquisa também revelou que mais da metade (53%) dos consumidores enfrentaram recentemente alguma situação em que o comerciante impôs dificuldades em aceitar certa modalidade de pagamento.
Os meios que mais sofrerem rejeição foram o crediário (33%) e o cheque pré-datado (29%). Outros 24% dos entrevistados relataram que não conseguiram comprar usando cartão de crédito e 21% que tiveram insucesso ao tentar usar o cheque ainda que à vista.
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Essa dificuldade imposta ou a recusa completa em aceitar determinada modalidade de pagamento fez com que 31% desses consumidores desistissem das compras . Outros 29% recorreram ao pagamento à vista para levar o produto para casa.