Imagine algo de que você gosta muito: agora pense se você se especializasse nisso e fosse tão bem sucedido que acabasse se tornando um dos nomes mais importantes da área. Já imaginou? Pois foi isso o que aconteceu com o profissional Daniel Lee, de 33 anos, o primeiro juiz brasileiro que se tornou membro da maior entidade de churrasco do mundo, a Kansas City Barbecue Society (KCBS), nos Estados Unidos.
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A especialização no modelo de churrasco americano, tornou-o um dos principais pitmaster – mestre churrasqueiro –do mundo. Assim, além de ser profissional da área e participar de competições, também pode ministrar cursos para formar novos especialistas.
Origem
Antes mesmo de assumir o negócio da família, Lee comenta que desde a adolescência sempre se preocupou em não gerar gastos à família, e que, portanto, sempre procurou trabalhar para se sustentar. “Na época da faculdade de administração preferi estabilidade em vez da instabilidade do comércio, e assim atuei no mercado corporativo por oito anos. Depois disso, quando me senti preparado, assumi as atividades do negócio familiar, por onde fiquei por mais de oito anos”, relata.
Antes de ser um dos maiores nomes do ramo, Daniel Lee foi dono de uma indústria têxtil em São Paulo, herdada dos seus pais sul-coreanos, que, desde a vinda ao Brasil entre as décadas de 1960 e 1970, sempre ganharam a vida no comércio, assim como outros milhares de imigrantes que não tinham domínio da língua portuguesa.
As constantes percepções das dificuldades do empresariado no País, os avanços do mercado informal, a dificuldade de manter os funcionários da empresa de mais de 44 anos e o ápice da crise econômica vivida fizeram com que Lee se sentisse incentivado a fazer aquilo que realmente o motivasse profissionalmente.
O tempo na profissão e as duas filhas talvez fossem motivos para que o especialista recuasse antes de mudar de área, mas as constantes reflexões acerca do assunto e de seu papel paterno fez com que há dois anos Lee mergulhasse de cabeça na sua ideia.
Pode-se dizer também que o gosto pelo desafio fez com que Daniel Lee se permitisse fazer a transição brusca de área, além de considerar o american barbecue uma das coisas complexas de cocção de carnes que existe, Lee também considerava – e ainda considera - que esta era uma arte que deveria ser dominada por ele.
Durante esse mergulho de pesquisas e estudos com especialistas renomados, Daniel observou que havia um público em ascensão no País, que não só tem apresentado interesse no consumo, mas também no aprendizado. A cada turma lecionada, ele certifica 30 alunos.
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Negócio
Quando questionado sobre quando percebeu a capacidade empreendedora na área que sempre por ele foi considerada um hobbie, Lee confessa que nunca precisou perceber um potencial no segmento. Visto que a principal razão por estar onde está hoje foi a sua paixão, não pelo churrasco em si, mas pela carne.
Constantes viagens e cursos internacionais foram as principais bases de investimento do pitmaster , que sempre buscou a experiência pessoal em seus estudos. “A experiência precisava ser vivida na pele e o estudo pela internet não era o ideal para mim”.
A respeito dos cursos ministrados, o empreendedor relata que aconteceu naturalmente. “Toda a minha vida na carne começou a ser mostrada por meio do Instagram , e com o crescimento do número de seguidores foi orgânico que eles pedissem para eu ministrar”.
O rapaz caracterizado por seu apego aos detalhes tem até uma parceria com uma agência de turismo que organiza a ida de seu público até ele, que vai desde o transporte até a hospedagem.
Uma das pessoas que tiveram um dia com o especialista é Aldo Furtado, que saiu de Vitória (ES) para São Paulo, para ficar 12 horas com o pitmaster , que tem uma narrativa muito parecida. “Sempre trabalhei por conta própria, estou na empresa por ter sido uma oportunidade bacana, porém, não é minha paixão. Meu objetivo é trabalhar com o que gosto de fazer e o resultado financeiro acaba vindo como consequência”, relata.
American Barbecue
A lifestyle e as constantes visitas a outros países para participar das competições fez com que Daniel Lee, em específico dentro da destilaria da Jack Daniels em Lynchburg Tennessee, não se identificasse com os demais participantes por não encontrar um brasileiro sequer no local. A frustração resultou em uma motivação pessoal do pitmaster em potencializar a participação nacional no ramo.
Embora esse seja o seu objetivo, Daniel comenta que “a cultura do american barbecue utiliza cortes que o brasileiro considera ‘carne de segunda’, como o peito bovino, mas vamos mudar essa percepção e formar talentos pitmaster aqui, o que aumenta a força do país em toda a cadeia produtiva da carne”.
Para o profissional apaixonado pelo o que faz, a quebra do estigma se dará por meio da dominação e disseminação das técnicas de defumação de churrasco americano, o que já é uma realidade presente.
*Com edição de Flávia Denone
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