O dólar fechou em alta de quase 1 por cento e voltou à casa dos 3,60 reais nesta segunda-feira (17), após o Banco Central fazer nova intervenção no mercado cambial por meio de leilão de swaps reversos, que equivalem à compra futura de dólares, depois de a moeda norte-americana perder mais de 10 por cento neste mês até o pregão passado.
O dólar avançou 0,80 por cento, a 3,6103 reais na venda. A moeda norte-americana fechou longe das máximas da sessão, quando saltou 1,89 por cento, a 3,6494 reais, após o BC vender apenas pouco mais de um quarto dos swaps ofertados.
O dólar futuro, que havia reagido após o fechamento anterior do mercado a vista depois de o BC fazer pesquisa de demanda por swaps reversos, recuava cerca de 0,4 por cento. "O BC deixa claro que está atento, mas só vai atuar na medida em que houver demanda", disse o operador de um importante banco nacional.
O BC vendeu apenas 5,5 mil swaps reversos da oferta de até 20 mil, com volume equivalente a 272,7 milhões de dólares. A autoridade monetária não realizava leilão de swap reverso havia três anos.
A venda parcial dos swaps reversos foi entendida como um sinal de que a autoridade monetária não quer mudar a tendência do câmbio, mas sim corrigir exageros e garantir a liquidez em um momento de tensão no cenário político com a possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Até o pregão passado, a moeda havia recuado 10,54 por cento no acumulado de março. Alguns operadores discutiam ainda a possibilidade de o BC ter como fim evitar cotações voláteis e muito baixas do dólar, que prejudicariam exportadores.
A ação do BC, segundo operadores, também serviu como uma porta de saída rápida para investidores que haviam apostado na alta da moeda norte-americana e foram pegos de surpresa pelo tombo recente.
"O BC identificou nas mesas que o pessoal estava vendendo muito no mercado futuro e esse leilão dá conta dessa demanda. É uma válvula de escape", disse o operador da corretora Spinelli José Carlos Amado.
As vendas de dólares no mercado futuro, combinadas com as saídas de dólares no mercado à vista, pressionaram o cupom cambial, taxa de juros em dólar no mercado brasileiro, a níveis considerados exagerados por muitos investidores.
A taxa de três meses ficou em 3,46 por cento na sexta-feira, perto dos níveis vistos no início de março, quando o BC anunciou leilão de venda de dólares com compromisso de recompra para, na opinião de operadores, corrigir distorções. Nesta sessão, a taxa era negociada a 3,28 por cento.
Expectativa do mercado
A operação vem em um momento em que a crise política alimenta apostas no afastamento da presidente, algo que muitos operadores entendem como possível primeiro passo para a recuperação da economia brasileira.
Analistas da consultoria de risco político Eurasia Group acreditam que o impeachment de Dilma deve ser votado no fim de abril. Segundo eles, a presidente não deve ser capaz de evitar o afastamento, com o atual vice-presidente, Michel Temer, assumindo a Presidência em maio.
Em particular, a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes de suspender a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro-chefe da Casa Civil era vista positivamente nas mesas. Pesquisa do Datafolha mostrando amplo apoio ao impeachment de Dilma também corroborou o humor.
"O mercado está operando política, o que significa que a volatilidade vai ser bastante elevada por tempo. O BC está em uma situação difícil", disse o operador Marcos Trabbold, da corretora B&T.
Pesquisa Reuters publicada na quinta-feira mostrou que, pela mediana do mercado, o dólar pode ir a 4,25 ou a 3,50 reais neste ano dependendo do desfecho político.
O BC também realizou mais um leilão de rolagem dos swaps tradicionais --equivalentes à venda futura de dólares-- que vencem em abril com venda integral de 3,6 mil contratos. Até o momento, o BC já rolou 6,352 bilhões de dólares, ou cerca de 63 por cento do lote total para abril, que equivale a 10,092 bilhões de dólares.
Empresas que se beneficiam com a alta do dólar