O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro registrou queda de 3,8% em 2015 ante 2014, informou na manhã desta quinta-feira (3) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse é o pior resultado desde 1990, que vem sido refletido em um cenário de menos emprego, menos crédito e o desaquecimento geral da economia, que acaba de fechar o sétimo trimestre em queda.
Para o economista da ACLacerda Consultores e professor da PUC-SP, Antônio Correia Lacerda, o resultado do PIB é, para o cidadão comum, mais um sinal do que já tinha sido apontado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Na divulgação do fim de janeiro, foi mostrado que o País teve o fechamento de 1,54 milhão de postos formais de trabalho. “Na verdade, [a queda do PIB] é uma confirmação do que as pessoas já sentem. A queda significa que o País produz menos, que empresas estão fechando, que a indústria vai mal e está demitindo”, explica.
Do lado do mercado financeiro, o resultado negativo sequencial é visto de maneira crônica e crítica ao governo. O Goldman Sachs ressaltou o fraco ajuste do consumo dos órgãos públicos frente aos gastos das famílias, reduções de 1% e 4%, respectivamente. Além disso, não são esperadas reações no curto prazo. “Dada a sua excepcional profundidade, largura e comprimento, a contração cíclica em curso do PIB do Brasil está adquirindo algumas características de uma depressão econômica clara”, disse o economista Alberto Ramos, em entrevista ao “Infomoney”.
Para 2016, o especialista acredita que será mais um ano de “mais do mesmo”, já que as perspectivas negativas permanecem na mesma magnitude do registrado no ano passado. O desempenho do industrial, importante fator na queda e tem peso importante em uma retomada do crescimento, e, sobretudo, a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 14,25% são os principais entraves. “É esperado que o governo tome medidas para sair da crise, mas não é o que se observa”, diz Lacerda. “[A manutenção dos juros] foi horrível, seria necessário baixar os juros. Não dá pra imaginar uma volta da atividade sem estimular o investimento, o consumo, a indústria”, acrescenta.
Calma e resiliência para atravessar a crise
O PIB per capita ficou em R$ 28.876 em 2015, um recuo de 4,6% em relação a 2014. Apesar da cifra, o alto rendimento é realidade para uma parcela ínfima da sociedade brasileira, proporcionalmente a menos afetada. Quem sofre mais, como em toda crise, é aquele trabalhador que recebe de um a três salários mínimos. “As empresas cortam a pessoa que servia o cafezinho. Ou, se tinham duas secretárias, agora é só uma. O setor de construção civil também é bom para ilustrar esse cenário”, explica o coach financeiro Ricardo Melo.
Melo explica que o cenário adverso deve forçar o trabalhador a tomar caminhos alternativos, mesmo que o momento não pareça ideal. “São duas situações: ou se encara a crise como negativa e ficar remoendo a crise, que é a mais preocupa pela cultura do brasileiro, e se percebe novas oportunidades que surgem nessas épocas (...) são em tempos como esses que grandes negócios surgem”. completa.
O empreendedorismo, cada vez mais comum daqueles que perdem o emprego e tem a verba indenizatória disponível, é um ótimo caminho. No entanto, na opinião do consultor, deve ser realizado com parcimônia e resiliência. “É importante essa pessoa não pensar exclusivamente no lado profissional, mas sim ter equilibrado o lado emocional”, explica. “Essas novas oportunidades são o ‘lado bom’ da crise, mas muita gente sai atirando para todos os lados, abre um negócio e, em seguida, acaba fechando”.