Prática de exercícios físicos sofre impacto das mudanças climáticas
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Prática de exercícios físicos sofre impacto das mudanças climáticas

POR BÁRBARA VETOS

As mudanças climáticas têm trazido muitas consequências para o modo de vida e produção do planeta. Isso também acontece com a prática de exercícios físicos. Relatório divulgado pelo aplicativo esportivo Strava revela que 75% dos cadastrados da plataforma disseram que o calor extremo afetou seus planos de treino em 2023. Outros 27% mencionaram a má qualidade do ar como um fator de impacto negativo. 

O problema se torna ainda mais grave em um país em que mais da metade da população não tem o costume de realizar atividades físicas. De acordo com pesquisa do Serviço Social da Indústria (Sesi) , 52% dos brasileiros raramente ou nunca praticam atividades físicas. A longo prazo, a crise climática pode fazer com que esse número aumente.

Bruno Gualano, professor do Centro de Medicina do Estilo de Vida da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e coordenador do grupo de Fisiologia Aplicada e Nutrição da FMUSP, diz que é importante manter os hábitos saudáveis, mas respeitando os próprios limites. “Sensações térmicas de 55 °C, como estamos vendo, são um desafio fisiológico. É um estresse para o corpo.” Ele reforça que isso pode significar um alto risco para a saúde, principalmente entre aquelas pessoas que já possuem alguma doença crônica.

Bem-estar físico e trabalho

A atividade física é vital para a saúde. Por meio dela, é possível reduzir sintomas de ansiedade e depressão, manter a mente ocupada, melhorar a qualidade do sono, se sentir mais disposto e bem-humorado. O conjunto disso pode resultar em uma expectativa de vida, inclusive, maior.

A prática de exercícios físicos regulares tem relação direta com o desempenho dos profissionais no trabalho. Quanto maior for o bem-estar físico, maior é a produtividade. Os participantes da pesquisa corporativa do Gympass afirmaram que o condicionamento físico (99%), sono (98%) e alimentação (99%) são fatores importantes para a saúde. A maioria (93%) também relata que o bem-estar físico afeta sua produtividade no trabalho.

Ao mesmo tempo, 63% dos participantes afirmam que o trabalho dificulta a prática de exercícios e 58% dizem que não tem uma dieta saudável por conta das atividades profissionais.

A pesquisa do Strava também confirma esse obstáculo, já que mais de dois terços dos atletas do app no mundo sentem que suas atividades físicas são afetadas pela falta de tempo devido às demandas do trabalho. No Brasil, esse número chega a 61%.

Em geral, os profissionais da saúde e do esporte recomendam que os exercícios sejam realizados antes das 9h e depois das 16h, em horários mais frescos. No entanto, nem sempre é possível encaixar hábitos mais saudáveis na rotina, seja pelas demandas de trabalho, seja pelas ondas de calor.  

Crise ambiental gera novos hábitos

Quem tem o costume de aproveitar o horário de almoço para se exercitar ou gosta de acordar mais tarde aos finais de semana para fazer uma caminhada já está tendo que se adaptar à nova realidade. 

As fortes ondas de calor têm ditado novas condições para a prática de atividades físicas ou reforçado recomendações antigas, como uso de protetor solar, hidratação frequente e busca por horários mais amenos.

Apesar disso, não é motivo para desespero. O professor explica que o corpo humano tem a capacidade de se termorregular por meio do suor. Diferentemente do que muitos pensam, transpirar bastante não é algo negativo. “Isso significa que você está bem adaptado a fazer atividade física no calor. Mas é claro que existem limites para tudo isso.”

Gualano considera que, a longo prazo, alguns lugares se tornarão inóspitas e muito difíceis para a prática de qualquer atividade física – o que obrigará as pessoas dessas regiões a repensar seus hábitos.

Idosos e crianças são mais vulneráveis às ondas de calor

Em condições muito quentes, o professor explica que o indivíduo está sujeito a insolação, choque térmico e desidratação – o que, em casos extremos, pode levar até à morte. “Na termorregulação, precisamos fazer uma série de ajustes cardiovasculares importantes. Isso gera um estresse no organismo”, elucida. “Para alguém que já tem uma doença cardíaca, por exemplo, isso pode ser um gatilho para a manifestação de um evento mais grave.”

O especialista explica que a tendência é que os dias quentes sejam cada vez mais frequentes, e, por isso, esse tipo de discussão também deve ser mais recorrente.

A atenção deve estar voltada principalmente a idosos, que apresentam maior dificuldade para se termorregular e podem ter agravantes cardiovasculares, e crianças, que não têm o costume de parar para se hidratar no calor, principalmente quando estão entretidas em outras atividades.

Mudanças climáticas podem ser responsáveis por aumento das desigualdades

Trocar atividades ao ar livre em dias de muito calor por uma academia não é uma alternativa acessível para todo mundo. “Vamos nos adaptar [às mudanças climáticas ], mas ninguém pode ficar para trás”, enfatiza o professor.

De acordo com Gualano, a crise ambiental pode acentuar as desigualdades nesse sentido. “Isso deve ser uma preocupação legítima do Estado e da sociedade, para que essas pessoas não sejam desassistidas ou desencorajadas a realizar atividades físicas pela barreira do aquecimento global.” 

Os exercícios feitos em casa, muito populares durante a pandemia, podem ajudar nessa questão, mas não são suficientes. O professor diz que a prática tende a isolar essas pessoas. “É diferente de estar in loco com o personal e outras pessoas em volta. Essa interação social explica um dos muitos benefícios da atividade física para a cognição, qualidade de vida e saúde mental.”

Foto: Freepik
Crise ambiental gera novos hábitos de saúde e bem-estar

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