POR LEANNE KEDDIE E MICHEL MAGNAN
Um número cada vez maior de empresas está pagando bônus aos executivos na busca pela sustentabilidade. Impulsionadas por um foco cada vez maior em questões globais, mais de três quartos das grandes companhias de capital aberto na Europa e na América do Norte utilizam agora métricas ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG) para determinar os bônus executivos.
Além disso, quase dois terços das companhias na Europa e no Reino Unido incluem critérios ambientais como parte de seus regimes de incentivos.
Normalmente, os bônus anuais em dinheiro representam cerca de 24% do salário de um CEO. Como esse pagamento depende do alcance de metas específicas, sua influência nas ações dos executivos tende a ser mais imediata.
Embora tais incentivos possam melhorar o desempenho ESG de uma empresa, também são uma oportunidade para os executivos obterem bônus maiores sob a ilusão de “fazerem o bem”. Sempre existe o risco de eles manipularem as métricas para ganhar bonificações.
Examinando os incentivos ESG
Em 2015, pela primeira vez, um número significativo de executivos recebeu bônus por atingir os objetivos ESG. Em 2020, mais de 43% deles, que faziam parte das 500 maiores empresas cotadas na bolsa dos Estados Unidos, tinham estímulos.
Como o uso de incentivos ESG é relativamente novo, suspeitamos que eles poderiam estar suscetíveis a abusos e decidimos investigar. Nosso estudo examina como eles impactam os bônus anuais para os principais executivos.
Uma vez que as grandes empresas são obrigadas a divulgar informações sobre a forma como pagam esses funcionários, utilizamos uma nova inteligência artificial para examinar os documentos dessas corporações.
Na análise, levamos em consideração quanto dinheiro esperávamos que os executivos ganhassem, quanto poder eles tinham sobre o conselho de administração de suas empresas, se usavam ou não incentivos ESG e se uma variedade de mecanismos de governança corporativa (como comitês de sustentabilidade) estava em vigor.
As boas e as más notícias
O estudo concluiu que, em geral, eles não parecem estar se aproveitando do poder para obter remunerações mais elevadas. Essa é a boa notícia.
A má, porém, é que nem todos o exercem para o bem. Alguns parecem usá-lo para obter bônus maiores. Isso acontece, particularmente, em indústrias ambientalmente sensíveis (mineração ou petróleo e gás, por exemplo) ou em empresas que possuem outros mecanismos de governança corporativa em vigor, como comitês de sustentabilidade.
É possível que seja necessária uma supervisão mais rigorosa em determinadas indústrias ou mesmo que alguns mecanismos de governança corporativa possam ser usados mais para aparência do que para governança. Os membros do conselho devem se assegurar de que possuem o conhecimento necessário para se envolverem em conversas produtivas sobre a utilização de incentivos ESG em planos de remuneração.
Podem também precisar implementar mecanismos de controle e equilíbrio para monitorar e aconselhar a gestão sobre a utilização desses incentivos, especialmente no que diz respeito à seleção de métricas de desempenho ESG.
Por que isso importa?
Stakeholders de destaque, como a Coligação Canadense para a Boa Governança, criadores de normas e padrões, como o Conselho Internacional de Normas de Sustentabilidade, e agências de classificação, como a MSCI, aconselham as organizações a incluir metas ESG nos planos de remuneração dos executivos. O objetivo provavelmente é duplo: medir o que é importante e fornecê-los incentivos para que suas empresas avancem no caminho da sustentabilidade.
No entanto, a ligação entre os incentivos ESG e a sustentabilidade não é tão clara. Ainda precisamos aprender mais sobre o uso deles para podermos aplicá-los adequadamente. Além disso, as empresas muitas vezes igualam o seu foco ESG à sustentabilidade, mas os dois não são a mesma coisa.
O foco em ESG é o foco em como os fatores ambientais, sociais e de governança afetam o desempenho financeiro da empresa. Já o foco na sustentabilidade é a maneira como uma empresa afeta a sociedade e o meio ambiente. Pense nisso como a diferença entre uma selfie e uma foto de paisagem – uma olha para dentro (ESG) e a outra para fora (sustentabilidade).
Existem poucas evidências de que a atribuição de bônus com base em critérios ESG se traduz automaticamente em uma maior sustentabilidade para uma empresa. Embora haja algumas, ainda é muito cedo para uma resposta definitiva.
Os fatores ESG centram-se nos riscos e oportunidades que afetam o desempenho financeiro, não necessariamente aqueles que estão ligados à sustentabilidade do planeta. Na verdade, não temos conhecimento até agora de nenhum trabalho que ligue o desempenho ESG de uma empresa à sustentabilidade mundial.
Embora os incentivos ESG possam ajudar uma empresa a mitigar o risco de intervenção de investidores ou reguladores, não se traduzem necessariamente num desempenho de sustentabilidade. Não podemos reiterar isto o suficiente: o foco em ESG é na gestão de riscos e oportunidades.
A pesquisa serve para lembrar aos conselhos de administração, executivos, reguladores e organismos de criação de padrões e normas que um modelo único raramente é apropriado e, sem olhar atentamente para o que está acontecendo, esses incentivos podem ser usados de maneira inapropriada.
Este texto foi republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original em inglês.
Leia mais artigos do ESG Insights.
Leanne Keddie – Professora assistente de Contabilidade na Sprott School of Business da Universidade de Carleton University, em Ottawa – Canadá.
Michel Magnan – Professor, pesquisador universitário e presidente em Governança Corporativa S.A. Jarislowsky na Universidade de Concórdia.
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