O alcance do ambiente virtual imersivo chamado metaverso cresce a cada ano, com aumento do interesse do público em geral sobre o tema e a utilização nos mais diferentes segmentos, como saúde, educação, indústria e moda. Juntamente, crescem também as oportunidades profissionais no mercado de trabalho do ambiente imersivo.
Segundo uma pesquisa realizada pela GlobalData, o mercado do metaverso deve chegar a US$ 996 bilhões em 2030, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 39,8%. A consultoria aponta que a expansão se dará principalmente pelo aumento do investimento feito pelas empresas em tecnologia para aperfeiçoar a relação com os clientes, além de potencializar a visibilidade da marca e identificar novos fluxos de receita.
Novas possibilidades com o crescimento do metaverso
No relatório da empresa de consultoria em tecnologia , Gartner, os dados mostram que, até 2026, 25% das pessoas passarão pelo menos uma hora por dia no metaverso para trabalho, compras, educação, social e/ou entretenimento. Em escala mundial, a Gartner estima que, até 2026, 30% das organizações do mundo terão produtos e serviços prontos para a tecnologia.
Ou seja: o metaverso já demanda uma série de serviços que precisam de profissionais especializados para a execução no ambiente imersivo. Com isso, cresce também o número de colocações no mercado voltadas ao metaverso. Segundo o especialista em negócios digitais, novas tecnologias, metaverso e professor de MBA da FGV, Kenneth Corrêa, já é possível trabalhar no metaverso.
“Precisamos considerar o cenário de trabalhar no mesmo cargo e empresa [em] que você já trabalha, mas usando os metaversos. Também há um outro cenário, que é trabalhar em um novo cargo ou função, exclusivamente dentro de um metaverso”, diz o profissional.
Trabalho no metaverso atualmente
Segundo Kenneth Corrêa, o metaverso oferece uma gama de possibilidades relacionadas ao trabalho, que vão de apresentação de produtos, sala de trabalho virtual até experiências imersivas de treinamento. “Além disso, o metaverso permite o trabalho colaborativo, em tempo real e sem limitações geográficas. Algumas empresas já estão implementando essas modalidades de trabalho, ou seja, fazem parte do guarda-chuva do trabalho remoto”, destaca o especialista.
Profissões que se destacam com a tecnologia
O especialista em negócios digitais explica que as profissões nas quais observamos um crescimento significativo no metaverso são, de maneira geral, parte do universo gamer . “São profissionais desenvolvedores de avatares, estilistas de moda digital, diretores de eventos, professores voltados para a aprendizagem no metaverso, storytellers /roteiristas para criar enredos envolventes em ambientes virtuais e digital managers , responsáveis por coordenar equipes multidisciplinares para trazer marcas para o metaverso”, afirma Kenneth Corrêa.
Para o próximo ano, ele comenta que é esperado crescimento nas profissões ligadas à Web3, que envolve blockchain, NFTs e criptomoedas. Além disso, áreas de engenharia industrial, engenharia civil e arquitetura já são bastante impactadas, não apenas melhorando a entrega dos serviços em 3D, mas também já criando experiências imersivas para visita a casas e apartamentos decorados, e também test-drive e licitações para aquisição e teste de peças e partes na manufatura.
“Também começa a surgir uma demanda por profissionais de recursos humanos que entendam como criar e gerenciar ambientes de trabalho imersivos dentro do metaverso. O mesmo ocorre com professores que aprendam a ensinar e orientar dentro do metaverso. Eu mesmo tenho dado aulas em ambientes imersivos desde a época do Second Life”, diz.
Habilidades desejadas para atuar na área
Kenneth Corrêa aponta que, para se inserir nesse universo digital, algumas das habilidades necessárias incluem:
- Domínio de tecnologias digitais: dado que o metaverso é um ambiente virtual, é de suma importância que se tenha uma compreensão sólida das tecnologias digitais. Isso inclui familiaridade com plataformas de realidade virtual e aumentada, bem como a capacidade de navegar e interagir efetivamente dentro de ambientes digitais;
- Conhecimento em programação e design: para criar e personalizar avatares, objetos e ambientes, habilidades em programação e design (especialmente em 3D) são fundamentais. Especificamente, o conhecimento em linguagens de programação como C#, Java e Python, além de softwares de modelagem 3D como Blender ou 3D Studio Max, será útil;
- Familiaridade com blockchain e NFTs: dada a natureza descentralizada do metaverso e o uso crescente de NFTs ( tokens não fungíveis) para a representação de ativos digitais únicos, um entendimento de blockchain e criptomoedas é altamente desejável;
- Capacidades criativas e inovadoras: o metaverso é um espaço para a imaginação correr solta. Seja projetando roupas virtuais, organizando eventos ou contando histórias envolventes, a capacidade de pensar de forma criativa e inovadora é uma grande vantagem;
- Habilidades de comunicação e colaboração: como o metaverso é também um local para interação social, trabalhar de forma eficaz nesse ambiente demanda competência para se comunicar claramente, colaborar com os outros e até mesmo a habilidade de liderar equipes virtuais;
- Adaptação e aprendizado contínuo : como é um campo em constante evolução, a capacidade de se adaptar rapidamente e aprender novas coisas é essencial para se manter atualizado e ser resiliente em meio a mudanças.
Cursos e formações específicas voltados para o metaverso
Conforme explica o especialista, “já estão disponíveis no mercado cursos e formações especificamente voltados para quem deseja atuar no metaverso. Muitas dessas qualificações estão concentradas nas áreas de tecnologia da informação, design de jogos, programação, arte digital, realidade Virtual (VR) e realidade Aumentada (AR)”. Entre as possibilidades, estão:
- Cursos de design de jogos e desenvolvimento : diversos institutos e universidades ao redor do mundo oferecem cursos em design e desenvolvimento de jogos digitais, fornecendo uma base sólida para criar experiências interativas no metaverso;
- Programação e desenvolvimento web: conhecimentos de programação e desenvolvimento de software são fundamentais, cursos que capacitam nas específicas linguagens de programação (como Python, Java ou C#) e nos sistemas centrados em WebGL ou APIs gráficas, são desejáveis;
- Arte digital e modelagem 3D: cursos em arte digital, design gráfico, animação e modelagem 3D proporcionarão às pessoas as habilidades necessárias para criar avatares e ambientes digitais ricos e atraentes;
- Realidade virtual e realidade aumentada: existem programas de treinamento, inclusive disponíveis online, que se concentram especificamente nestas duas tecnologias que são a base do metaverso;
- Tecnologia blockchain e criptomoedas: considerando que o metaverso é frequentemente construído em plataformas de blockchain e faz uso significativo de criptomoedas e NFTs, cursos e treinamentos em blockchain podem ser extremamente úteis.
“Além desses, existem também diversos cursos online gratuitos ou pagos disponíveis em plataformas como Coursera, Udemy e outras, que oferecem formação em uma variedade de tópicos relevantes para o metaverso, desde desenvolvimento de jogos até modelagem 3D e VR/AR. É importante destacar também que, além dos cursos formais e treinamentos, uma das melhores maneiras de aprender sobre o metaverso é, de fato, mergulhar nele. Botar a mão na massa, como se diz, pode oferecer uma compreensão valiosa e prática dessa nova realidade digital”, destaca o especialista.
Kenneth Corrêa também destaca que investir na especialização em áreas relacionadas ao metaverso pode ser uma estratégia muito lucrativa para os profissionais. Isso porque essas habilidades só tendem a se valorizar com o crescimento e a consolidação do metaverso como a próxima fronteira do ambiente digital.
Expectativas para o mercado de trabalho no metaverso
As expectativas para o mercado de trabalho no metaverso são promissoras. “Os profissionais brasileiros, conhecidos pela criatividade e inovação, já estão explorando este novo universo e desenvolvendo projetos interessantes e revolucionários. Há uma abundância de freelancers no Brasil trabalhando nesse nicho, aproveitando a flexibilidade do trabalho remoto e a oportunidade de atuar em projetos internacionais. Eles atuam em diversas áreas, desde a programação, design gráfico, realidade virtual e aumentada, até a criação e gestão de eventos no metaverso, marketing e moda”, destaca o profissional.
Possibilidade de mercado para os brasileiros
O metaverso proporciona um campo global de atuação, sem barreiras geográficas, permitindo aos brasileiros uma participação mais efetiva no mercado global, resultando em melhores oportunidades de remuneração, desenvolvimento profissional e troca de experiências com profissionais de todo o mundo.
“O cenário econômico atual do Brasil reforça ainda mais os benefícios do trabalho no metaverso. Com a instabilidade econômica e a flutuação do câmbio, trabalhar para empresas estrangeiras representa uma grande oportunidade. Muitas vezes, essas empresas pagam em moedas mais fortes, como o dólar, o que resulta em uma renda maior quando convertida para o real”, reforça Kenneth Corrêa.
Todos esses fatores apontam para um cenário bastante positivo e otimista. “Nos próximos anos, o mercado de trabalho no metaverso só deve crescer e se solidificar, trazendo ainda mais oportunidades para os profissionais brasileiros que estão preparados e dispostos a se aventurar nesta nova fronteira digital”, conclui o especialista.
Por Letícia Carvalho