A prisão do ex-presidente Michel Temer (MDB) , aliada à decepção quanto à proposta de reforma da Previdência dos militares, deixou o mercado financeiro bastante cauteloso nesta quinta-feira (21). O Ibovespa, principal indicador do desempenho da Bolsa de Valores brasileira (B3), fechou o dia em queda de 1,34%, a 96.729 pontos. A cotação do dólar, em contrapartida, subiu 0,90%, chegando a 3,8001.
Na abertura do pregão, o Ibovespa já registrava leve queda de 0,19%, a pouco mais de 98 mil pontos, enquanto o dólar era cotado a R$ 3,7958. Por volta das 11h15, quando a prisão de Temer foi amplamente noticiada, o indicador chegava a 96.762 pontos e a moeda norte-americana, a R$ 3,8045.
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A Bolsa conheceu seu patamar mínimo do dia por volta das 13h, quando bateu a casa dos 95,4 mil pontos. O desempenho destoava, por exemplo, das bolsas norte-americanas, que operavam em alta de quase 1% no mesmo período. A máxima do dólar veio pouco depois, às 13h30, quando a moeda chegou a R$ 3,8345, uma alta de 1,01% em relação à abertura do pregão.
Avaliação de especialistas
As incertezas quanto aos desdobramentos da prisão de Michel Temer devem continuar a influenciar – de forma negativa – o desempenho do País no mercado financeiro. Segundo especialistas, os investidores não esperavam que o ex-presidente fosse preso hoje e estão receosos porque não sabem de que forma o ocorrido pode atrapalhar a tramitação da reforma da Previdência.
“O mercado fica temeroso, acaba dando uma recuada", comenta o economista Pedro Coelho Afonso. "Os reais motivos dessa prisão serão muito questionados. Nesses casos, os investidores acabam reagindo de maneira imediatista, entendendo que isso pode ser apenas parte de outros acontecimentos que estão por trás desse evento”, acrescenta.
Para Fernando Bergallo, diretor de câmbio da FB Capital, está claro que o desempenho negativo está relacionado ao ambiente interno, uma vez que a situação no exterior é favorável. "Ontem [20], o câmbio teve um alívio com a reunião do FED [Federal Reserve, o Banco Central dos EUA]. Hoje, o investidor está enxergando uma situação muito fragmentada do ponto de vista político, impactando a agenda econômica do governo”, avalia.
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Os possíveis prejuízos da prisão de Temer na tramitação na agenda do governo, aliás, foi destacado por Daniela Casabona, sócia-diretora da FB Wealth. Segundo a economista, o "investidor quer sentir que todos os holofotes e esforços estão [voltados] exclusivamente para aprovação da reforma da Previdência ", e está cauteloso porque "existe uma probabilidade de haver mais questões e pessoas envolvidas" no ocorrido.