Peça-chave para prisão de Temer, usina de Angra 3 deve bilhões ao BNDES

Empréstimos contraídos no início de 2011 já ultrapassam os R$ 3 bilhões, perdendo apenas para os financiamentos concedidos pelo banco à Petrobras

Em 2011, a Eletronuclear firmou um acordo de R$ 6,1 bilhões com o BNDES para conseguir concluir as obras de Angra 3
Foto: Divulgação/Eletronuclear
Em 2011, a Eletronuclear firmou um acordo de R$ 6,1 bilhões com o BNDES para conseguir concluir as obras de Angra 3

No centro do esquema de corrupção que levou à  prisão do ex-presidente Michel Temer (MDB) nesta quinta-feira (21), a usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro, é responsável pelo segundo maior empréstimo feito pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), perdendo apenas para os financiamentos concedidos à Petrobras. As informações foram publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo .

O contrato entre o BNDES e a Eletronuclear, responsável pela construção da usina, foi assinado em fevereiro de 2011. Na época, o banco concordou em financiar R$ 6,1 bilhões para a construção de Angra 3 , mas somente R$ 2,7 bilhões (pouco mais de 44%) foram sacados, uma vez que a obra foi interrompida após a identificação de irregularidades nos contratos de construção. O prazo para o pagamento desse empréstimo é de 18 anos e meio.

Segundo o Estadão , a Eletronuclear alega que, desde outubro de 2017, vem pagando parcelas mensais de R$ 30,9 milhões, aproximadamente, para quitar a dívida. Em janeiro, a estatal garantiu ao jornal que "tem honrado rigorosamente todos os pagamentos ao BNDES e desembolsou cerca de R$ 563 milhões entre juros e amortizações".

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A Eletronuclear tentou renegociar os valores da dívida, que hoje ultrapassam os R$ 3 bilhões, mas sem sucesso. Também ao Estadão , a empresa afirmou que o banco só aceitaria uma revisão desse montante mediante a apresentação de uma garantia da conclusão de Angra 3. Uma das iniciativas tomadas pela Eletronuclear nesse sentido foi o aumento na tarifa da energia que será produzida na usina.

Dinheiro da Eletrobras

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
A Eletrobras, comandada por Wilson Ferreira Jr., vai investir R$ 12 bilhões para concluir as obras da usina de Angra 3

No final de dezembro, a Eletrobras anunciou que deve investir R$ 30,2 bilhões nos próximos cinco anos , entre 2019 e 2023, destinando R$ 12 bilhões (39,7%) inteiramente ao projeto da usina nuclear de Angra 3. A ideia é viabilizar a conclusão do empreendimento por meio de um edital, que vai selecionar um investidor "com capacidade técnica, financeira e de gestão".  

Os números constam no chamado Plano Diretor de Negócios e Gestão (PDNG) da estatal. Segundo a Eletrobras, o investimento em Angra 3 dá continuidade ao trabalho de reestruturação de suas empresas, de forma a aumentar a eficiência operacional, diminuir o tamanho de sua dívida e melhorar a governança e a integridade.

Hoje, as obras na usina de Angra 3 estão paradas, mas 63% do empreendimento já foram concluídos. Sua construção foi interrompida em 2015, em partes por falta de recursos, mas muito porque havia suspeitas de superfaturamento e denúncias de corrupção envolvendo empresas contratadas para as obras da usina.

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O TCU (Tribunal de Contas da União) estima, segundo divulgado no início de outubro do ano passado, que ainda faltam R$ 17 bilhões para concluir Angra 3 . O cronograma utilizado pela Eletrobras prevê que as obras serão retomadas em junho de 2020 e concluídas em janeiro de 2026. A capacidade prevista da usina é de 1.405 megawatts, energia suficiente para abastecer cerca de 5 milhões de residências.