Alexandra Otaviano de Souza Amaro é uma das seis mulheres que trabalham para uma das principais cooperativas de táxis de São Paulo. No total, a rádio táxi conta com 500 carros, sendo 494 deles conduzidos por homens.
“A primeira coisa que chama a atenção de um passageiro é a imagem. Na hora que ele olha para você, fala de imediato ‘Nossa, uma mulher dirigindo um táxi’, ou ‘É a primeira vez que eu ando com uma mulher’. Eles sempre têm na cabeça a imagem de um homem”.
Dado o primeiro contato, os passageiros se surpreendem com outro aspecto que costuma diferenciar homens e mulheres: a organização. “Acredito que as mulheres se preocupam mais com a vestimenta, a boa educação, a limpeza e principalmente com a organização, que geralmente arranca elogios dos meus passageiros”.
No entanto, há uma disparidade ainda mais evidente entre homens e mulheres, e que causa incômodo entre alguns passageiros: o gênero do condutor.
“Já recebi chamados e quando cheguei ao local para realizar o atendimento, o passageiro abriu a porta do veículo e disse que não ia entrar em carro de mulher. Eu procuro respeitar pessoas que agem de maneira preconceituosa da melhor forma possível, afinal, ela tem o poder de decisão dela, mas, acredito definitivamente que essas pessoas devem evoluir um pouco”.
Enquanto não existe uma mudança de mentalidade, Alexandra e muitas outras taxistas continuam a sofrer insultos como este todos os dias. “É muito comum durante as corridas em que eu me perco eu ouvir do passageiro ‘se fosse um homem dirigindo não erraria o caminho’. Além disso, percebi que alguns passageiros evitam pegar corrida com mulheres. Os clientes conseguem ver em alguns aplicativos as fotos dos motoristas. Se um passageiro preconceituoso abre um chamado e ele descobre que é uma mulher que vai fazer o atendimento, ele cancela o chamado.”
Alexandra percebeu que a ocorrência desse tipo de atitude depende muito do perfil do usuário. Há quem aja dessa forma porque é abertamente machista ou conservador, e há há quem adote esse tipo de comportamento por conta da pressão e do estresse do cotidiano.
Mas o desrespeito contra uma taxista nem sempre é manifestado apenas na forma de ações preconceituosas, mas também da forma de assédio. “Existem momentos que você percebe que os homens entram no seu carro com segundas intenções, mas quando isso acontece eu coloco, respeitosamente, a pessoa no lugar dela. Eu prezo muito a postura e o respeito”.
A habilidade de lidar com o público Alexandra tinha desenvolvido em atividades anteriores. Quando começou a dirigir para outras pesoas, ela trazia na bagagem anos de experiência na área de marketing, dentro de uma escola e de uma empresa de comércio eletrônico. A mudança de profissão se tornou realidade após uma proposta feita pelo pai, que na época estava se aposentado, após 25 anos na direção de um táxi.
“Ele me deu muito incentivo e sente muito orgulho pelo fato de eu ter dado continuidade ao trabalho dele. Há sete anos, quando ele me fez esse convite, eu estava passando por um período de recolocação profissional e resolvi tentar algo novo. Se eu não gostasse, ele colocaria outra pessoa no meu lugar”.
Mas Alexandra gostou da nova profissão e se adaptou muito rápido à atividade. “Gostava muito de dirigir e tinha muita satisfação de trabalhar com outras pessoas. Sempre aceito muitas sugestões dos clientes, o que me ajudou muito quando comecei a conduzir um táxi e não conhecia muito bem endereços e rotas. Hoje eu ganho o suficiente para pagar minhas contas e tenho muito mais qualidade de vida. Planejo continuar trabalhando no ramo de transporte, trabalhando com as pessoas dentro e fora da cooperativa.”
E se ela pudesse dar um conselho às mulheres que querem conquistar seu espaço no mercado de trabalho e se tornar empreendedoras? “Ela tem que ter amor pelo trabalho que faz. Tem que ter coragem, fé e determinação para atingir os objetivos dela, independente dos obstáculos que podem aparecer. Tudo isso é muito importante especialmente para quem trabalha ou quer trabalhar no ramo do transporte.”
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