Muitos brasileiros estão afundados em dívidas e não sabem quais são as prioridades do que deve ser pago nesse período de pandemia
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Muitos brasileiros estão afundados em dívidas e não sabem quais são as prioridades do que deve ser pago nesse período de pandemia


A decretação da pandemia de Covid-19 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), no dia 11 de março, trouxe uma realidade inesperada na economia brasileira e na renda das famílias, como efeito colateral. 

Diante desta nova realidade da economia no Brasil, que deve encolher 5% este ano, segundo o Banco Mundial, os trabalhadores precisam  negociar as dívidas e elencar prioridades.

Apertou? Saiba quais contas priorizar e o que deixar de pagar na pandemia

Nesse cenário de incertezas, o percentual de famílias com dívidas, em atraso ou não, chegou a 66,6% em abril de 2020. O patamar é recorde no levantamento iniciado em janeiro de 2010. Os dados foram divulgados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). 

A maior parte das dívidas continua sendo com cartão de crédito (77,6%). Em seguida, aparecem as dívidas com carnês (17,5%) e com financiamento de veículos (10,2%).

Listar e organizar os gastos é a primeira tarefa

O iG conversou com especialistas para listar dicas de como organizar o orçamento durante o isolamento social. 

O economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Newton Marques diz que inicialmente, a prioridade é elencar os gastos, saber o que é essencial, elaborar um novo planejamento do orçamento familiar para enfrentar esse período de crise por causa do Covid-19. 

"Não existe uma fórmula para as pessoas seguirem, até podem disponibilizar algumas nas redes sociais, mas as pessoas são diferentes e as prioridades também. O que todos precisam estabelecer é que comer é a principal prioridade na hora de organizar os gastos", explica Marques. 

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O administrador Vinícius Frias, CEO da fintech Alterbank, diz que o trabalhador deve parar por algumas horas do dia, no início do mês, que é quando as contas costumam chegar e antes de pagar os boletos, fazer um diagnóstico do que está pagando. "Muitas vezes as pessoas nem sabem o que devem".

Qual é a prioridade? O que devo pagar primeiro?

O educador financeiro Silvio Azevedo alerta que, em primeiro lugar, é preciso ter em mente as contas de necessidades básicas, sendo elas contas de água, energia, alimentação, internet e telefone. "Aqui não estamos falando da parcela do celular, mas sim da conta para que a pessoa não se torne incomunicável com o universo", pontua.

O economista orienta que ainda dentro das prioridades é preciso focar nos financiamentos de imóveis ou de veículos.  Ele explica que o cliente pode procurar a instituição financeira e pedir a carência de 60 dias para efetivar o pagamento. "Essa é uma prioridade na lista de pagamentos porque qualquer operação que tenha garantia real, seja um carro ou uma casa, apesar de ter um juros menor, colocar em risco a posse do bem", alerta. 

"Caso não seja pago, a instituição pode tomar o seu carro ou a sua casa dentro de um prazo não tão grande. O que tem sido feito é refinanciar o veículo, por exemplo, com uma taxa de juros menor dando a carência de até 120 dias para o primeiro pagamento”, acrescenta Azevedo. 

Silvio coloca como sugestão a r enegociação do aluguel neste período de crise, além da postergação de planos de academia.  "Muitos donos de imóveis estão permitindo essa negociação com os inquilinos porque é melhor ter alguém pagando depois que a crise passar do que não ter ninguém. No pós-crise vai ser muito mais difícil as pessoas buscarem novos aluguéis", argumenta. 

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No caso de escolas e faculdades, os pais ou alunos também devem procurar a administração para renegociar as dívidas, mesmo se estiverem tendo aulas on-line.

Silvio explica que os brasileiros também podem postergar tributos como IPTU, IPVA, porque essas multas e juros são mais baratos e geralmente as prefeituras e os estados concedem um bom desconto para o pagamento à vista que estava em atraso. 

Negociação é a palavra-chave?

Antes de falar com credores, é importante preparar propostas de pagamento que estejam dentro do seu orçamento. Não adianta entrar em uma renegociação de dívida que você sabe que não conseguirá cumprir.

Na visão de Silvio, a última preocupação deve ser o cartão de crédito, cheque especial e os empréstimos. "Caso a instituição financeira não queira renegociar a dívida com taxas de juros menores e uma carência de 60 dias, é melhor dever ao banco do que ficar com fome. É preciso descartar o que não é essencial, mesmo que o cliente fique com o nome ‘sujo’. Os bancos já têm bilhões e podem tomar prejuízo. Os clientes também podem conseguir bons descontos na posterior negociação", argumenta. 

O educador financeiro diz que o cliente também deve checar as tarifas de manutençã o das contas bancárias, anuidades e valores cobrados por transferências. “Se o cliente constatar que são preços altos, pode ser o momento de migrar para bancos digitais”, argumenta. 

O economista Newton Marques discorda sobre a postergação do pagamento das dívidas de cartões de créditos e do cheque especial. Ele pontua que as despesas com o juros maior devem ser priorizadas para que não virem uma bola de neve e tragam preocupações no futuro. 

"Se uma pessoa for pagar um custo exorbitante de cartão de crédito não vale a pena renegociar a dívida. Talvez uma saída é pegar dinheiro emprestado com uma instituição financeira porque os juros são mais baixos e quitar as dívidas de cartão de crédito", argumenta.

O administrador Vinícius Frias entende que mercado e contas básicas, como energia, água e internet, são prioridades. Ele pontua que no caso do aluguel há uma margem de negociação e o condomínio pode ter uma carência de até 90 dias para o pagamento. 

Frias complementa que no caso dos financiamentos, a dica é negociar um prazo de até três meses dentro da lei para efetivar o pagamento. "É usar o tempo ao seu favor e cortar supérfluos para não se desesperar mais a frente", diz. 

Para ele,  empréstimos e cartões de crédito não devem ser esquecidos é importante evitar o acúmulo da dívida. “Se a instituição financeira oferecer um parcelamento é fundamental negociar”, defende.

Já no caso do pagamento de escolas e faculdades, o cliente pode ficar uns meses em atraso e a instituição não pode expulsar o aluno até a renovação da próxima matrícula. Mas, é importante efetuar o pagamento assim que possível.

Evitar compras por impulso 

Para planejar a vida financeira em meio à pandemia, controlar os gastos e a impulsividade é essencial. Os econoistas alertam o trabalhador não deve deixar de comprar, mas sim estabelecer cotas que caibam no orçamento.

Se o consumidor tiver certeza de que deve comprar um item, anote em um papel ou uma planilha para acompanhar os custos. Compare preços, procure cupons online de desconto e serviços de cashback.

Especialistas em finanças pessoais criaram a regra 50-30-20, uma fórmula  que divide os gastos em três categorias:

- 50% para gastos essenciais, como moradia (aluguel, financiamento da casa, condomínio, água, luz, manutenção), educação, saúde, alimentação nos dias úteis e transporte;

- 30% para os gastos variáveis, supérfluos e do estilo de vida, como cuidados pessoais, celular, combustível do carro, academia, internet, TV a cabo, lazer, diversão, alimentação no final de semana e compras;

- e 20% para pagar dívidas e investir para metas de médio e longo prazos e para o futuro.

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